sábado, 21 de outubro de 2023

Turismo com Propósito Social

Viajar em cadeira de rodas implica uma grande logística. Na maioria das vezes “compra-se” um produto e chegados ao destino nada é como descrito e previsto e temos de voltar para trás. Por isso, sempre que me é possível aproveito os eventos organizados pela Associação Salvador. Assim não há surpresas. Sei que tudo foi preparado e pensado por uma equipa experiente e conhecedora das nossas necessidades. Foi o que aconteceu. Acompanhei a sua imbatível e profissional equipa até á região de Miranda do Corvo. Ficamos hospedados no Hotel Parque Serra da Lousã situado no Parque Biológico da Serra da Lousão onde se encontra também o Restaurante Museu da Chanfana; loja de Artesanato do Museu Vivo de Artes e Ofícios Tradicionais; Museu Espaço da Mente; Museu da Tanoaria e Quinta com vários animais domésticos, centro equestre, viveiro de plantas e muito mais.
Hotel e Parque Biológico pertencem á Fundação ADFP – Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional. Uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, que se dedica à integração laboral de pessoas com deficiência. Em residências, a Fundação ADFP apoia mulheres/mães em situação de pobreza, crianças “sem família”, jovens e adultos com deficiência ou doença mental, idosos doentes em fim de vida, refugiados e pessoas “sem-abrigo”, e também presta serviços na área da educação, cultura, assistência social e de saúde de apoio à comunidade. O Conímbriga Hotel do Paço em Condeixa-A-Nova, também pertence à Fundação ADFP com as receitas a reverterem para a obra da Fundação.

Ambos os hotéis possuem quartos adaptados para pessoas com mobilidade reduzida, e o parque biológico é acessível. Encontrei fauna autóctone portuguesa (lobos, urso pardo, raposas, ginetas, sacarrabo, aves, répteis, coelhos, ratazanas, javalis, texugos, ouriço, veados, linces e dois lamas. Pelo que vi os lamas são os únicos animais que não pertencem à nossa fauna. Foram recolhidos para evitar serem abatidos. Não sou dos que apreciam visitar animais em cativeiro, mas os existentes no parque foram considerados irrecuperáveis para voltar a viver no seu habitat natural. Foram encontrados em más condições, recuperados, e entregues aos cuidados do parque. Em relação aos lamas penso que após serem utilizados como cobaias em pesquisas, infelizmente deixaram de ter utilidade e foram descartados. Todo o parque é acessível a pessoas com mobilidade reduzida e existem vários espaços para conviver, descansar e fazer um belo piquenique.

O restaurante de serviço ao hotel é o Museu da Chanfana localizado no parque. Como estava na designada capital da Chanfana (Miranda do Corvo) não podia deixar de experimentar o famoso prato. Esperava mais. Estava pouco apurado e os grelos que foram substituídos por folhas de nabiça podiam estar mais cozidas.

Ainda deu para visitar a aldeia do Candal inserida na rota das aldeias do xisto, e descer a Serra da Lousã em cadeira de rodas com a preciosa ajuda da ARCIL-Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã, para além da companhia do grupo, foi um privilégio contar com os excelentes guias da ARCIL onde se incluía a Srª Rosa e Srº António companheiros durante grande parte do percurso, com a sorte da D. Rosa ser natural da aldeia do Candal e ter partilhado com muito prazer as suas vivências de infância naquela aldeia. O Ricardo, o Sr Luis, o Tiago e outro apoiante que infelizmente não me recordo do nome foram incansáveis e tudo fizeram para que a descida funcionasse na perfeição. E a Susana, motorista do autocarro da Tourism For All, um operador turístico/agência de viagens especializado em turismo acessível e turismo sénior! Que “mãozinhas” para conduzir…

Não posso deixar de referir o projeto “Vitivinicultura com Propósito Social” também da Fundação ADFP, vinhos muito medalhados que tivemos o prazer de provar e conhecer melhor com a preciosa ajuda do enólogo Gonçalo Moura da Costa. Projeto que emprega 25 pessoas com deficiência física e mental. Eu gostei muito do branco “Terras de Sicó” e do “Monte Isidro” tinto.

Sem dúvida que gostei muito do Parque e da Serra, mas mais ainda do convívio com o grupo. 26 pessoas com deficiência e penso que seis voluntários. A eles voluntários, um enorme e sentido agradecimento de gratidão. Á Associação Salvador um pedido. Não deixem de continuar a proporcionar estes momentos a muitos que sem a vossa ajuda continuariam fechados em casa.

Minha crónica no jornal Abarca

Desígnios de Vida Independente no Entroncamento

No próximo dia 24 de outubro de 2023, no âmbito do Dia Municipal para a Igualdade, o Centro de Apoio à Vida Independente do Centro de Ensino e Recuperação do Entroncamento, em parceria com a Câmara Municipal do Entroncamento, irá promover o Painel "Desígnios de Vida Independente"-, na qual serão abordadas temáticas sobre o desenvolvimento efetivo do paradigma da vida independente em Portugal, na voz de quem o vive na primeira pessoa, em articulação/debate com elementos políticos de relevo a nível distrital.


Eu: Serei um dos moderadores.