quarta-feira, 6 de abril de 2011

Úlceras de pressão: Investir na prevenção é o melhor remédio

Duas principais ideias estão na operacionalização dos ensinamentos da investigação em enfermagem ao Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Angra: a de que as úlceras por pressão não são um fenómeno natural e de que estas, além de sofrimento, trazem despesas evitáveis com comportamentos preventivos.

A certificação de qualidade em saúde desta valência passa também pela melhoria dos cuidados prestados nestas áreas.

"A principal mensagem é a de desmistificar a ideia de que as úlceras por pressão (UPP) são um processo natural em fim de vida. Porque não é. Elas são sempre resultado de algum desconhecimento ou falha nos cuidados, nomeadamente, ao nível da prevenção porque 95 por cento das UPP são evitáveis".

O alerta parte da docente da Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo (ESEnfAH), Universidade dos Açores (UA), Rosa Carvalhal, coordenadora do projecto/acção "A Incidência e Prevalência das UPP" no Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo, no âmbito da iniciativa comunitária ICE 2 (Investigação Científica em Enfermagem).

O segundo alerta vai para a gestão da patologia ao nível dos custos em saúde: "temos estudos que indicam que a prevenção sai mais barata que o tratamento".

Segundo um levantamento já feito neste centro geriátrico, existe uma taxa de 17 por cento de prevalência de UPP na instituição que acolhe cerca de 60 utentes.

Combater esta estatística, e o sofrimento a ela associada é, por isso, algo urgente a implementar não só nesta valência, refere, como em instituições que lidem com as populações vulneráveis aos problemas causados pela falta de mobilidade.

Família e enfermeiros

Esta é uma mensagem, ressalva a enfermeira, dirigida aos familiares que lidam com a situação, mas sobretudo, diz, "aos prestadores de cuidados de saúde, em particular aos enfermeiros".

"É preciso sobretudo prevenir: há imenso material de prevenção que até tem custos muito menores do que os do tratamento, sem falar na situação de grande sofrimento que as UPP causam à própria pessoa, à família e aos profissionais de saúde".

Em suma, reitera: "se é mais barato e traz menor sofrimento, vamos prevenir", sem esquecer que "é preciso abandonar a ideia de que é um fenómeno expectável na vida do ser humano".

Estas foram aliás as preocupações que levaram, na passada semana, à realização de uma acção de formação dirigida a cerca de vinte profissionais da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo com a especialista de renome internacional, Kátia Furtado, membro da ELCOS - Sociedade de Feridas e da European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP) que se deslocou à ESEnfAH.

Certificação de Qualidade

A criação de mecanismos e comportamentos preventivos da UPP enquadra-se igualmente numa lógica, mais alargada, de certificação de qualidade da própria instituição. "A SCMAH" está, neste momento, interessada em entrar num processo de certificação da qualidade e um dos aspectos também passa por essa problemática muito presente e que exige muita atenção".

Assim, e segundo a necessidades apuradas, Rosa Carvalhal refere que, entre outras medidas, é preciso criarem-se guide-lines de prevenção das UPP para o lar de idosos; que é necessário melhorar as condições ambientais, com melhoramentos, por seu turno, nos circuitos dos materiais limpos e dos contaminados; que é preciso apostar na disseminação do uso de materiais que evitam as UPP, como colchões adaptados, almofadas de apoio, protecções de proeminências ósseas; e que, ao nível do tratamento, é preciso optar-se por produtos à base de alginatos, prata, carvão, entre outros.

A enfermeira recorda, contudo, que as UPP, apesar de terem maior incidência e prevalência nos idosos, não são exclusivas desta faixa etária: "não é uma patologia exclusivamente dos idosos. Qualquer pessoa, desde a pediatria, e mesmo na neonatologia, até à geriatria que tenha, por qualquer razão, um processo de imobilidade corre o risco, se não houver cuidados de prevenção adequados, de desenvolver UPP".

Reduzir taxas de incidência

Rosa Carvalhal recordou o importante instrumento criado pelo ICE1, um manual de boas práticas para evitar as UPP "distribuído a todos os enfermeiros do Serviço Regional de Saúde", que foi recentemente reeditado com o apoio da secretaria regional da Saúde.

A especialista também relembra que do estudo de fundo feito no âmbito do ICE1, os Açores detinham uma taxa de prevalência de cerca de 7%: "uma média considerada muito boa e inferior às médias nacionais e mesmo dos países da Europa do Norte".

Contudo, o seu alerta vai no sentido de se aperfeiçoarem mecanismos e condutas que "reduzam ainda mais esse valor".

Até porque o estudo principal que, no actual ICE2 vai ser desenvolvido pelos parceiros do projecto da Macaronésia, vai para, disse, "o estudo do impacto económico das UPP" tanto ao nível dos cuidados prestados pelas famílias, como nos centros de saúde e nos hospitais.

Fonte: Deficiente Fórum

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