domingo, 28 de setembro de 2014

Vida Independente por Mariana Falcato Simões

Aqui há uns anos o meu pai, depois de vir de uma palestras no estrangeiro, quando me contava o que por lá se tinha passado deixou-me a pensar. 
O meu pai anda numa cadeira de rodas desde que eu tenho 10 dias de idade, sempre o conheci assim, é normal. Eu sei que isto provavelmente só é normal para mim, mas esta realidade, entre outras coisas, semeou em mim um conceito de normalidade muito alargado desde criança.

Ele vinha da Suécia, tinha conhecido o fundador do Instituto de Vida Independente e falava de coisas que nunca me tinham passado pela cabeça. Lá, num mundo onde as coisas funcionam um ‘cadito melhor do que em Portugal, as pessoas com deficiência tinham apoios estatais para contratar assistentes pessoais. E esta assistência ia desde as necessidades básicas que facilmente nos vêem à cabeça como ajuda na sua higiene pessoal, tomar banho, vestir, comer, como para tarefas que muitas pessoas julgam que uma pessoa com deficiência não faz como sair de casa para ir trabalhar ou ir a um cinema. Mas confesso que o que me bateu “forte” foram as tarefas do dia-a-dia como abrir a correspondência, fazer o jantar, cuidar dos filhos, ir a uma loja comprar roupa. Há sempre alguém que ajuda não é? A mãe, a mulher, o marido, um amigo, aqui neste País do desenrasca e dos bons costumes.

A malta desenrasca, mas viver e ser feliz não é desenrascar catano!

Qual é o adulto de 40 anos que gosta que a sua mãe ainda lhe dê banho? Como fica a intimidade de um casal em que um deles trata das feridas e das escaras do outro? Como é possível que haja pessoas que vivem fechadas em casa porque a casa que conseguem pagar não tem elevador? Porque é que há pessoas neste país que não estudam porque não conseguem chegar à Faculdade? Acreditam que há pessoas que chegam diariamente atrasadas ao trabalho apenas porque a ajuda que têm para sair da cama se atrasa?

As mães não são mulheres a dias. As esposas não são enfermeiras. Os amigos não são chauffeurs.

O meu pai é normal, não é deficiente. O meu pai tem uma deficiência, o que torna a sua vida diferente da minha, e grande parte dos dias torna a sua vida mais difícil que a minha.

Lutar por uma VIDA INDEPENDENTE não é sair de casa dos pais aos 18. Lutar por uma VIDA INDEPENDENTE é defender o direito das pessoas com deficiência de a VIVEREM na total e verdadeira acepção da palavra.

Mais info: http://www.noticiasaominuto.com/pais/280725/deficientes-indignados-garantem-apresentacao-de-proposta

Por Mariana Falcato Simões, filha do Jorge Falcato Simões 

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