sábado, 29 de outubro de 2011

Minha história - 4ª parte

Dando continuação á minha história...


Sou transferido da clinica de Santo António, para o serviço de medicina física e reabilitação, do Hospital Curry Cabral em Lisboa, febre continuava, análises nada acusavam…até que dias depois ao fazerem-me a higiene detectam uma escara no trocânter direito em péssimo estado. Depois de intervencionada e limpa, restou um grande buraco que até osso se poderia ver através dele. Aí estava a resposta a todo o sofrimento que estava a passar. A infecção vinha de dentro. Entretanto tinha-me debilitado muito e foi necessário reabilitar-me com alimentação especial e transfusões de sangue, assim como esperar que escara estivesse pronta para ser reconstruida pela cirurgia plástica. Aconteceu, tiveram que me retirar um pouco do osso que já estava infectado, mas segundo me informaram na altura, fora esse facto a operação foi um sucesso. Certo é que naquela região, até agora não tive mais problema nenhum. Tenho é que explicar à maioria dos médicos o que aconteceu com o osso. Começam a olhar para exame e…”você tem aqui qualquer coisa…”.

Há praticamente 6 meses que não saia de uma cama, banho a sério nunca mais, era uma bacia com uma pouca de água, e com um panito húmido esfregavam-me o corpo. Alguns com a pressa esfregavam-me as partes genitais e o rosto com mesmo pano e água, lavar a cabeça era uma vez por mês. Nem imaginam a comichão que dava! Mesmo quando a lavavam era de faz de conta. Dentes impossível escovar…A hora da refeição também era um momento muito difícil nestes tempos de acamado e dependente. Técnica era mastigar rápido, sem tomar o gosto ao que me punham na boca, isto porque comida escolhida e dada pelos outros vem tudo o que gostamos e não gostamos. A gordura, peles…peixe, evitava pedir por causa das espinhas. Abria a boca, começava a mastigar, já tinha outra colher cheia encostada á boca. Era uma complicação. Outra coisa que me aborrecia era pedir para me limparem o nariz. Coçar-me não pedia. Disfarçava o pensamento. Começava a pensar noutra coisa. Ainda hoje o faço quando estou deitado e não chego onde sinto a comichão. Garanto que resulta. Alguns colegas tinham a sorte de ter família a morar por perto e na hora das refeições vinham dar-lhe a comida dali, ou trazida de casa. Mas eu e maioria eramos de longe. Eu não tinha quem me desse as refeições, mas tinha diariamente a visitar-me um anjo da guarda, era uma prima que trabalhava a uns 20 minutos do Hospital e aproveitava a hora do seu almoço para me visitar. Vinha a comer pelo caminho para poder estar comigo e um bolinho para me dar por ela, nunca faltava. Minha querida Carmita foi um apoio que jamais esquecerei. Não faltou um dia. Sempre alegre e bem disposta. Anos mais tarde confidenciou-me que aquela alegria era aparente. Que chegava à rua e começava a chorar. Ela foi muito importante para mim.

Tempo passou, escara cicatrizou e os levantos para uma cadeira de rodas muito esquisita (aquela com encosto muito alto) começaram. Fazer plano inclinado também. Deitavam-me numa estrutura parecida com uma maca e iam-na inclinando verticalmente todos os dias um pouco mais. Actualmente antes de nos levantarem vestem-nos meias elásticas de contenção, cinta abdominal e somos injectados constantemente com anticoagulantes. Em 1991 nada disso se usava. Tomei meu primeiro banho em vários meses. A água a escorrer pelo rosto foi revigorante. Sentia-me imundo e por mim até era esfregado com uma escova. A seguir tive outra grande alegria. Foi uma sensação indiscritível ver o sol, senti-lo…há uns 8 meses que não ia à rua. Chorei de emoção. Vi o mundo pela 1ª vez depois de tanto tempo. A partir dai todos as vezes que tivesse alguém que me empurrasse a cadeira, lá íamos para os jardins do Hospital. Estávamos em pleno verão.


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16 comentários:

  1. Ai eduardo como eu o compreendo sou mae de um tetra e sei o que é sofrer o meu filho desde quinta feira que esta algaliado ate ao dia 20 para fazer o istudo uridinamico porque teve uma infecçao urinaria e subiu aos rins nao teve fevre mas tinha vómitos e dores nos rins só que agora e depois de estar algaliado deves em quando fica a tranpirar e comdores nos testiculos estou farta de correr para médicos fique bem e com saude é o que eu lhe desejo celeste pinto

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  2. Celeste, mas seu filho não está a ser medicado? Para fazer o estudo deve estar com antibiótico e esses sintomas são de infeção urinária. Sinto muito por ele. Cuidado com o refluxo da urina até aos rins. É muito perigoso. Peça para ser feito eco aos rins e bexiga.
    Agora é beber muita água e ser seguido por urologista.
    Melhoras

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  3. sim ele tá a tomar furadantina e já fez eco aos rins nao tem pedra tem é os rins um pouco dilatados e agora que esta algaliado tem momemtos que trasnspira celeste

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  4. SEM PALAVRAS!! SABES QUE JA SOU TUA ADMIRADORA....E NÃO PÁRAS DE ME SURPREENDER...
    GRANDE EDUARDO :)
    UM ABRAÇO E MUITA LUZ
    Isa

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  5. olá eduardo permita que o trate assim tudo bem consiguo espero bem que sim eu celeste mae do bruno estou sempre aqui a ver se aprendo mais alguma coisa com o senhor eu gostaria que fosse ele o meu filho a faze lo mas ele é assim nao gosta de deste tipo de pesquisa causa lhe angustia e faz com que sofra mais está sempre muito triste apoio familiar nao lhe falta mas nada o alegra e entao agoa com este novo problema

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  6. Obrigado pelo carinho Isa!
    Mas a tua história também tem cada obstáculo ultrapassado...conheço algumas partes. Foste e és uma grande vencedora. Parabéns!
    Fica bem

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  7. Celeste, trate-me por tu. Prefiro.
    Se já está a fazer antibiótico há algum tempo e continua com suores e outros sintomas de infeção, é porque medicação não está a fazer efeito. Tem bebido muita água? Algália não fica obstruida nessas alturas? Pode estar a rejeita-la. É das de silicone ou amarelas? Mudou-a há muito tempo?
    Melhoras e disponha.

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  8. Olá Eduardo
    Também passei por tudo isso.
    Só tenho pena de só ter ido para o Curry trabalhar em Maio de 94.
    Estava então nesse serviço um jogador do Sporting o Yordanov.
    Podíamos ter-nos conhecido mais cedo e noutras circunstâncias para mim. Podia tê-lo ajudado como fazia a outros.
    Beijos e saudades

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  9. Agora é que percebi porque o comentário à 3ª não ficou visivel.
    Era mais ou menos isto:
    Não saber da nossa situação é por vezes uma benção. Eu sabia de tudo, não podia comunicar, mas sabia das asneiras que faziam. O sofrimento é atrós e a revolta...

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  10. Olá Helena, gosto muito de a ter por cá. Sabe disso.
    Não sabia que trabalhou no Curry! Sim, quando ia ás consultas ainda me cruzei com o Yordanov.
    E foi reabilitada lá?
    Entendo o que diz. Deve ser muito complicado ver alguns incompetentes e insensiveis a agirem assim e nada poder fazer.
    Fique bem

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  11. ola eduardo.ja basta de sofrimento.
    nao percas a coragem.
    um abraço:

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  12. Eduardo

    Quando a vida nos é facilitada, com mobilidade, faculdades mentais, estruturas do corpo funcionais a vida é muito mais facilitada! No entanto passamos a vida a lamentar-mo-nos, por coisas tão banais como saber que roupa vestir em tempo de chuva, no carro que tem um risco, no trabalho que hoje temos e amanhã é uma incógnita. Tudo tem uma razão de ser e certamente não estou aqui por acaso. Sou uma professora que aproveitou o tempo livre, já que não foi colocada, para tirar uma pós graduação em Educação Especial em Leiria. O curso teve início há duas semanas, mas a minha pesquisa muitos dias, muitas horas. Horas essas que me direcionaram até si e à sua história impressionante, de luta mas também de vitórias. As suas palavras relatam, dão vida ao que passou e por momentos vivi na pele do Eduardo, com "sofrimento",luta, esperança, e vitória, e com uma certeza ,a de que o Eduardo é um vencedor. Tenho 31 anos e as circunstâncias do meu ser dizem-me que temos que alterar a nossa mentalidade. Todos diferentes, todos iguais!
    Vânia Soares

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  13. Vânia, lamento pela sua situação e de muitos seus colegas. Espero que consiga ter sucesso na sua pós graduação.
    A vida prega-nos partidas e passamos por situações que jamais sequer equacionamos. O mais dificil é a maneira como somos desrespeitados pelo nosso Estado. Atualmente nem direito a uma reabilitação digna temos. Entrar num centro de reabilitação está uma meta quase impossivel. Ter uma simples almofada anti escaras, idem.
    Obrigado pelo seu comentário e fique bem.
    Eduardo

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  14. Gosto muito da maneira como relata sua história, Eduardo. Muito sincero, valente e espirituoso, pois mesmo com o sofrimento pelo qual passou escreve de uma maneira descontraída.
    Adorei saber um pouco mais da sua história.

    Abraços!

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  15. Obrigado Vera!
    No inicio incomodava-me um pouco escrever com minhas limitações. Agora nem tanto. Escrevo como sei. Interessa é passar a mensagem e que me entendam e isso parece acontecer.
    Fica bem

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