Porque será que os meus sonhos não seguem a lógica da minha vida real? Neles percorro ruas, subo escadas, nado, conduzo, corro, jogo futebol, mas a minha companheira do dia a dia desaparece. Isso já me fez refletir bastante. Será uma negação da minha condição? Um desejo secreto de voltar a andar? Não. Isso penso que não será. Sempre fui muito objetivo, realista e prático. Eu nunca a rejeitei, nunca a olhei como um problema, e o meu inconsciente sabe disso. Respeito-a demais. Pelo contrário, ela ajuda-me a resolver muitos problemas. Ficar sem ela é sinónimo de cama, parar, exclusão. Nestas circunstâncias não me vejo a viver sem ela.
Fez em fevereiro último, 34 anos que me desloco em cadeira de rodas, e não vejo nisso nenhuma tragédia, e nem é, e nunca foi razão para lamentação. Provavelmente os sonhos têm regras próprias. E os meus também. Para mim, talvez sejam apenas ecos das minhas memórias antigas, registos guardados de quando andava. Uma imagem corporal que foi construída pelo meu inconsciente ao longo da minha vida. Ou talvez seja o meu cérebro a recordar uma possibilidade entre tantas, ou quem sabe, ainda não se tenha dado conta que me desloco em cadeira de rodas. Além disso, nos sonhos, já me aconteceu experimentar uma sensação de liberdade sem limitações físicas, voar livre. Quem sabe não ser essa a ideia, manter a liberdade plena. Pois, e assim as minhas questões continuam sem resposta.
O que interessa é que a minha cadeira não é um símbolo de limitação para mim, mas de liberdade. Leva-me aonde consigo ir, faz parte de quem sou. E tenho a certeza de que uma noite, o meu cérebro a aceitará, e também a incluirá nos meus sonhos. Nessa noite, ela será bem-vinda. Até lá, continuarei livre como se a cadeira de rodas nunca tenha existido. Que assim seja.
Fez em fevereiro último, 34 anos que me desloco em cadeira de rodas, e não vejo nisso nenhuma tragédia, e nem é, e nunca foi razão para lamentação. Provavelmente os sonhos têm regras próprias. E os meus também. Para mim, talvez sejam apenas ecos das minhas memórias antigas, registos guardados de quando andava. Uma imagem corporal que foi construída pelo meu inconsciente ao longo da minha vida. Ou talvez seja o meu cérebro a recordar uma possibilidade entre tantas, ou quem sabe, ainda não se tenha dado conta que me desloco em cadeira de rodas. Além disso, nos sonhos, já me aconteceu experimentar uma sensação de liberdade sem limitações físicas, voar livre. Quem sabe não ser essa a ideia, manter a liberdade plena. Pois, e assim as minhas questões continuam sem resposta.
O que interessa é que a minha cadeira não é um símbolo de limitação para mim, mas de liberdade. Leva-me aonde consigo ir, faz parte de quem sou. E tenho a certeza de que uma noite, o meu cérebro a aceitará, e também a incluirá nos meus sonhos. Nessa noite, ela será bem-vinda. Até lá, continuarei livre como se a cadeira de rodas nunca tenha existido. Que assim seja.
Minha crónica no jornal Abarca
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