sábado, 6 de janeiro de 2018

Deixou a filha tetraplégica, mas julgamento foi anulado outra vez

Foi anulado pela terceira vez o julgamento do ex-fuzileiro que baleou a filha médica, deixando-a tetraplégica.

O caso remonta a Abril de 2011 e o agressor continua em liberdade, depois de ter cumprido o período máximo de prisão preventiva, que são dois anos. O antigo fuzileiro não gostava do namorado da filha, e foi na sequência de uma discussão com a jovem de 26 anos que a alvejou quando ela se encontrava no seu apartamento no Feijó, no concelho de Almada.

A vítima morava no Feijó com o progenitor desde que este se divorciara da mulher, tinha a jovem 13 anos. Mas saíra da casa paterna há escassos três meses, para tirar a especialidade no Hospital de Évora. Foi na capital alentejana que conheceu o namorado, um operário fabril divorciado. O antigo militar não gostou da notícia: idealizara para a filha, cujos passos sempre controlara até ali, um casamento com um médico ou então com um juiz . “Tinha feito sacrifícios económicos para que nada faltasse à filha", relata a sentença em que, no Verão de 2012, o tribunal de Almada o condenou a 17 anos de cadeia e ainda ao pagamento de uma indemnização de 107 mil euros à médica.
Canalizou frustração para a filha

Os juízes descreveram-no como uma pessoa conservadora. Dizem que canalizou para a rapariga a frustração de ele próprio não ter prosseguido estudos, por a situação económica não lho ter permitido. Reformou-se antecipadamente para poder tomar conta dela a tempo inteiro. Em tribunal, a jovem médica viria a admitir que andava a tentar libertar-se lentamente do seu controlo absoluto, nem sempre lhe atendendo os telefonemas para que não percebesse que saía à noite ou com quem estava.

No dia do crime tinha combinado almoçar com ele, mas acabou por o fazer em casa dos pais do namorado, em Évora, sem o avisar. Foi a gota de água para o antigo militar. Sentiu-se desrespeitado e abandonado, “considerando que a filha o estava a trocar por aquelas pessoas”. Quando por fim chegou ao pé dele a discussão estalou, como de resto ela já temia.

O ex-fuzileiro foi buscar uma pistola e disparou. Três dos quatro tiros atingiram-na, confinando-a para sempre a uma cadeira de rodas. O quarto disparo terá acertado no tecto.

Na opinião da psiquiatra que o acompanhou na cadeia, na altura do crime o arguido sofria de uma perturbação depressiva profunda, causada por ciúmes obsessivos e pelo medo de ser abandonado, o que diminuía a sua imputabilidade. A gravação do depoimento da especialista em tribunal acabou, porém, por não ficar audível. Daí que o Tribunal da Relação de Lisboa tenha na passada semana mandado reabrir a audiência de julgamento, para que a médica seja novamente ouvida e a sentença redigida pela quarta vez.

“Queremos uma punição, mas uma punição que seja justa”, diz o advogado do antigo militar, Gameiro Fernandes, segundo o qual a condenação não levou em linha de conta nem o testemunho daquela psiquiatra nem o facto de um dos disparos ter acertado no tecto, o que na sua opinião mostra o estado de descontrolo em que se encontrava o seu cliente, que sabia atirar. O advogado defende que o arguido disparou contra a filha num momento de desespero e sob forte comoção, e promete recorrer da nova sentença se o ex-fuzileiro voltar a ser condenado a 17 anos de prisão.

Fonte: CM

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