sexta-feira, 30 de julho de 2010

Acompanhantes Sexuais Diplomadas para Deficientes

Eles são enfermeiros, massagistas, terapeutas ou artistas. Têm entre 35 e 55 anos e foram formados para responder às necessidades sexuais de pessoas sofrendo de uma deficiência física. Uma tarefa delicada, sobretudo pelo facto de a sexualidade de deficientes ser geralmente rejeitada pela sociedade e alvo de fortes preconceitos.

Para responder às necessidades dos novos pacientes, a Associação Sexualidade e Deficiência Pluriels na Suíça francesa (SEHP) acaba de formar seu primeiro grupo de assistentes sexuais diplomados. Em breve, os seis homens e quatro mulheres irão acompanhar os vinte profissionais já activos na Suíça de expressão alemã, quebrando dessa forma um tabu duplo: o da sexualidade e da deficiência física.

O projecto começou em 2002, quando a organização de apoio Pro Infirmis elaborava um programa educativo nesse sentido. Na época, a novidade havia tido tal impacto mediático, que inúmeros doadores decidiram anular suas doações. A justificativa: muitos qualificavam a assistência sexual para deficientes como uma "forma latente de prostituição".

A consequência para a Pro Infirmis foi a perda de 400 mil francos em poucos meses e a decorrente decisão de interromper o projecto. Dois anos mais tarde, e seguindo o impulso da sua presidente Aiha Zemp – ela própria deficiente – a FABS decidiu retomar a ideia e inaugurou a primeira formação para assistentes sexuais. Hoje em dia, cinco anos após o lançamento, o balanço feito por Aiha Zemp é largamente positivo, mesmo se críticas ainda são ouvidas.

Rejeitado nos países católicos, como a Itália, esse trabalho está longe de ser um pioneirismo helvético. Outros países, como a Holanda, Alemanha e Dinamarca, também têm serviços semelhantes. Já nos anos de 1980, eram formadas nos Estados Unidos e no norte da Europa profissionais para apoiar deficientes nos seus desejos sexuais. O trabalho chega mesmo a ser custeado pelos seguros de saúde em alguns países escandinavos.

"Não temos um catálogo de apresentação", explica Catherine Agthe Diserens, presidente da SEHP. "Cada caso é único e deve ser avaliado separadamente para melhor compreender o que as pessoas que nos procuram necessitam e como podemos ajuda-las a se sentir melhor". Um diálogo que se constrói também através da ajuda de educadores e da família, a partir do momento em que o grau de deficiência o exige.

Da massagem erótica às carícias, até o strip-tease ou masturbação: o leque proposto é extenso e responde simplesmente às necessidades de uma intimidade geralmente reprimida e mesmo estigmatizada. "Cada assistente oferece com empatia e respeito um pouco de ternura contra uma remuneração que vai de 150 a 200 francos por hora", relata Catherine Agthe Diserens. "Por vezes, o trabalho é simplesmente descobrir o prazer de reencontrar uma funcionalidade perdida após um acidente, enquanto que, em outras circunstâncias, a relação pode ir até uma relação oral ou a penetração."

"Solicitar a ajuda de assistentes sexuais não é a solução para cada problema, mas isso permite cobrir um vazio, cuja existência até então era negada", lembra Aiha Zemp.

Ao contrário da prostituição, o acompanhamento sexual de deficientes só pode ser iniciado após um trabalho pontual de educação, orientado pelo respeito ao outro, pela ética e a escuta. "Os assistentes sexuais devem ser pessoas equilibradas, conscientes da sua própria sexualidade e não sentir desconforto com a deficiência. Além disso, eles devem manter outro trabalho a tempo parcial. Também é preciso informar os próximos da sua escolha profissional", detalha Dieserens.

"É uma experiência transtornadora. Colocamos tudo em questão: nossas ideias, nossa relação com o corpo e outros", revelava Jacques, um assistente sexual que acaba de receber seu diploma, durante uma entrevista à rádio.

Casado, pais de três crianças, Jacques relata que sua esposa apoiou sua decisão com naturalidade, sobretudo devido aos limites fixados por ele próprio desde o início: "Me dedico ao corpo, à pele, aos órgãos dessas pessoas. Não posso lhes negar massagens, carícias íntimas, mas não chego à penetração. O beijo – e o resto – está reservado a uma só pessoa bem determinada na minha vida."

A formação dura 18 dias, distribuídos por um ano, e acrescida de uma dezena de horas de trabalho em casa. Os custos chegam a 4.200 francos, o que mostra a motivação dos que escolhem o caminho.

Apesar do reconhecimento de muitos, a formação continua sendo difícil de explicar à família e até mesmo a si próprio. O fato de que, de um ponto de vista legal, o trabalho de assistente sexual seja assimilado à prostituição e esteja impregnado de uma conotação negativa não facilitam.

Mas para Aiha Zemp, esses profissionais estão apenas levantando o véu de um universo oculto, feito de desejos rejeitados e perturbações afetivas. Um mundo que deve ser abordado com um olhar diferente, ao se tratar de deficientes físicos. Uma diferença que tem um grande valor para aqueles que, como Jacques, conseguem transpor a deficiência e os temores que muitas vezes ela inspira para começar a escutar a necessidade íntima de ternura.

Fonte e noticia completa: deficiente-forum

10 comentários:

  1. Parabéns por abordar um tema que vai chocar os hipócritas.
    A prestação de um serviço necessário, útil, legal e acordado entre as partes parece-me bem.
    Os hipócritas podem sempre vender as suas verdades a quem as quiser comprar.

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  2. Também nada contra.
    Talvez para não chocar ninguém é que poucos países têm este tipo de serviço.
    Obrigado pela clareza com que dá a sua opinião.

    Fique bem.

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  3. Todo mundo tem direito de ser feliz e (re)descobrir os prazeres do próprio corpo. O tabu é muito grande quando o assunto é sexualidade das pessoas com deficiência. Infelizmente os próprios familiares acreditam que a PcD não tem interesse por sexo, namoro e casamento. Tratam a pessoa como se fosse assexuada.

    Abraços, meu amigo!

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  4. Muito complicado quando se trata de algo que sempre foi considerado pecado.

    Para muita gente, sexo ainda é pecado.

    Fica bem.

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  5. Eduardo,

    Achei o artigo muito interessante.

    Desconhecia esse tipo de serviço, de certa forma revolucionário, e ponto de partida para a quebra de barreiras que envolvem a sexualidade dos portadores de deficiência e a falsa moral burguesa.

    Tomei a liberdade de publicá-lo no meu blog, com os devidos créditos.

    Abraços!

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  6. Itárcio, é um prazer te-lo por aqui!

    Esteja sempre á vontade para copiar o que quiser.
    Também há em Espanha e noutros países, serviços idênticos. Só que mais pessoais.

    Fique bem.

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  7. Sai mais barato uma prostituta comum do que uma com diploma

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  8. Talvez porque uma é formada e a outra não...
    Fique bem

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  9. Diplomada ou não, o problema é que consiste em verdadeiro tabu o problema da sexualidade na deficiência, e o maior obstáculo consiste em que muitos não aceitam as barreiras em que vivem.

    A maneira melhor para lidar com o problema, é enfrentar a questão de frente e aproveitar as oportunidades, se virarmos as costas ao morro, ficamos nulos para sempre.

    Um artigo excelente Eduardo, já tinha lido isto, mas não aqui.

    Parabéns amigo.

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    1. Muito bem amigo Martinho. Pode ser que expondo nossas opiniões abertamente, como tu o fazes, as coisas mudem e os "hipócritas" deixem de o ser.
      Fica bem

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