domingo, 28 de setembro de 2014

Vida Independente por Mariana Falcato Simões

Aqui há uns anos o meu pai, depois de vir de uma palestras no estrangeiro, quando me contava o que por lá se tinha passado deixou-me a pensar. 
O meu pai anda numa cadeira de rodas desde que eu tenho 10 dias de idade, sempre o conheci assim, é normal. Eu sei que isto provavelmente só é normal para mim, mas esta realidade, entre outras coisas, semeou em mim um conceito de normalidade muito alargado desde criança.

Ele vinha da Suécia, tinha conhecido o fundador do Instituto de Vida Independente e falava de coisas que nunca me tinham passado pela cabeça. Lá, num mundo onde as coisas funcionam um ‘cadito melhor do que em Portugal, as pessoas com deficiência tinham apoios estatais para contratar assistentes pessoais. E esta assistência ia desde as necessidades básicas que facilmente nos vêem à cabeça como ajuda na sua higiene pessoal, tomar banho, vestir, comer, como para tarefas que muitas pessoas julgam que uma pessoa com deficiência não faz como sair de casa para ir trabalhar ou ir a um cinema. Mas confesso que o que me bateu “forte” foram as tarefas do dia-a-dia como abrir a correspondência, fazer o jantar, cuidar dos filhos, ir a uma loja comprar roupa. Há sempre alguém que ajuda não é? A mãe, a mulher, o marido, um amigo, aqui neste País do desenrasca e dos bons costumes.

A malta desenrasca, mas viver e ser feliz não é desenrascar catano!

Qual é o adulto de 40 anos que gosta que a sua mãe ainda lhe dê banho? Como fica a intimidade de um casal em que um deles trata das feridas e das escaras do outro? Como é possível que haja pessoas que vivem fechadas em casa porque a casa que conseguem pagar não tem elevador? Porque é que há pessoas neste país que não estudam porque não conseguem chegar à Faculdade? Acreditam que há pessoas que chegam diariamente atrasadas ao trabalho apenas porque a ajuda que têm para sair da cama se atrasa?

As mães não são mulheres a dias. As esposas não são enfermeiras. Os amigos não são chauffeurs.

O meu pai é normal, não é deficiente. O meu pai tem uma deficiência, o que torna a sua vida diferente da minha, e grande parte dos dias torna a sua vida mais difícil que a minha.

Lutar por uma VIDA INDEPENDENTE não é sair de casa dos pais aos 18. Lutar por uma VIDA INDEPENDENTE é defender o direito das pessoas com deficiência de a VIVEREM na total e verdadeira acepção da palavra.

Mais info: http://www.noticiasaominuto.com/pais/280725/deficientes-indignados-garantem-apresentacao-de-proposta

Por Mariana Falcato Simões, filha do Jorge Falcato Simões 

Carta aberta entregue ao Sr Secretário de Estado do MSSS após a viagem de protesto por uma Vida Independente

Exmo Sr. Secretário de Estado da Solidariedade e Segurança Social Agostinho Branquinho.

Como deve estar recordado, há quase um ano, anunciei que iria entrar em greve de fome até ter garantias que iria ser iniciado um processo legislativo que garantisse uma Vida Independente às pessoas com deficiência que, tal como eu, necessitam de apoio para cumprir as tarefas do dia-a-dia.

Por proposta sua, reuni consigo, estando presentes também representantes do Movimento (d)Eficientes Indignados (MDI). Nessa reunião explicámos o conceito de Vida Independente. Sublinhámos os pontos que consideramos indispensáveis para desenvolver uma política que promova a autonomia e o direito a uma vida digna fora das instituições, tais como o pagamento directo às pessoas com deficiência da quantia necessária à contratação dos assistentes pessoais e a liberdade na escolha da pessoa que presta assistência.

Defendemos uma política em que a pessoa com deficiência seja dona sua própria vida, com a possibilidade de decidir onde, como e com quem viver. Uma política que inverta a tendência institucionalizadora seguida até aos dias de hoje pelos sucessivos governos.

Não estamos sozinhos nesta pretensão. A Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, ratificada por Portugal, é clara na recomendação da implementação da Vida Independente. E, como sabe, esta é também uma orientação da Comunidade Europeia para a aplicação dos fundos do próximo quadro comunitário de apoio.

Após a referida reunião, interrompi a greve de fome que estava disposto a prosseguir até às últimas consequências, porque Vexa me garantiu que o processo de redacção de uma lei de Vida Independente/Assistência Pessoal começaria no final de Janeiro, com a participação do MDI e demais representantes da comunidade das pessoas com deficiência.

“Nada sobre nós sem nós”, velho slogan que continuo a reafirmar.

Em Janeiro, nem uma reunião que estava prevista para a primeira semana teve lugar. Teve de ser o MDI a solicitá-la e ocorreu apenas a 27 de Fevereiro. Nessa reunião assisti a uma alteração de posições da Secretaria de Estado. Fomos informados, numa clara violação dos compromissos assumidos, que nada mais passaria pela colaboração com MDI e que já estava decidido apenas promover a formação de Assistentes Pessoais sem que tivéssemos sequer sido informados dos conteúdos dessa formação. A Secretaria de Estado revelou a sua incapacidade para colaborar com as organizações de pessoas com deficiência, impondo a sua vontade, não aceitando nem propostas nem críticas às suas decisões.

O conceito de Vida Independente foi resultado de muitos anos de luta pelo direito a viver de uma forma digna. Foi uma conquista das pessoas com deficiência. Não é admissível que a implementação de uma política de Vida Independente seja feita contra ou ignorando a Comunidade de pessoas com deficiência. Muito menos num País democrático.

Está em causa em o direito à autodeterminação de cidadãos portugueses.

Está em causa acabar com o internamento compulsivo de milhares de portugueses, fechados contra a sua vontade em lares para idosos ou outras instituições residenciais.

Sejamos sérios: Estas instituições recebem por pessoa internada 950 euros mensais. Pagos pelo Estado. Recebem ainda até 85% do rendimento da pessoa internada. Todos os estudos existentes demonstram que a Vida Independente sai mais barata ao Estado, gera mais emprego, e aumenta a satisfação e qualidade de vida dos utentes.

A quem interessa manter esta situação? Haja coragem de enfrentar estes interesses.

Somos contribuintes. O Governo pode usar o nosso dinheiro para nos encarcerar, mas não pode usá-lo para nos dar independência e uma vida digna? Que interesses está a proteger?

Sabemos que uma mudança desta envergadura precisa de tempo. Mas essa é mais uma razão para não estarmos parados. Temos que dar passos concretos.

Tenho o direito de exigir:

1. Um projecto-piloto de Vida Independente, à escala nacional, que abranja pelo menos 100 pessoas com necessidade de assistência pessoal, a entrar em funcionamento no prazo máximo de 6 meses.
2. Constituição no prazo de um mês de um grupo de trabalho que integre o MDI e outros representantes da Comunidade de pessoas com deficiência para definir os detalhes necessários à concretização deste projecto-piloto.
Isto parece-lhe pedir muito? Acha difícil? Acha demais? A mim não me parece. Especialmente considerando que acabei de fazer 180 km numa cadeira de rodas, pondo em risco a minha vida para lhe entregar esta carta.

Caso isto não seja cumprido, farei mais. E sei que seremos muitos mais a fazer muito mais.

Atentamente

Eduardo Jorge

Reação do Governo ao meu protesto

Modelos de Apoio à Vida Independente constitui um eixo prioritário de investimento do Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, estando em curso a criação da figura dos Assistentes Pessoais para pessoas com deficiência.

No sentido de implementar este novo modelo de apoio à autonomia de vida, abrindo caminho a uma nova profissão, vão ser iniciados, até ao final do mês nas regiões Norte e Centro de Portugal, projetos-piloto de Programas de Formação para Assistentes Pessoais para Pessoas com Deficiência e Incapacidade, o que representa um investimento de 441 000 euros.

Estão já constituídas turmas na Região Norte e Centro, e na Região do Alentejo os formandos estão em fase de seleção.

Estes programas-piloto que podem abranger um total de 300 formandos, surgem como resultado do trabalho da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) em parceria com o IEFP, contando com o envolvimento da Comissão para a Deficiência, na qual têm acento as organizações representativas do sector da deficiência (Humanistas, Acapo e APD), tendo ainda sido alargada a oportunidade aos contributos do Movimento (D)eficientes Indignados (MDI), decorrente das reuniões realizadas com este Movimento.

Das reuniões realizadas com o MDI e após balanço sobre todos os contributos recebidos na caixa de correio electrónico com o endereço vidaindependente@inr.pt, alojada no site do INR, criada com a finalidade de funcionar como espaço de consulta pública, e com o objetivo de recolher contributos no âmbito da Vida Independente, concluiu-se que antes da elaboração de uma Lei, devem existir projetos-piloto experimentais de um serviço de Assistência Pessoal.

Esta foi uma questão que mereceu a concordância do MDI. No entanto, o MDI não concordou com o alinhamento seguido para a concretização dos projetos-piloto, por defenderem um serviço de Assistência Pessoal «em que seja o próprio deficiente a contratar o seu assistente, treiná-lo, escaloná-lo, supervisioná-lo e se necessário despedi-lo», sendo todos os encargos com o emprego do assistente da responsabilidade do Estado, sem prestação de contas.

O processo foi suspenso, na altura, pelo Governo, que ficou a aguardar até ao momento propostas concretas do MDI, o que não aconteceu. As ideias do MDI não passaram, por isso de processos de intenções e princípios sem qualquer concretização de um projeto a operacionalizar.

Desta forma, não tendo o MDI apresentado qualquer proposta de conteúdo, o Plano de Formação do Programa de Formação para APPDI ficou concluído, integrando os contributos das entidades representadas na Comissão para a Deficiência.

A Vida Independente dos cidadãos com deficiência em Portugal é para o Governo uma prioridade, que deve acima de tudo preservar, garantir e salvaguardar os superiores interesses e direitos das pessoas com deficiência, bem como salvaguardar eventuais questões éticas e jurídicas deste processo.

Nas reuniões que têm vindo a decorrer da Comissão para a Deficiência, foi decidido que a elaboração de um diploma legal específico sobre a temática, exigirá maior maturidade do processo reflexivo, devidamente articulado entre as diferentes entidades da área da deficiência, visto que um projeto de Lei terá que salvaguardar a adequabilidade às diferentes situações de deficiência e não apenas acautelar os interesses próprios do MDI.

Foi também entendido sobre a legislação a publicar que deverá ser efectuada uma análise ao custo-beneficio do investimento e ao paralelismo com as respostas sociais existentes.

Aspecto que só será concretizado com a cooperação e articulação entre todos os agentes significativos e nunca através de casos isolados, extrapolações e extremismos que em nada contribuem para um eficaz desenvolvimento dos trabalhos.

Importa salientar que, no âmbito do Programa Operacional da Inclusão Social e Emprego (POISE 2014-2020), está previsto como eixo prioritário de investimento no âmbito da Deficiência - Modelos de Apoio à Vida Independente, que se caracterizam por modelos de intervenção que privilegiam a autonomia das pessoas com deficiência em contexto de vida, sendo o apoio prestado de base territorial, através de serviços na comunidade, em alternativa à institucionalização. O serviço de Assistência Pessoal constitui um segmento deste tipo de resposta inovadora que aposta na satisfação das necessidades das pessoas com deficiência e incapacidade, promovendo a sua participação em condições de igualdade com as demais pessoas.

Paralelamente, o MSESS e a Segurança Social têm procurado resolver todos os casos que têm sido colocados aos serviços, ou endereçados por correio electrónico, em estreita colaboração com as entidades parceiras da rede social em cada comunidade, no sentido de responder o mais ajustadamente possível às necessidades quotidianas destes cidadãos.

Como forma de dar a melhor resposta às necessidades na área da deficiência o Governo aumentou em 2013 as verbas pagas, ao disponibilizar 276 552 milhões de euros em acordos de cooperação e prestações sociais. Fonte: Governo de Portugal

RESPOSTA DO MOVIMENTO (D)EFICIENTES INDIGNADOS ÀS ACUSAÇÕES DO GOVERNO

Emitiu ontem, 23 de Setembro de 2014, o Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social um comunicado, de que tivemos conhecimento através da comunicação social, em que são feitas acusações ao Movimento (d)Eficientes Indignados (MDI).

É para nós clara a intenção do Governo de tentar esvaziar de sentido e desvalorizar a acção de protesto que Eduardo Jorge, com o apoio do MDI, está a levar a cabo pelo direito a uma vida independente.

Factos são factos. A 7 de Outubro do ano passado o Sr. Secretario de Estado da Solidariedade e Segurança Social, Agostinho Branquinho, confrontado com a anunciada greve de fome pelo direito a uma vida independente, protagonizada por Eduardo Jorge, tetraplégico, fez promessas e assumiu um compromisso com Eduardo Jorge e o Movimento (d)Eficientes Indignados.
Foi acordado nessa altura:

1. Abrir um endereço de e-mail para receber contributos sobre o que seria necessário para proporcionar uma Vida Independente às pessoas com deficiência.
2. Fornecerem-nos um dossier com esses contributos no início de Janeiro
3. Iniciar os trabalhos de redacção de legislação sobre a Vida Independente no final de Janeiro com a participação do movimento (d)Eficientes Indignados e demais representantes da comunidade de pessoas com deficiência.

A acção que está a ser levada a cabo tem a ver com o não cumprimento do terceiro ponto acordado e a continuação de manobras dilatórias de uma tomada de decisão pelo Governo que permita uma vida digna a quem tem necessidade de assistência pessoal.

Não nos conformamos com o facto de o Estado comparticipar por ex. os lares residenciais com 951,53€ mensais por utente internado e no entanto, se a mesma pessoa estiver em casa, com a sua família, e recorra ao Subsídio por Assistência por Terceira Pessoa, tenha direito unicamente a 88,37€ para pagar a quem lhe presta assistência.

Quanto ao que é afirmado no referido comunicado há que esclarecer algumas questões:

Acusam-nos de não termos concordado “com o alinhamento seguido para a concretização dos projectos-piloto”, mas de também não termos avançado propostas. É mentira! Apresentámos uma proposta de realização de um projecto-piloto, que abrangesse 100 pessoas com deficiência com necessidade de assistência, para que essa experiência pudesse contribuir para a redação de legislação de assistência pessoal. Esta proposta foi liminarmente recusada numa reunião, pelos elementos do gabinete do Sr. Secretário de Estado.

Diz o Ministério que “O MDI não concordou com o alinhamento seguido para a concretização dos projectos-piloto, por defenderem um serviço de Assistência Pessoal “em que seja o próprio deficiente a contratar o seu assistente, treiná-lo, escaloná-lo, supervisioná-lo e se necessário despedi-lo"”. É verdade! Defendemos o direito da pessoa com deficiência a escolher, contratar, treinar (se assim o desejar e tiver capacidade para tal), escalonar, supervisionar e despedir o seu assistente pessoal. Defendemos uma alteração de paradigma, é verdade, em que a pessoa com deficiência deixe de ser meramente “assistida” e passe a ser dona da sua própria vida. O Sr. Ministro não gostaria que lhe destinassem uma pessoa para o ajudar em tarefas tão íntimas como, por ex. fazer a sua higiene pessoal, que não fosse escolhida por ele, que ainda lhe determinasse os horários de levantar da cama, lavar, comer, etc..

Este modelo não é uma invenção do MDI, existe em diversos países.

Aliás, aquilo que agora parece estranho ao Ministério, foi aceite em reunião realizada no dia 27 de Fevereiro com o MDI, embora mais tarde tenha sido negado este compromisso, nomeadamente:
1. Que um projecto-piloto de Vida Independente seria concebido com a participação das pessoas com deficiência.
2. Haveria pagamentos directos à pessoa com deficiência que contrataria com essa verba o seu Assistente Pessoal.
3. A pessoa com deficiência teria liberdade de escolha do seu Assistente.
4. A formação dos Assistentes poderia ser assegurada pela pessoa com deficiência se essa fosse a sua escolha.

Mais grave é a afirmação de que defendemos esta opção sem que exista uma prestação de contas por parte dos utilizadores. É mentira, nunca o afirmámos, até porque noutros países onde existe o modelo por nós defendido, existem métodos legais para fiscalização e prestação de contas de forma a que o Estado não seja defraudado.

Diz ainda o Ministério que “deverá ser efectuada uma análise ao custo-benefício do investimento e ao paralelismo com as respostas sociais existentes”. Estamos de acordo embora já saibamos as conclusões, pois todos os estudos efectuados sobre este assunto, a nível internacional, concluem que o sistema de assistência pessoal tem menores custos para o Estado e aumenta claramente os níveis de satisfação e qualidade de vida dos utentes.

Lembram-nos por fim, que o Programa Operacional da Inclusão Social e Emprego (POISE 2014-2020), prevê, no eixo Deficiência — Modelos de Apoio à Vida Independente, “modelos de intervenção que privilegiam a autonomia das pessoas”. O serviço de assistência pessoal é “um segmento deste tipo de resposta”. Nós lembramos ao Governo que também na Estratégia Nacional para a Deficiência 2010-2013 (ENDEF) existia a “Medida 63: Desenvolver projecto-piloto que cria o serviço de assistência pessoal”, que nunca foi posta em prática.

Fonte: Movimento (d)Eficientes Indignados

Resumo noticias publicadas na imprensa sobre a viagem de protesto pelo direito a uma Vida Independente

Resumo das noticias publicadas na imprensa sobre o protesto


- UDF
- Sapo


APÓS A PARTIDA

- SIC
- RTP
- CM

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Até à próxima

Faltam poucas horas para iniciar a aventura/protesto que me propus, e quero-me despedir de todos. Durante estes dias que estarei em viagem, não deverei conseguir andar por aqui. Será a Cristina Fernandes a relatar-vos aqui mesmo, na página do evento, e no blogue "Tetraplégicos" através das notícias publicadas no facebook (canto superior esquerdo do blogue), o que irá acontecendo no meu/nosso dia-a-dia, durante os 3 dias da viagem. Durante o percurso Concavada a Lisboa será também a Cristina a receber os meus telefonemas através do nº 961 721 582 Quero concentrar-me somente na viagem.

Resto do dia de hoje será destinado á continuação dos preparativos da viagem e espero conseguir descansar durante a noite, pois o dia começa cedo e treino intestinal de hoje foi um desastre, bexiga precisou de antibiótico para estabilizar, chuva não para de cair...

Realizar a viagem debaixo de chuva será muito mais difícil, e ainda por cima as entidades insistem que devo circular pela esquerda na via pública, mas se o fizer exponho-me a maiores perigos, principalmente nas curvas. Será que vou conseguir? Só sei que tenho objetivos a atingir e é isso que me move. O resto neste momento são pormenores.

A todos vós que de uma maneira ou de outra têm feito o favor de dizer presente solidarizando-se com esta minha nossa causa/viagem, muito, mas mesmo muito obrigado. Sem vós, seria muito mais difícil. Talvez impossível. Muita da minha força vem de vós.

Ouçam na entrevista à rádio Iris Fm as razões do meu protesto.

Desejem-me sorte. Eu espero voltar. Fiquem bem.

domingo, 21 de setembro de 2014

Razão do protesto 180 km em cadeira de rodas pelo direito a uma vida digna

A 7 de Outubro do ano passado o Sr. Secretario de Estado da Solidariedade e Segurança Social, Agostinho Branquinho, confrontado com a anunciada greve de fome pelo direito a uma vida independente, protagonizada por Eduardo Jorge, tetraplégico, fez promessas e assumiu um compromisso com Eduardo Jorge e o movimento (d)Eficientes Indignados.

Foi acordado nessa altura:
1. Abrir um endereço de e-mail para receber contributos sobre o que seria necessário para proporcionar uma Vida Independente às pessoas com deficiência.
2. Fornecerem-nos um dossier com esses contributos no início de Janeiro
3. Iniciar os trabalhos de redacção de legislação sobre a Vida Independente no final de Janeiro com a participação do movimento (d)Eficientes Indignados e demais representantes da comunidade de pessoas com deficiência.

Pensávamos lidar com gente de palavra, mas enganámo-nos. Em Janeiro nada se passou.

Só em Fevereiro, e a nosso pedido, se realizou uma reunião em que constatámos que nada havia sido feito para além da intenção de abrir ,em parceria com a União das Misericórdias e o IEFP, cursos de formação de supostos assistentes pessoais. Nenhum passo tinha sido dado na garantia de acesso à assistência pessoal por parte das pessoas com deficiência.

Nessa reunião, realizada a 27 de Fevereiro, foi-nos garantido por elementos do Gabinete do Sr. Secretario de Estado que seriam respeitados alguns princípios sobre a Vida Independente que são fundamentais para nós: 

1. Que um projecto piloto de Vida Independente será concebido com a participação das pessoas com deficiência
2. Haverá pagamentos directos à pessoa com deficiência que contratará com essa verba o seu assistente pessoal.
3. A pessoa com deficiência terá liberdade de escolha do seu assistente.
4. A formação dos Assistentes será assegurada pela pessoa com deficiência se essa for a sua escolha.

Passado quase um ano das promessas iniciais do Sr. Secretario de Estado nada foi feito.

Em sinal de protesto e no sentido de sensibilizar a população em geral para a necessidade de uma politica que fomente a independência e autonomia das pessoas com deficiência, Eduardo Jorge, com o apoio do Movimento (d)Eficientes Indignados, sai novamente à rua.

Pondo em risco a sua saúde, dada a sua condição física, Eduardo Jorge irá, na sua cadeira de rodas, fazer um percurso de 180 km, da sua residência em Concavada (Abrantes) até ao Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social onde entregará uma Carta Aberta ao Sr. Secretario de Estado.

No dia 25 às 12,30h, estaremos à sua espera na Praça de Alvalade, fazendo a parte final do percurso em conjunto até à Praça de Londres.

CONCAVADA A LISBOA - 180 KM PELO DIREITO A UMA VIDA INDEPENDENTE

23, 24 e 25 de Setembro

Através das estradas nacionais 118, 114 e 10, pelo seguinte itinerário:

Dia 23
7H00 - saída de Concavada, Abrantes, sempre pela estrada nacional 118
7H45 - Pego
8H15 - Rossio ao Sul do Tejo
9h00 - Tramagal
10h15 - Santa Margarida da Coutada
11h45 - Arrepiado
13h00 - Carregueira
15H00 - Chamusca
16h00 - Vale de Cavalos
16h45 - Alpiarça
17H30 - Almeirim pernoita em vigília à frente do edifício da Câmara Municipal local.

Dia 24
8H00 - saída de Almeirim pela estrada nacional 114
9H15 - Benfica do Ribatejo
10H15 - Casa Cadaval
12H00 - Salvaterra de Magos
13H00 - Benavente pela EN 118
14H30 - Samora Correia/Porto Alto
15H30 - Vila Franca de Xira EN10
16H00 - Alhandra
16H30 - Sobralinho
17H00 - Alverca do Ribatejo pernoita na Praça de São Pedro

Dia 25
8h00 - Alverca do Ribatejo
8H45 - Forte da Casa
9H00 - Póvoa de Santa Iria
10H00 - Sacavém
10H30 - Moscavide
11H30 - Rotunda do Aeroporto/Relógio
12H30 - Praça de Alvalade
13H00 - Lisboa, Praça de Londres

NOTA - Actualização em 20 Setembro 2014
O horário poderá sofrer algumas alterações devido a qualquer imprevisto

Fonte: Movimento (d)Eficientes Indignados

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Tetraplégico vai de Abrantes a Lisboa em cadeira de rodas para reclamar uma vida independente

Um deficiente motor residente em Concavada, Abrantes, propõe-se realizar, na próxima semana, 180
quilómetros em cadeira de rodas até ao Ministério da Segurança Social, em Lisboa, para reclamar o direito a uma vida independente.

Eduardo Jorge, 52 anos, tetraplégico e activista do movimento "nos.tetraplégicos", revela que a finalidade da iniciativa é "chamar a atenção para os problemas dos deficientes motores e idosos" em Portugal e "dizer basta à institucionalização compulsiva, por parte do Estado, das pessoas com deficiência em lares de idosos, como única alternativa de vida".

O ex-gerente comercial, licenciado em Serviço Social, foi vítima de um acidente de viação em 1991 que o deixou numa cadeira de rodas.

Eduardo Jorge já havia realizado uma greve de fome em frente da Assembleia da República, no ano passado (com o apoio do Movimento (d)Eficientes Indignados), que suspendeu, depois ter sido recebido pelo secretário de Estado da tutela e este ter assegurado, na ocasião, iniciar os trabalhos de redacção de legislação sobre a Vida Independente no final de Janeiro.

"Realizei a greve de fome pelo direito a uma vida independente e digna, e suspendi-a porque obtivemos determinadas garantias e promessas, numa reunião tida na Assembleia da República com o secretário de Estado da tutela, mas pouco ou nada aconteceu até ao momento, facto que me leva a voltar a luta, neste caso, à estrada", destacou.

"Não quero deixar de ser uma pessoa participativa na sociedade e não quero ficar confinado a um lar, só porque o Estado não concede a hipótese de ter um cuidador e sermos nós a contratar o serviço que entendemos que possa prestar uma ajuda específica à medida e tendo em conta as necessidades de cada um", vincou.

"Criar-nos condições para vivermos nas nossas casas, fica muito mais barato ao Estado do que a institucionalização, e é pelo direito a uma vida independente que vou fazer este percurso até Lisboa em cadeira de rodas”, justificou.

Eduardo Jorge reclama para os deficientes motores o crescimento junto da família, poder frequentar a escola do bairro ou trabalhar num emprego adequado à formação.

O plano de viagem começa em Concavada, Abrantes, na terça-feira, às 7h, e durante o percurso Eduardo Jorge vai pernoitar na via pública, em vigília, junto à Câmara Municipal de Almeirim, no dia 23, e no dia seguinte vai pernoitar em Benfica do Ribatejo. A chegada está prevista para quinta-feira, às 10h, à Praça de Londres, sede do Ministério da Solidariedade Social, Emprego e Solidariedade, em Lisboa.

Fonte: Público

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Tetraplégico faz vigília na porta da Câmara Municipal de Almeirim

Durante os dias 23, 24 e 25 de setembro, Eduardo Jorge um tetraplégico com 90% de incapacidade vai percorrer 180 kms em cadeira de rodas desde Concavada (Abrantes) até à Praça de Londres em Lisboa.

Esta é mais uma maratona que Eduardo Jorge tem levado a cabo nos últimos anos, lutando pelo direito a uma vida independente. Este homem que tem dedicado os seus últimos anos a lutar por mais direitos para os que sofrem de deficiências físicas, concluiu ainda assim o seu curso superior e tem trabalhado na sua junta de freguesia onde tem feito um importante trabalho social.

Eduardo irá percorrer as estradas nacionais 118, 114 e 10, passando por localidades como Chamusca, Alpiarça e Almeirim onde chega por volta das 17h30 do dia 23 de setembro para fazer uma vígilia em frente ao edifício da Câmara Municipal de Almeirim. No dia 24 saí de Almeirim às 8h00 passando por Benfica do Ribatejo, Salvaterra de Magos, Benavente, Vila Franca de Xira e Alverca onde pernoitará e no dia 25 segue até à Praça de Londres em Lisboa onde pretende chegar às 10h00.

Eduardo já garantiu um colchão e uma cama articulada para passar a noite em Almeirim e Alverca.

Fonte: Almeirinense

Tetraplégico vai fazer 180 km em cadeira de rodas pelos direitos dos deficientes

“Imagina-te na cama. O sol já te acordou e são horas de levantar. Esperas. Já cá deviam estar para te
tirarem da cama, levarem-te para o banho, lavarem-te os dentes, pentearem-te. Imagina que estavas à espera. Na cama. Que ninguém chegava. E que não conseguias levantar-te. Nem tomar banho. Nem lavar os dentes. Nem penteares-te. O corpo é um peso. Era fodido, não era? Há quem viva assim. Todos os dias. Todos os anos”.

Este é o testemunho, cru e duro, de Eduardo Jorge, um tetraplégico que vive em Concavada, no concelho de Abrantes, e que luta para que o Estado permita que, não só ele como todos os que se encontram na sua situação, tenham direito a um “cuidador” no domicílio ou a serem acolhidos num lar residencial. Para tentar chamar a atenção para esta questão, Eduardo Jorge vai fazer uma viagem de 180 quilómetros em cadeira de rodas, entre Concavada e o Ministério da Solidariedade Social em Lisboa, com partida no dia 23 de Setembro, às 7 horas da manhã, sempre pela Estrada Macional 118.

A jornada conta com passagens pelo Pego (7h45), Rossio ao Sul do Tejo (8h15), Tramagal (9h00), Santa Margarida da Coutada (10h15), Arripiado (11h45), Carregueira (13h00), Chamusca (15h00), Vale de Cavalos (16h00), Alpiarça (16h45) e Almeirim (17h30), onde vai pernoitar em vigília à frente do edifício da câmara municipal.

No dia 24 de Setembro, a saída é às 8h00 de Almeirim pela Estrada Nacional 118, passando por Benfica do Ribatejo (9h15), Casa Cadaval (10h00), Salvaterra de Magos (11h30), Benavente (12h15), Samora Correia/Porto Alto (13h30), Vila Franca de Xira (14h45), Alhandra (15h15), Sobralinho (15h45) e Alverca do Ribatejo (16h00), onde vai pernoitar na Praça de São Pedro.

No dia 25 parte às 5 horas da manhã de Alverca do Ribatejo, passando pelo Forte da Casa (7h30), Póvoa de Santa Iria (7h45) e por último Praça de Londres, onde prevê chegar pelas 10h00. Nas noites em que vai fazer a vigília, Eduardo agradece se alguém lhe disponibilizar um quintal, junto a uma torneira, que lhe permita tomar um banho de mangueira.

“É muito triste verificar que as nossas oportunidades são nulas. Temos que exigir mecanismos sociais
correctores das desigualdades cada vez mais acentuadas e herdadas”, refere Eduardo Jorge que já protagonizou, em 2013, com o apoio do Movimento (d) Eficientes Indignados, uma greve de fome em frente à Assembleia da República, cuja finalidade era dizer “basta à institucionalização compulsiva por parte do Estado, das pessoas com deficiência em lares de idosos, como única alternativa de vida”.

O protesto terminou após as promessas de revisão da legislação mas, como nada mudou, Eduardo Jorge vai voltar à luta, desta feita na estrada para conseguir algo muito simples: uma vida digna.

Fonte: O Mirante

Eu: O texto do 1º parágrafo não é da minha autoria, mas sim do amigo Jorge Falcato, e não luto pela institucionalização com referem no 2º parágrafo, mas  sim como escrevem no penúltimo (...)  “basta à institucionalização compulsiva por parte do Estado, das pessoas com deficiência em lares de idosos, como única alternativa de vida”.

Vereadores e cidadãos lisboetas desafiados a andar de cadeira de rodas em ruas da cidade

Os vereadores dos Direitos Sociais e das Obras da Câmara de Lisboa e alguns munícipes experimentaram hoje as dificuldades de quem anda de cadeira de rodas, no âmbito de uma ação de sensibilização para os perigos da calçada.

A iniciativa, intitulada "Piso (Con)vida" foi organizada por várias associações como os (d)Eficientes Indignados, a Associação Portuguesa de Deficientes , a Associação dos Deficientes das Forças Armadas, pelo blogue Lisboa (in)Acessível e por vários cidadãos, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade.

O vereador João Afonso, dos Direitos Sociais, foi o primeiro a aceitar o desafio.

"Nunca pensei que fosse tão difícil", admitiu o autarca, referindo que as principais dificuldades foram os ressaltos encontrados quando se sai e entra no passeio e as inclinações da via e do passeio.

A ação decorreu na esquina da Avenida Elias Garcia, com a Avenida 5 de Outubro, numa zona onde há cerca de um ano a câmara implementou um piso com blocos de cimento, um piso tátil para invisuais (indica a direção) e um piso tátil picotado (sinaliza a aproximação à passadeira).

O autarca com o pelouro das Obras, Jorge Máximo, reconheceu, por seu turno, que "apenas a ausência de duas pedras da calçada era o suficiente" para cair.

Miguel Teixeira, José Cruz e Filipa Marques iam a passar quando lhes propuseram que experimentassem andar de cadeira de rodas.

"Isto é perigosíssimo", salientou Miguel após as primeiras voltas de cadeira de rodas.

Já José afirmou que "controlar a máquina foi mais complicado do que pensava". Sendo pai, o jovem também já se tinha confrontado com dificuldades na calçada quando anda com o carrinho de bebé.

Filipa disse que na calçada, em comparação com o piso de cimento, a cadeira "treme mais" e sente-se mais as "irregularidades do piso".

Estas dificuldades são sentidas diariamente por Diogo Martins, do movimento (d)Eficientes Indignados.

O responsável referiu ainda que a calçada portuguesa provoca "um desagaste acentuado" nas cadeiras, e agrava as "doenças relacionadas com a parte muscular, devido ao esforço que têm de fazer".

O coordenador do Plano de Acessibilidade Pedonal da Câmara de Lisboa, Pedro Homem Gouveia, indicou que das ações previstas para o primeiro ano, a autarquia já está a avançar com 43.

Segundo o autor do documento, a câmara está ainda "a definir quais são os pisos alternativos [à calçada] para ir havendo uma substituição progressiva nas zonas onde ela é mais necessária".

Mas para isso, defendeu que as entidades privadas, como as operadoras de subsolo, devem participar no financiamento.

Os pisos alternativos, semelhantes àquele existem na 5 de Outubro, já estão a ser colocados na Avenida de Roma (entre o Areeiro e Alvalade), e nas freguesias de Penha de França e Benfica, apontou o vereador João Afonso.

Deverá seguir-se a Avenida da República, com uma empreitada entre Entrecampos e o Marquês de Pombal, mas apenas num lado da avenida, custeada pelo Orçamento Participativo deste ano.

Fonte: Porto Canal

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Transferência da cadeira de rodas para a cama através da grua Handi-Move

Para aqueles leitores que muito me têm pedido informações sobre a minha utilização da grua de transferência Handi-Move...



Mais informação sobre a grua AQUI

Com o apoio da Euridice e Vitória Varela

Falta de turismo acessível na Europa leva à perda de milhões de euros

O Dorotheum em Viena na Áustria, apesar de sua enorme escada para a entrada principal, possui um
acesso através de elevadores.

Uma nova pesquisa da Universidade de Surrey e encomendado pela Comissão Europeia, revelou que o setor do turismo europeu está perdendo 142 mil milhões de euros todos os anos devido à infraestrutura deficiente, serviços e atitudes em relação a viajantes com necessidades especiais de acesso.

Segundo a pesquisa, os viajantes na UE que necessitaram de acesso especial, seja por meio de deficiência ou idade, realizaram 783 milhões de viagens na região em 2012, contribuindo com 394 bilhões de euros e 8,7 milhões de postos de trabalho para a economia europeia. O Reino Unido foi um dos três maiores contribuintes, gerando mais de 86 milhões de euros e 1,7 milhões de postos de trabalho para o mercado - 20% do total da UE.

No entanto, os pesquisadores acreditam que, se os destinos europeus forem totalmente acessíveis, essa demanda pode aumentar até 44% ao ano, o que resultaria em um adicional de 142 bilhões de euros no PIB e 3,4 milhões de postos de trabalho para a economia europeia.

Após a investigação, a Comissão Europeia identificou sete principais recomendações para melhorar a acessibilidade no setor, incluindo:

1. Acessibilidade e Design para Todos devem ser uma característica integradora de planejamento a longo prazo de destinos e investimentos em modernização de infraestruturas
2 A indústria precisa melhorar seus esforços de coordenação, particularmente através de parcerias público-privadas e redes de relacionamentos profissionais em nos níveis regionais locais e europeus;
3. Todos os membros do pessoal de um prestador de serviços precisa adquirir uma sólida base de conhecimento sobre acessibilidade através de uma boa gestão do conhecimento e formação regular.

"Esta é uma oportunidade de ouro para o setor de viagens europeias.", Disse o professor Graham Miller, da Universidade de Surrey.

"A preocupação de muitas empresas de pequeno e médio porte tem sido recuperar o custo de adaptação para as necessidades especiais de acesso. Esta pesquisa mostra que esse custo não será apenas recuperado, mas irá resultar em crescimento do mercado. No longo prazo, o compromisso é exigido, tanto do setor público e privado. No entanto, mesmo pequenas mudanças, enquanto isso, irão colher recompensas enormes. "

"Não só essas recomendações fazem um caso de negócio válido, mas ter acesso completo às atividades turísticas, serviços e instalações são um direito consagrado no artigo 9 da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. É imperativo que todos os países europeus demonstrem compromisso com a promulgação de mudança. "

Antonella Correra, diretora de política da Comissão Europeia, Empresas e Indústria comentou: "Esta é a pesquisa mais abrangente sobre Turismo Acessível realizado até agora na Europa. A análise paralela da demografia, padrões comportamentais e da contribuição econômica demonstram muito claramente que a acessibilidade é a nova fronteira para o setor do turismo da UE. Longe de ser um setor de nicho, o turismo acessível é uma grande oportunidade de mercado. A pesquisa fornece evidências claras de que os serviços de turismo acessível também são ótimos serviços, que aumentam a visibilidade e a reputação dos destinos turísticos, e dão uma vantagem competitiva para os operadores. "

A pesquisa publicada dentro do relatório da Comissão Europeia Economic impact and travel patterns of Accessible Tourism in Europe (Impacto econômico e padrões de viagens do turismo acessível na Europa) é o primeiro de seu tipo a estudar o impacto econômico do turismo acessível na Europa.

O estudo avaliou as disposições especiais de acesso para turistas com deficiência, com idade entre 15 e 64 anos e idosos acima de 65 anos em 27 países europeus. Ele avaliou a qualidade dos serviços, infraestruturas e atitudes públicas e privadas.

Fonte: Turismo Adaptado

ANACED abre inscrições para a oficina teatral de formação

A ANACED vai organizar nos próximos dias 13, 14 e 15 de Outubro a OFICINA TEATRAL DE FORMAÇÃO, da ideia ao objecto – A Identidade, ministrada pelo formador Marco Paiva, com o objectivo de fornecer ferramentas e metodologias artísticas, que potenciem o universo criativo e permitam um crescimento qualitativo das propostas e da intervenção junto de grupos de pessoas com deficiência.

A Oficina terá lugar no Café-Teatro do Centro Cultural da Malaposta, Rua Angola, Olival Basto (Metropolitano: Estação Sr. Roubado, Linha Amarela).

Destinatários: Técnicos de ensino especial, professores ou outros técnicos que desenvolvam ou tenham interesse em vir a desenvolver projectos de índole teatral junto de grupos de pessoas com deficiência.

Os interessados em participar nesta OFICINA devem inscrever-se até ao dia 6 de Outubro.

As inscrições devem ser efectuadas por e-mail, mediante o preenchimento e envio da Ficha de Inscrição em anexo para anaced@net.sapo.pt.

As inscrições são aceites até se atingir o número limite de vagas.

O valor da inscrição (€ 20) assume a forma de donativo, pelo que cada participante receberá um recibo de donativo, ao abrigo da Lei do Mecenato, para efeitos de dedução fiscal.

Informações detalhadas e Programa em anexo.

Na expectativa da sua participação, apresentamos os nossos melhores cumprimentos,

A Direcção da ANACED

Governo prepara II Estratégia Nacional para a Deficiência

O Governo vai elaborar a II Estratégia Nacional para a Deficiência, para o período 2014-2020, segundo a proposta do executivo das Grandes Opções do Plano (GOP), enviada aos parceiros sociais.

No anteprojeto das GOP do Governo, e a que a Lusa teve acesso, pode ler-se que é intenção do executivo de Passos Coelho avançar para a "elaboração de uma II Estratégia Nacional para a Deficiência (2014-2020) ".

Essa estratégia será "ajustada quer às realidades e contexto nacional, quer ao cumprimento das obrigações previstas na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência".

Ainda no que diz respeito às pessoas com deficiência, é igualmente intenção do Governo alargar a rede de Serviços de Informação e Mediação para as Pessoas com Deficiência (SIM-PD), instalada nas autarquias locais, com vista a informar e encaminhar de forma mais próxima as pessoas com deficiência ou as suas famílias.

Na matéria de Solidariedade e Segurança Social, o Governo "antecipa a possibilidade de prolongar a vigência" do Programa de Emergência Social (PES), iniciado em outubro de 2011, "com os devidos ajustamentos em função das necessidades e da evolução da situação económica e social".

Segundo o que está definido no documento, poderá haver necessidade de prolongar no tempo algumas das medidas do PES, que deveria vigorar até dezembro de 2014, não estando especificado quais as medidas em concreto.

Fonte: Porto Canal

Eu: Pois...termina-se o prazo de uma ENDEF, praticamente nenhuma medida foi cumprida, inicia-se outra.

Quinze mil crianças com necessidades educativas especiais estão sem aulas

Quinze mil crianças com necessidades educativas especiais estão sem aulas ou acompanhamento adequado. São alunos autistas, com défice de atenção ou mobilidade reduzida que não têm apoio psicológico ou terapêutico. Só no agrupamento escolar da Quinta do Conde em Sesimbra há 99 destes alunos impedidos de começar o ano lectivo.

Veja a reportagem em video AQUI.

A vitória do coitadinho

Senhoras e senhores, não estou aqui com a pretensão de motivá-los, de transformá-los em pessoas
produtivas, de dar a vocês informações ou razões que poderiam levá-los às gargalhadas. Não estou aqui para fazê-los rir.

O que eu quero é arrancar de vocês um momento de reflexão. Ou vários momentos. Reflexão sobre as suas deficiências.

Acredite, você é uma pessoa com deficiências. No plural, ‘deficiênciassss’, porque, certamente, há mais de uma.

Antes da reflexão, o entendimento.

Quando surge a palavra ‘deficiência’, muitos olham para o próprio corpo, procurando algum defeito. ‘Do que esse sujeito tá falando?’.

E há sempre alguém ofendido, porque deficiência é coisa de gente que usa cadeira de rodas, não escuta, não enxerga, coisa de “doente mental”, “retardado”, “aleijado”.

No fundo, são apenas palavras.

Existem algumas palavras que elevam o sujeito: positividade, perseverança, motivação.

Quando a pessoa consegue alcançar vitórias consideradas, por alguns, impossíveis, ele vai direto ao posto de ‘herói’ e a palavra do momento é ‘superação’.

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

Eis nosso primeiro momento de reflexão. Sobre a superação.

Houve uma vitória, uma conquista. E se isso foi possível, certamente, é fruto de treinamento, estudo, disciplina, educação, dedicação, perseverança, equilíbrio, força e concentração.

É muito comum atribuir à pessoa que se torna vencedora, em qualquer segmento, um status de ‘guerreira’.

E você vê na TV ou lê em jornais e revistas que essa pessoa ‘superou os próprios limites’.

E quando o vitorioso é uma pessoa com deficiência, usa-se essa característica para afirmar que o sujeito venceu a deficiência, ‘porque é guerreiro’ e ele vira uma inspiração, um exemplo.

O problema não está na apresentação dessa pessoa como exemplo, porque ela é exatamente isso. E a vitória foi conquistada porque houve, novamente, treinamento, estudo, disciplina, educação, dedicação, perseverança, equilíbrio, força e concentração.

O equívoco é criar essa relação direta entre a vitória e a deficiência. ‘Fulano superou a perda de uma perna e, por isso, ganhou a medalha de ouro’.

Claro que não!!!

O sujeito ganhou a medalha de ouro porque tem as qualidades necessárias para essa conquista. Já nasceu assim. E o tempo que demorou para descobrir a força que tem, ou as circunstâncias que provocaram essa descoberta, são detalhes muito particulares.

Há gente vai torcer o nariz, fica indignado, e dizer que estou minimizando ou diminuindo a importância da deficiência. Quando surge essa revolta, cabe uma pergunta: importância da deficiência?.

Por que uma deficiência tem importância?

Por que é necessário viver em função de uma deficiência?

Por que uma pessoa com deficiência é a ‘coitadinha’ que superou, seja lá o que for, para ser vencedora?

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

Eis o segundo momento de reflexão. Sobre o coitadinho.

Existe um atraso enorme nesta filosofia, porque coloca a pessoa com deficiência em uma ‘categoria’ diferente de pessoa. Há uma tendência para a piedade. E ninguém quer a piedade alheia.

Precisamos ultrapassar as barreiras criadas pela falta de conhecimento. Muito do que se imagina sobre a rotina de uma pessoa com deficiência é equivocado, porque essas avaliações têm base em suposições. Porque são normalmente feitas por quem não sabe nada sobre esse universo. E, com essas avaliações equivocadas, surgem opiniões e decisões, igualmente equivocadas.

Deficiências existem de diversas formas. Temporárias ou permanentes, não são exclusividade de determinado grupo social, não têm maior ou menor incidência por causa de condições financeiras, não se concentram em alguma etnia. Deficiências fazem parte da condição humana e, desta forma, devem ser encaradas como características do indivíduo. E nunca, jamais, devem ser fatores determinantes para colocar esse indivíduo em posição superior ou inferior.

A melhor forma de modificar essas avaliações é pensar em cenários universais. Em ações, construções, leis, fiscalizações, oportunidades, acessos, linguagens, informações, e tudo mais criado a partir de um pensamento no qual todas pessoas têm a mesma possibilidade, onde as características individuais não se tornam obstáculos. Devemos pensar que tudo deve ser criado para todos.

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

Eis o terceiro momento de reflexão. Sobre como você vive em função das suas deficiências.

Se há uma relação direta entre a deficiência e a ausência de algo, de um membro, de um sentido, da capacidade de fazer um movimento, de cognições que impedem o pleno desenvolvimento intelectual, então, existem muitas ‘pessoas com deficiência’ que, na verdade, não são pessoas com deficiência, porque são capazes de ações que outros, sem deficiências, não são (em teoria).

Precisamos reavaliar constantemente o que realmente significa ‘ter uma deficiência’ e, a partir dessa nova avaliação, mudar a forma como convivemos com as deficiências e, assim, deixar de viver em função disso. Principalmente porque a ausência de um membro, de um sentido, da capacidade de fazer um movimento, de cognições que impedem o pleno desenvolvimento intelectual, não são, e jamais devem ser, fatores determinantes na evolução do indivíduo.

Após todas essas palavras, considerações e reflexões, lanço a você um desafio. Pense em pessoas e na capacidade individual de vencer os limites impostos pela natureza ou pelas circustâncias.

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

Fernando Fernandes é atleta da paracanoagem. Diz ter encontrado na modalidade – na qual é campeão brasileiro, sul-americano e mundial – uma mistura de liberdade e redescoberta da capacidade. Foi jogador de futebol profissional, praticou boxe amador e já trabalhou como modelo, além de frequentar a faculdade de Educação Física. “É a cabeça que determina o ritmo de uma pessoa com deficiência, não é o corpo. O que define isso é a vontade. A deficiência, a dificuldade e a limitação são apenas obstáculos a serem vencidos”.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Um homem da minha vida: Uma homenagem que não esquecerei

Esta newsletter hoje é especial e diferente. É que nem só de coisas bonitas a vida é feita. Se bem que aquilo de que vou falar, apesar de não parecer, é linda !

Começo por contar-te algo muito pessoal.
O meu Pai foi sempre o meu herói. Só com ele andei de montanha-russa porque era o meu herói. Eu sabia que com ele estava sempre segura.
Durante uns anos, esqueci-me disso e pouco antes de ele morrer, na sua luta contra um cancro, voltei a lembrar-me de como ele é meu herói. Mesmo não tendo ganho aquela luta, será sempre. Porque os heróis não o são pelos resultados, mas pelo exemplo de força e perseverança.

Há 3 anos conheci um outro homem que, além do meu pai, foi a única pessoa que mereceu esse lugar especial de herói no meu coração. Um herói de carne e osso, como poderemos ser todos se quisermos.

Peço-te que leias até ao fim, mesmo que te custe ou que não te interesses muito... Se o fizeres talvez aprendas com esta vida exemplar aquilo que eu tenho aprendido.

Conheci-o há 3 anos quando ambos começámos a licenciatura.
Este homem tem a força do guerreiro e é abençoado por uma vontade inabalável de deixar este mundo melhor que nos (co)move. Chama-se Eduardo Jorge.
Ficou tetraplégico com 90% de incapacidade há mais de 20 anos num acidente de trabalho/viação. Vive sozinho porque, não poder andar ou fazer a maior parte das coisas que para nós são naturais,não o impede de ter um espírito livre e de querer manter a sua independência.
Talvez já tenhas ouvido falar dele.

Entre outras iniciativas de luta pelos direitos mais básicos das pessoas com deficiência a que mais que se destacou foi ele ter feito uma greve de fome e pernoitando à porta da Assembleia da República.ver coluna à esquerda com alguns exemplos...
 

Parece que ficava mal deficientes dormirem à frente daquela instituição e o Secretário de Estado prometeu que iam fazer diversas mudanças. Passou um ano e pouco ou nada foi feito.

Vou contar-te o que é que aconteceu ao Eduardo neste ano que passou. Deixou de ter a pessoa que o ajudava, passou semanas terríveis sem apoio apropriado, a sentir-se fragilizado e sem saída, porque os apoios existentes são insuficientes e muitas vezes desadequados á realidade destas pessoas...
Continuou, mesmo assim, a trabalhar. Com o apoio de colegas da faculdade, conseguiu reorganizar-se e arranjar outra pessoa que, não sendo técnica, o ajuda o melhor que sabe e pode. De realçar que ter cuidadores preparados é essencial já que para um tetraplégico cuidados mal executados criam rapidamente graves problemas de saúde.

Agora vou-te contar uma fracção do que o Eduardo Jorge conseguiu fazer neste ano que passou, enquanto o Estado nada cumpriu.
Ele continuou os seus estudos, nunca faltou a uma prova mesmo depois de ter sido medicamente assistido durante a noite toda . Nunca deixou uma cadeira para trás.
Continuou o seu trabalho a tempo inteiro que tem impacto social e que faz a diferença na freguesia onde mora. Fez o seu estágio curricular e está a semanas de terminar a licenciatura.
Continuou a sua intervenção e luta pelos direitos dos deficientes.

Perante um homem com esta força eu, que sempre me senti guerreira, sou uma mera aprendiz.

O Eduardo Jorge é apenas o rosto de uma causa que nos deveria mover a todos. Ele não luta apenas por ele, mas por milhares de pessoas que se vêem privadas de direitos básicos muito simples.... Coisas que tu e eu temos como adquiridas.
Não pretendem mais regalias, mas sim benefícios que as coloquem em igualdade com os restantes cidadãos.

O Estado não defende o direito destes cidadãos... E por isso o Eduardo vai começar (curiosamente na Semana da Mobilidade) mais uma iniciativa...
 
180 KM - Concavada a Lisboa em cadeira de rodas pelo direito a uma Vida Independente
23, 24 e 25 de Setembro 

Um iniciativa arriscada para qualquer um dadas as condições que as estradas oferecem aos peões, às noites que dormirá ao relento e às consequências para a sua saúde por estar demasiadas horas sentado na cadeira de rodas.

Mas nada o demove (e acredita que tentámos). Ele tem uma missão e recusa-se a viver e a ser menos do que aquilo que merece!

Se leste até aqui, não preciso de te explicar porque é que este homem me toca, porque é que ele merece esta newsletter especial.
Se queres apoiarvê na coluna à esquerda como fazê-lo.

Se leste até aqui, acredito que não serás indiferente e que farás o melhor que puderes para apoiar este CIDADÃO EXTRAORDINÁRIO!

Grata por tudo o que escolheres fazer para o apoiar.


Cláudia Félix Rodrigues
www.1000caminhos.com

MARCAÇÕES:  93 533 4087 /  info@1000caminhos.com
 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

180 kms em cadeira de rodas pelo NÃO à institucionalização compulsiva


PELA DIREITO A UMA VIDA INDEPENDENTE. PRECISAMOS DE TODOS.

Valores pagos pelo Estado às instituições para nos tirar do nosso ambiente familiar:

- Lares residenciais: € 951,53 acrescido da nossa coparticipação que pode atingir os 85% dos nossos rendimentos, fora extras como fraldas, medicação, etc;
- Centro de Atividades Ocupacionais: € 482,45 mais 40% dos nossos rendimentos;
- Famílias de Acolhimento: € 672,22 mais uma percentagem dos nossos rendimentos.
... mas nossa família se cuidar de nós recebe máximo de € 177,79

PAGAM TANTO PARA NOS INSTITUCIONALIZAREM

Fonte: Movimento (d)Eficientes Indignados

Solidários com o meu protesto de 180 kms em cadeira de rodas pelo direito a uma Vida Independente

Sobre a minha viagem de protesto: http://tetraplegicos.blogspot.pt/2014/08/concavada-lisboa-em-cadeira-de-rodas.html Tenho que partilhar convosco dois dos vários emails de incentivo que recebi, e que me tocaram de uma maneira muito especial. É nestes gestos que vou buscar muita da força que neste momento necessito.

1º enviado por Mário Relvas, pai de um filho autista:

Bom dia,

Está a chover em Braga. O céu está escuro e troveja.  Renovam-se as estações do ano. Os dias começarão a diminuir e a noite chegará mais cedo.  É o Outono que está à porta e nos recorda que a viagem do tempo prossegue inexoravelmente.

O silêncio reina pela manhã. Muitos bracarenses passaram a noite em branco. A cidade, neste domingo cinzentão, começará a retomar a sua normalidade lá mais para a hora do almoço.

Muitos outros ao longo do resto do país não resistiram à febre de sábado à noite e também passaram a noite em branco.

É bom que as pessoas se divirtam, de quando em vez, para espairecer. Com tino.

Mas não podemos esquecer a realidade dos diferentes e de quem com eles vive em dedicação. E dos que vivem sem grande apoios e buscam apenas um pouco de conforto e ânimo.

Há casos que não se entendem: "trataram-me pior que um cão". Este é um velho caso e alerto para as subempreitadas: 200 mil casas têm TV pirata - a EDP está a acabar com elas formando técnicos próprios com formação geral e específica e devidamente credenciados para poderem atuar no terreno. Este eu também entendo: Vítor Bento confirma saída do Novo Banco - há que vender o que resta do banco o mais rápido possível. E também entendo o motivo porque asFinanças atacam criadores de cães - há por aí gente a ganhar muito dinheirinho com o negócio dos animais de estimação sem declararem um cêntimo ao fisco.

Mas o principal motivo porque escrevo este correio é para que nos lembremos do Eduardo Jorge e de tantos como ele que gostariam apenas de ser um pouco mais confortados na sua vida diária.

Quanto a nós, cá em casa: vamos passar mais um domingo em volta do Bruno e do seu autismo - cansativo por hiperativíssimo, mas honestíssimo porque desconhece o oportunismo e as falcatruas da vida.

E vou para a cozinha desforrar-me na feitura de umas favas estufadas com frango que leva uns condimentos especiais a que não poderia faltar um pouco do meu molho especial de piripiri. O seu principal ingrediente já nasce aqui na varanda - ver foto em anexo.

Deixo-vos um texto e o endereço de correio eletrónico do Eduardo Jorge para o caso de o querem contatar: tetraplegicos@gmail.com

Cumprimentos e bom domingo.


2º email é da autoria do Tó Silva (tetraplégico), que fez o favor de o enviar para todos os grupos parlamentares:

Aos representantes do ...

Exmos. Senhores

Escrevo-vos na condição de deficiente motor, tetraplégico, dependente de terceiros
Tendo em consideração que o vosso partido se preocupa com causas sociais, venho pela presente informá-los e também pedir um pouco de atenção e ajuda para uma causa que vem sendo desconsiderada há muito tempo.
De 23 a 25 de Setembro, um colega tetraplégico, fará uma viagem de cadeira de rodas desde a Concavada (Abrantes) até Lisboa, com o intuito de chamar a atenção para o direito que uma pessoa com deficiência motora tem de ter uma vida independente.

Já no ano passado este senhor, Eduardo Jorge, propôs-se fazer uma greve de fome em frente à Assembleia da República, sendo na altura abordado pelo Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Agostinho Branquinho , que o demoveu da referida greve de fome, com a promessa de que iriam ser desenvolvidos meios de auxílio. Mentira. Até hoje nada foi feito. Portanto, apelo, junto do vosso partido com toda a estima que ele merece, para que apoiem esta causa e se informem da situação.

O Eduardo Jorge tem a coragem de levar a cabo esta façanha que pode ser perigosa para a sua própria saúde. No entanto, ele representa um grande numero de pessoas que estão dependentes de terceiros e, como tal, não têm independência para fazer uma vida normal, nem meios para conseguirem expor os seus problemas. No fundo, é como se fossem obrigadas a cumprir uma pena pelo crime de serem deficientes motores, simplesmente porque não têm quem as auxilie. São um grupo de pessoas sem voz, mas com problemas reais e com um pedido simples: ter quem as auxilie no dia-a-dia.

Neste momento tenho quem cuide de mim, uma MÃE espectacular e lutadora que tudo faz para que eu tenha o mínimo de qualidade de vida, estudasse e trabalhe (e tantas vezes à custa da sua própria qualidade de vida). Pergunto-me: qual é o agradecimento que tem por isso?
Considero-me uma pessoa inteligente, com iniciativa e trabalhadora. Sim, porque estudei, tenho emprego e participo em actividades de âmbito social. Isto tudo graças à minha mãe, que se certifica que tenho independência para o fazer. Veste-me, lava-me, cuida da minha higiene, alimenta-me, levanta-me e deita-me; mais umas quantas coisas que necessito.

Interrogo-me frequentemente, se quando a minha mãe não conseguir cuidar de mim, terei de abdicar da minha vida actual?
Neste momento a resposta é sim. Deixaria de ser uma pessoa participativa na sociedade, para ficar confinado a um lar, porque o Estado não me concede a hipótese de ter um cuidador. É triste e frustrante, pois tenho muito a contribuir para a comunidade.

 Por vezes fico triste quando vejo na televisão programas que transmitem pessoas com deficiência, dependentes, felizes e contentes porque têm por trás uma independência financeira que lhes permite ter um certo conforto e independência. Isso não corresponde à realidade. Trata-se apenas de uma pequena percentagem.
Tal como eu existem inúmeros casos parecidos, sem independência, mas com o direito de a ter. Coisa que não acontece.

Fazer uma viagem como esta, de cadeira de rodas, pode parecer algo simples para quem é leigo no assunto. No entanto, isso acarreta vários problemas físicos, desde o simples facto de poder ser atropelado, pois a maior parte das estradas não têm passeios acessíveis; ao poder ganhar uma ulcera de pressão; até poder ganhar uma tendinite por dirigir tanto tempo; isto e muitos mais factores perigosos.

Portanto esta iniciativa não é apenas um acontecimento "bonito", mas uma chamada de atenção para este drama, que o Eduardo Jorge defende, por ele, e principalmente por todos que não se podem manifestar, mesmo colocando em risco a saúde.

Por isso, mais uma vez reitero a minha consideração pelo vosso partido e peço que apoiem esta iniciativa, informando-se sobre esta luta por uma vida independente e contribuindo para que sejam criados meios de apoio.
Peço que enviem alguém para falar com o Eduardo Jorge, que certamente lhes explica todos os porquês desta revindicação. 

Podem seguir o blog dele em: tetraplegicos.blogspot.com 

Certo que este mail e toda esta causa, terão a melhor das considerações da vossa parte.
Subscrevo-me com estima e consideração.

Eu: Através destes dois exemplos de emails deixo um obrigado muito especial a todos os que me têm contatado a solidarizar-se com a minha ação.  Professor António Carraço, a sua carta emocionou-me.

Eduardo Jorge 

sábado, 13 de setembro de 2014

180 kms em cadeira de rodas. Coragem, desespero ou revolta?

Friozinho na barriga...

Sobre a viagem de 180 kms em cadeira de rodas que iniciarei no próximo dia 23: http://tetraplegicos.blogspot.pt/2014/08/concavada-lisboa-em-cadeira-de-rodas.html uma leitora escreveu o seguinte: "É necessário ter muita coragem, desespero ou então muita revolta contra o sistema político para ter uma atitude destas. Que é muito digna pela parte deste tetraplégico..." Respondo: "São as três coisas, coragem, desespero e revolta".

Isto porque está a chegar a hora de me por à estrada. Em situações idênticas não sou de me por a pensar e preocupar como o que pode ou não dar errado. Avanço, e será o que tiver de ser. Mas depois de vários alertas para isto e aquilo, não é que senti um friozinho na barriga...A hora está a chegar, existe previsão de chuva para esses dias, e sempre são 180 kms que vou percorrer em cadeira de rodas, durante 3 dias, por estradas desconhecidas.

Um amigo pergunta: "tens quantos pneus e câmaras-de-ar subselentes?" Outro pergunta se nas perigosas curvas do Tramagal e sei lá mais onde, se era acompanhado por um veículo a avisar que circulava um veiculo lento. Claro que tento preparar as coisas de maneira a alcançar os objetivos propostos, mas nada mais que isso, pois a logística nunca é fácil, até porque neste caso estou praticamente sozinho a preparar tudo. Também já me perguntaram se levo uma caixa de ferramentas, se requisitei bombeiros. Há quem pergunte o que farei se chover, tiver frio de noite, outros se calor apertar, outros ainda como vou fazer para me alimentar, como carregar baterias da cadeira de rodas, etc.,

É claro que nem eu sei o que me espera, e se conseguirei ultrapassar obstáculos que venham a surgir! Nunca viajei mais que 4 kms num dia. Não faço ideia se a cadeira aguenta, existe o perigo de furarem os pneus, se meu organismo vai suportar o desgaste físico e mental, se terei perdas, algo mais grave...perigos...até porque todos sabemos como é cruzarmo-nos, ou ser ultrapassados por veículos pesados. Até parece que o vento nos vai derrubar.

Ano passado quando fui realizar a greve de fome, também fui alertado para eventuais perigos, mas nem sequer pensei neles, se o fizesse talvez nem avançasse, eu fui para a grave de fome convicto que tudo poderia acontecer, inclusive a morte. Desta vez irei com o mesmo espírito, preparado para tudo, e não vou mais uma vez parar para pensar. Única certeza que tenho, é que como vivo não é viver. Não quero esta vida para mim. Tenho direito a mais, quero mais, e enquanto tiver forças lutarei, desta, ou de outra maneira, mas lutarei sem medo, pois o direito a lutar esse ninguém me o pode tirar.

Como refere Merle Shain, só há duas maneiras de abordar a vida: Como vítima ou como um corajoso lutador. Temos que decidir se queremos agir ou reagir. Dar as cartas ou jogar com um baralho viciado. E, se não decidirmos como queremos jogar com a vida, ela joga sempre connosco.

A propósito, deixo-vos abaixo um texto do querido amigo Jorge Falcato, sobre o assunto que me leva a sair à rua:

IMAGINA-TE
Na cama.
O sol já te acordou e são horas de levantar.
Esperas.
Já cá deviam estar para te tirarem da cama, levarem-te para o banho, lavarem-te os dentes, pentearem-te.
Imagina que estavas à espera.
Na cama.
Que ninguém chegava.
E que não conseguias levantar-te. Nem tomar banho. Nem lavar os dentes. Nem penteares-te.
(O corpo é um peso)
Era fodido, não era?
Há quem viva assim. 
Todos os dias.
Todos os anos.

EU ACRESCENTO AO TEXTO: Isso quando temos alguém que nos possa abrir os estores para permitir a entrada do sol, e quem nos possa dar banho todos os dias. Já nem me lembro de ter esse privilégio de tomar banho dois dias seguidos. Banho debaixo do chuveiro, e não banho de gato na cama.

Eduardo Jorge