quarta-feira, 4 de abril de 2012

Simplesmente Carol

Anne Caroline Soares nasceu em Março de 1978, em São Carlos, no interior de São Paulo, no Brasil. Viveu ainda em Rio Claro – também no interior de São Paulo – e Piracicaba, onde frequentou o Colégio CIQ e o Colégio Salesiano Dom Bosco. Veio para Portugal em Março de 1992. Licenciou-se em Comunicação Organizacional pela Escola Superior de Educação de Coimbra, tendo realizado o estágio na estação de televisão TVI em Lisboa. Em Janeiro de 2002 começou a trabalhar como delegada comercial numa empresa em Coimbra. O seu percurso pessoal e profissional alterou-se drasticamente quando em Maio desse mesmo ano sofreu um acidente de viação que a deixou tetraplégica. Teve de reaprender a viver. Fez, então, durante dois anos, um estágio na Biblioteca Municipal de Espinho e esteve outros dois anos no Centro Multimeios de Espinho, onde contava histórias às crianças das escolas. Foi assim que nasceu a vontade de começar a escrever para elas. Surgem os livros Joquinha na Cidade do Miau eJoquinha na Nuvem Mafalda, ambos editados pela Papiro Editora. As atividades de Anne Caroline Soares podem ser acompanhadas no blogue: http://carol-blogspoot.blogspot.com/

Livros & Leituras ─ Viveu toda a sua infância no Brasil, com certeza conheceu um pouco da literatura infantil de lá. Quais as diferenças entre a realidade portuguesa e a brasileira nessa área?

Anne Caroline Soares ─ No Brasil, tenho como referência o grande escritor Monteiro Lobato do Sítio do Pica-pau Amarelo, um clássico da literatura infantil brasileira e cuja leitura se destaca por ser formativa e informativa. Ainda não li em Portugal uma obra infantil com as mesmas caraterísticas que tem a deste autor. Com excepção do Monteiro Lobato não noto diferenças entre os escritores da literatura infantil portuguesa e brasileira.

L&L ─ A literatura, nomeadamente a literatura infantil, teve algum papel relevante no seu desenvolvimento pessoal e profissional, ou apenas ganhou importância quando teve de se relacionar de perto com crianças?

ACS ─ Teve um papel relevante no meu desenvolvimento pessoal, pois quando era criança os meus pais contavam-me sempre muitas histórias. No âmbito profissional, aumentou de importância quando tive um contato mais ativo com as crianças.

L&L ─ É impossível não falar no seu estado de tetraplégica, uma vez que isso fez com que reaprendesse a viver. Nos seus livros, assim como nas actividades que realiza, tenta sensibilizar não só as crianças mas também os adultos para as pessoas com limitações. Acha que pode fazer a diferença?

ACS ─ Só não acho, como tenho essa convicção. E quero que tanto as crianças como os adultos se consciencializem da importância desta causa. Todos podem, de alguma forma, fazer a diferença, mesmo com pequenos gestos no dia-a-dia. Ser deficiente não tem obrigatoriamente de ser sinónimo de incapacidade. E se eu puder contribuir, a trabalhar com as crianças, a formar novas gerações com um espírito e uma mentalidade mais abertos, então, o meu trabalho valeu a pena.

L&L ─ O seu livro Joquinha na Cidade do Miau fala de um gato que fica em cadeira de rodas. Sentiu necessidade de personificar a sua própria experiência no gato para melhor passar a sua mensagem?

ACS ─ Sim. É através do livro que quero passar a mensagem de que os deficientes são tão úteis quanto os não deficientes e por isso devem ter as mesmas oportunidades de trabalho.

L&L ─ Alguma vez notou que o facto de ser tetraplégica foi motivo de discriminação ou de ser preterida nalguma actividade?
ACS ─ Infelizmente já. Por estar tetraplégica julga-se que eu não sou capaz. E é bem ao contrário. Foi prometido e até garantido que seria contratada no Centro Multimeios de Espinho após o término do estágio não remunerado. Até hoje não houve mais feedbackpor parte desta entidade.

L&L ─ Em Joquinha na Nuvem da Mafalda, Joquinha é levado até às nuvens, onde conhece personagens que enfatizam o respeito e a solidariedade. É sua intenção de que todas as histórias que escrever sejam, de alguma forma, moralizantes?

ACS ─ Para já sim. Não quer dizer que não escreva uma história de conto de fadas. Mas acho fundamental educar através das histórias, incentivando a leitura e a educação.

L&L ─ Costuma ir a escolas e bibliotecas. Que importância tem para si o contato com as crianças e com o público em geral?

ACS ─ Importantíssima. É com as crianças que me sinto bem. E o contato com o público é de vital importância para mim, porque necessito de estar com as pessoas, observar o seu comportamento, até mesmo para me inspirar.

L&L ─ Em que outros eventos gostaria de participar no âmbito da literatura?

ACS ─ Feiras do Livro, colóquios, seminários, workshops… Estou receptiva a eventuais convites.

L&L ─ Sabemos que foi difícil editar, apenas o conseguiu porque não desistiu. O que pensa que teria de mudar para ser mais acessível a edição em Portugal?

ACS ─ Maior interesse por parte das editoras em avaliar originais dos autores que ainda não são conhecidos. Além disso, as editoras que se interessam impõem uma importância económica ao autor, muitas vezes, inaceitável. Penso que as condições para com os novos autores deveriam ser bem mais razoáveis.

L&L ─ Ambos os seus livros são ilustrados. Fale-nos um pouco sobre os respectivos ilustradores e que contribuição deram as ilustrações aos livros.

ACS ─ São, e faço questão que sejam ilustrados. Os ilustradores são fundamentais, são eles que dão vida ao texto. O ilustrador do livro Joquinha na Cidade do Miau foi o Ricardo Ladeira, que é aluno da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Maria de Palma ilustrou o livro Joquinha na Nuvem da Mafalda e é formada pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa.

L&L ─ Que novos projetos tem para edição?

ACS ─ Tenho o meu terceiro conto pronto, intitula-se Joquinha e a Coruja Felizberta, em que uma das personagens é um menino negro e outra é uma menina “gordinha”, num enredo bem cativante. Uma história para ensinar e encantar os nossos futuros adultos. Procuro propostas para editá-lo. Assim como para os meus outros livros, pois a primeira edição do Joquinha na Cidade de Miau já esgotou.

L&L ─ É natural que continue a manter um vínculo afetivo com o Brasil. Gostaria que os seus livros aí fossem distribuídos?

ACS ─ Sim, e não apenas pelo grande vínculo afetivo que tenho pelo país onde nasci, mas quero que os meus livros cheguem a um maior número de pessoas (não só crianças, mas também adultos).

L&L ─ Depois de ter visitado o site da revista “Livros & Leituras”, que opinião tem deste projecto editorial?

ACS ─ Fabuloso! Fiquei fascinada com a qualidade dos artigos, das entrevistas e de toda a informação literária. É, desde já, um dos meus sites favoritos.

5 comentários:

  1. o que posso falar dessa pessoa incrivel que é a Carol, so posso desejar-lhe coisas boas e que a sua força de vontade e determinação sempre caminhem ao seu lado , eu como amiga e admiradora da obra da Carol estou tentando ajuda-la da forma que posso, mas a minha vontade mesmo é tentar divulgar sua obra aqui no Brasil, mas não sei como, estou tentando , e não vou desistir nunca, tenho que certeza conseguirei alguma coisa mesmo que custe um tempo.Mas eu como amiga da Carol e brasileira gostaria de enfatizar que a editoras e mesmo as entidades Portuguesas dessem mais apoio e credibilidade as pessoas com deficiencia, isso sim seria importante para a auto afirmação e
    sustentabilidade dessas pessoas,Bom não sei se fui objetiva mas é o que penso, Qto a Anne Caroline Soares, tenho fé e certeza que ela vai conseguir chegar aonde quer e merece!!!!!!!!!!!!


    Rosana Lazaro

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    1. Rosana, bom ter-te por aqui. Eu sei o quanto a Carol te é querida. Certamente ela terá o mesmo carinho por ti.
      Seria óptimo se pudesses lançar os livros dela no Brasil. Bonito teu gesto. Assim devem agir os amigos.
      Quanto a darem-nos oportunidades baseados nas nossas capacidades e não esmolas aos coitadinhos, infelizmente um grande e longo caminho ainda há a percorrer, mas só agindo como a Carol o está a fazer se vai lá. Mostrar que existimos e que nossas capacidades continuam intactas.
      Fica bem

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  2. E é linda a Carol!!!!
    Beijinhos,
    Madalena

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  3. Olha eu...no blogue do meu querido amigo Edu! Obrigadooooo.Os deficientes são muito úteis em todas as areas da sociedade! Nossa batalha está no inicio..mas chegamos lá! beijos Carol

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