segunda-feira, 4 de junho de 2018

A minha viagem no comboio Alfa Pendular

Um pequeno resumo da minha experiência ao viajar no comboio Alfa Pendular.

Há algum tempo que tencionava experimentar viajar de comboio. As complicações são tantas pela parte dos Comboios de Portugal (CP) que ainda não o tinha feito desde que me desloco em cadeira de rodas. No distrito de Santarém onde resido, a única estação que me permite embarcar e desembarcar com apoio através do SIM-Programa Integrado de Mobilidade, um serviço disponibilizado pela CP a pessoas com mobilidade reduzida, é a do Entroncamento, e a única alternativa para quem utiliza cadeira de rodas, é o comboio Alfa Pendular, mas com muitas restrições. 

Apoio no desembarque e embarque funciona durante o fim-de-semana entre as 8h00 e 21h00. Segunda a sexta feira somente entre as 9h00 e 18h00. Mas acontece que o único comboio diário chega ao Entroncamento às 21h00. Se os serviços de apoio disponíveis para pessoas que se deslocam em cadeira de rodas encerram às 18h00, ficamos sempre dependentes de aprovação ou não do apoio por parte da CP.

Nos comboios urbanos não existe acesso, e no Regional InterRegional são poucas as estações nacionais que nos permitem viajar, e as poucas que o permitem, o SIM nessas estações só funciona durante algumas horas, e durante os dias úteis. Para se ter uma ideia do quanto somos discriminados, somente a estação de Santa Apolónia em Lisboa permite o acesso a todos os comboios (urbanos, alfa pendular e regionais). Mas só poderemos viajar se avisarmos a CP com 24 horas de antecedência.

Resolvi arriscar e fazer a viagem entre a estação de Santa Apolónia em Lisboa, e a do Entroncamento. Fi-lo porque tinha acompanhante. Como não me encontro perto de nenhuma estação para adquirir o bilhete presencialmente, fi-lo via on-line. Pagamento só pode ser efetuado através de cartão de crédito ou paypal. Lugares são atribuídos automaticamente. Contato via e-mail e preencho o respetivo formulário que consta no site, a solicitar apoio no desembarque e embarque ao abrigo do Programa SIM, mas respostas não obtive.

Como prazo de 24 horas obrigatório para solicitar apoio, estava a esgotar-se, resolvo ligar para a linha telefónica de apoio, cujo número inicia em 707 e por isso é pago, mas fui logo avisado que deveria continuar a aguardar um contato telefónico. Depois de alguma insistência, e explicar que faltava menos de uma hora para se esgotar o prazo, lá me deu outro número de telefone, também iniciado em 707 para ligar. Fi-lo, e ao começar a explicar a situação sou interrompido pela telefonista, dispara que conhece o meu caso, pois foi ela que me tinha acabado de atender na outra linha.

Depois de muito insistir cedeu ao meu pedido e registou o pedido de apoio, assim fiquei com a certeza que tinha acontecido dentro do prazo. Mais tarde fui contatato pela linha de apoio, e pedido de apoio no embarque e desembarque ficou efetivado. Uma hora antes do embarque, recebo um telefonema de um funcionário da CP a questionar-me onde me encontrava, e a informar-me que lhes tinha criado um problema por ter escolhido o nº do meu bilhete e acompanhante. Que tinha mais uma pessoa em cadeira de rodas para embarcar com destino ao Porto, e o nº que adquiri para a minha acompanhante deveria ser utilizado por esse passageiro. Que atrapalhei tudo.

Respondo que estou a chegar á estação e que nº de bilhetes quando adquiridos via online, são atribuídos automaticamente pelo sistema. Somente segui as instruções e cliquei em “lugares prioritários” como solicitado, e selecionei o meu grau de incapacidade (+ 80%) para beneficiar dos 75% desconto no valor do bilhete, e 25% da acompanhante. Respondeu que não sabia onde colocar o outro passageiro e acompanhante, mas que iria tentar resolver o problema.

Ao chegar á estação informou-me que estava a resolver o problema. Ao avançar vejo que o outro passageiro que referia é o amigo Jorge Jesus, também participante na Marcha Pela Vida Independente realizada no dia anterior em Lisboa, e que por o comboio só permitir transportar 2 passageiros em cadeira de rodas em cada viagem, teve de ficar em Lisboa como eu, para seguir no dia seguinte. Viemos juntos, foi agradável, mas quem pagou as “favas” foi ele. Transferiram-no para uma poltrona, lugar reservado automaticamente online para a minha acompanhante, e a minha acompanhante foi a viagem toda num lugar que não lhe pertencia com receio que surgisse o verdadeiro titular.

No Entroncamento correu tudo bem, e os acessos funcionam. Pena só existirem 2 lugares, espaço disponível para as cadeiras de rodas ser minúsculo, pouco seguro (vim sem fixadores), serviço SIM só existir em poucas estações e comboios, o contratempo do método de pagamento, ter de avisar com 24 horas de antecedência e só existir uma viagem diária às 8 da manhã e outra às 8 da noite.

Mais informações sobre o SIM - Serviço Integrado de Mobilidade.

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