domingo, 27 de março de 2011

Deficiência nos Censos

Em crónica de 17 de Março trouxe ao assunto os Censos de 2001. Ainda não conhecia o "Questionário dos Censos" de 2011.

Nesta quero chamar a atenção para a mais que certa indefinição dos resultados que virão a ser apurados pelos Censos de 2011, no que respeita à deficiência.

Vejamos: Os Censos de 2001 apuraram 636.059 pessoas com deficiência, representando 6,1% da população residente em Portugal, e tipificaram por tipo de deficiência: 25,7 % de deficiência visual; 24,6% motora; 13,2% auditiva; 11,2% de deficiência mental; 2,4% de paralisia cerebral e 23% de outras deficiências.

Quanto ao grau de incapacidade, os Censos de 2001registaram que mais de metade da população com deficiência não possuía qualquer grau de incapacidade atribuído. A população restante estava classificada por cinco níveis de incapacidade escalonados por percentagem.

No respeitante à ocupação, revelaram taxas de ocupação muito baixas, particularmente no respeitante à deficiência mental e paralisia cerebral.

Dava percentagens das pessoas com deficiência economicamente activas e os que viviam de pensões de reforma. E dava percentagens dos que viviam "a cargo das famílias".

Os dados apurados mereceram muitas reservas, porque se considerou que não retratavam a realidade social.

Os questionários para os Censos de 2011suscitam apreensões. Não foram feitos para clarificar o que nos de 2001 ficou por esclarecer.

Não me parece que possam radiografar a realidade social da deficiência quando o "Questionário" funciona por questões como: "Não tem dificuldade ou tem pouca" em ver; "Tem muita dificuldade" em ver; "Não consegue" ver. Os mesmos itens para o "ouvir", para o "andar e subir degraus", de "memória ou concentração", de "tomar banho sozinho", de "compreender os outros ou fazer-se compreender". Como enquadrar por aqui os graus de incapacidade, tipificados por percentagens?

Pelas respostas às questões não vamos ficar a saber a origem das "dificuldades" e o arrumar dos resultados só forçando nos dará a tipologia das deficiências. Fica de fora se a pessoa com deficiência alguma vez passou por um serviço que procedesse à classificação do grau de incapacidade.

Também o campo 23 do "Questionário Individual", por omissão de uma pequena explicação, conduzirá a resultados pouco ou nada clarificadores. Quantos conseguem viver com o rendimento de uma reduzida pensão? E o que fica a "cargo da família"?

As pessoas com múltiplas deficiências, situação muito frequente, também ficam às escuras.

Para clarificar algumas dúvidas do "Questionário Individual", servi-me da "Linha de apoio", (chamada grátis): 800 22 20 11, INE. Perante a complexidade das questões, transferiram a chamada para atendimento por técnico da especialidade. Quando apresentei os valores da pensão por "incapacidade permanente para o trabalho", recebi uma resposta de orientação: Se a "pensão" não chega", "responda-se que está "a cargo da família"". De facto está a "cargo da família".

Para clarificar as dúvidas sobre grau de incapacidade e tipologia da deficiência procuraram convencer-me que os Censos pretendem radiografar a sociedade nos aspectos mais globais. Para situações específicas da sociedade, será necessário utilizar outros meios de diagnóstico. Compreensível.

O informar das vidas das pessoas terá de passar por outros processos. A observação e a vivência dão outro conhecimento e despertam outro modo de ver e de sentir.

Para atingir esse objectivo, é necessário fazer sair do silêncio as pessoas com deficiência, para que se saiba como vivem.

É necessários que gritem alto para que se saiba que não aceitam pensões 207,06 congeladas.

Autoria: Miranda Manel

Fonte: Comunidade Sol

5 comentários:

  1. Eduardo,

    Quando será realizado o censo em Portugal?

    Espero que tenham mais sucesso com o Censo 2011, já que no Brasil foi decepcionante. O censo brasileiro, mais uma vez, foi realizado por amostragem (a cada dez residências o recenseador perguntava se havia alguém com deficiência) e não por dados reais. Após dez anos de espera continuamos sem saber o número real de pessoas com deficiência no Brasil! Lamentável!

    Abraços!
    Vera

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  2. http://aperoladanet.blogspot.com/2011/03/da-falta-de-senso-ou-de-vergonha.html

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  3. Vera, em Portugal isso não acontece. Embora não seja o ideal (no caso das várias deficiências), somos recenseados casa a casa, membro a membro.
    Fica bem

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  4. Eduardo:

    É só para lhe dar conta de que no post correspondente ao link que lhe enviei, no qual divulgo o texto respeitante ao Censo 2011 que aqui publicou, recebi, conforme pode ser verificado, uma ameaça velada de um anónimo, dizendo que falo demais. No post anterior, onde transcrevo um pequeno texto de Nicolau Saião sobre teatro, um qualquer Zé Nunes aconselha-o a escrever apenas sobre cultura e a evitar temas políticos.
    Como vê, este país continua igual a si mesmo.
    Abraço.

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  5. Gostei das suas respostas. Felizmente seu carácter e frontalidade é bem vincado. O amigo não é influenciável. Coragem também nunca lhe faltou, por isso somente lhes deve dar a importância que para si merecem.
    É triste ver que facilmente apontam o dedo, mas não se identificam.
    Fique bem e continue.

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