sábado, 30 de junho de 2012

Junta médica deu condutor tetraplégico como apto a conduzir motos

Uma junta médica convocada para avaliar um tetraplégico que pretendia conduzir um carro adaptado deu o paciente como apto a conduzir motas e veículos de embraiagem automática ou assistida. O homem, com uma incapacidade comprovada de 85%, fala em erro grosseiro e pretende que a reavaliação seja feita por especialistas em Alcoitão, mas pelas contas, corrigir a situação irá custar-lhe cerca de 500 euros.


sexta-feira, 29 de junho de 2012

Petição: Exames na sua residência para quem tem mobilidade reduzida

Meus colegas de curso fizeram-me esta linda surpresa. Se concordar com eles, assine e divulgue por favor. Aceitam-se assinaturas de cidadãos de todo mundo.

Caros Colegas

Iniciámos uma petição para que o nosso colega Eduardo Jorge possa fazer os exames na sua casa.

Podem assinar a petição em:
http://www.avaaz.org/po/petition/Exames_na_sua_residencia_para_quem_tem_mobilidade_reduzida/?cquQgdb

Contamos com a vossa assinatura e que divulguem o mais possível esta petição.

O texto da petição a ser enviada ao Senhor Reitor da UAb é o seguinte..

"Exmo. Senhor Reitor da Universidade Aberta

Estamos regozijados por termos no seio da nossa comunidade da UAb seres humanos extraordinários.
De todas as pessoas que fazem parte desta instituição que é a Uab temos uma pessoa extremamente especial que nos serve de exemplo e inspiração, pela sua amizade, abnegação e vontade de vencer todos os obstáculos que lhe são colocados.

Essa pessoa muito especial é o nosso amigo Eduardo Jorge, tetraplégico com 90% de incapacidade, do 1º ano da Licenciatura de Ciências Sociais. O Eduardo Jorge está a viver os momentos mais felizes da sua vida neste seu trilho que está a traçar juntamente connosco pela Uab, apesar de todos os desafios.
O Eduardo Jorge tem extremas dificuldades em se deslocar para fazer os respetivos exames, para além do aspeto relativo à sua mobilidade reduzida, tem ainda que gastar montantes consideráveis para proceder à sua deslocação ao local de exame.

É por este motivo que apelamos ao Exmo. Senhor Reitor que tome as medidas adequadas no espírito da Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, que tem como depositário o Secretário-Geral das Nações Unidas e aprovado pela nossa Assembleia da República em 7 de Maio de 2009, na garantia da inclusão e igualdade de direitos humanos, para que sejam tomadas as medidas necessárias pela UAb para que o Eduardo Jorge possa fazer os respetivos exames na sua residência. Esta iniciativa não se esgota no Eduardo Jorge, ele é apenas o exemplo que preparará a Universidade para casos semelhantes ao seu, que eventualmente já frequentem a Uab ou de outros que gostariam de o fazer, mas não podem devido à sua reduzida mobilidade.

Sabendo nós que a nossa Universidade é pioneira e tem os recursos humanos e “know-how” relativamente às tecnologias de informação e comunicação necessárias à implementação desta nossa humana vontade, será para todos nós Uabianos um motivo de orgulho se também for essa a sua vontade, que permita a concretização deste nosso querer fazer e contribua assim para a construção do constante aprender e saber fazer, num mundo de desafios em mudança permanente.

Pelo Grupo de Alunos do 1º Ano do curso de Ciências Sociais"

Blog de Eduardo Jorge:
http://tetraplegicos.blogspot.pt/2011/09/estou-feliz-consegui-um-emprego-e.html#links

Eduardo Jorge em ação:
http://youtu.be/8zTthn5lyxk


Eu: como agir perante gestos tão bonitos como este?

Obrigado amigos. Nem sei como agradecer. Não imaginam o quanto é humilhante sentirmos-nos excluídos. Dói muito sentir que as PCD são atiradas para o lado como se nada valessem. Só queremos oportunidades iguais, nada mais. Temos as melhores e mais completas leis do mundo, mas não são cumpridas, de que valem...?

É com estes pequenos/grandes gestos e pessoas conscientes da sua cidadania que tenho esperança um dia consigamos mudar o rumo da história. No inicio dos tempos éramos simplesmente eliminados. Não "éramos perfeitinhos" não servíamos para nada. Graças pessoas como vós, pouco a pouco houve pequenas melhoras e hoje já não somos assassinados ao nascer. Vocês são os melhores colegas do mundo.

Obrigadooooo!

E quando um casal de deficientes se "atreve" a namorar?

"Quando duas pessoas se amam e querem viver juntas deviam ter direito à sua sexualidade. Mas não têm. Um deficiente é, para a sociedade, um ser assexuado. Este é o primeiro obstáculo e a família o primeiro oponente". As palavras são de Isabel Barata, que esteve na passada semana em Abrantes a apresentar o livro "Unidos no Amor contra a indiferença", que escreveu juntamente com o seu namorado, Manuel Matos, em 2009. O livro pretende ser um alerta contra a indiferença de uma sociedade que deixa os seus cidadãos com deficiência serem destituídos do direito básico de constituírem família e serem felizes.

Isabel Barata, com uma incapacidade física de 84% e Manuel Matos, com 99,9% de dependência, namoraram três anos. Durante todo o tempo da relação lutaram "pelo direito ao afecto, à sexualidade, a uma vida inteira e normal", encontrando obstáculos de todos os lados. O último dos quais foi o epílogo da própria relação: Manuel não chegou a ver o livro escrito a quatro mãos publicado uma vez que faleceu em Maio de 2009, alguns dias depois da editora ter acedido à chancela da obra.

"Este livro é o nosso filho. A razão da minha existência", refere Isabel Barata a O MIRANTE momentos antes da apresentação. O convite para estar em Abrantes partiu do amigo Eduardo Jorge, tetraplégico que vive na Concavada e que se emocionou com o testemunho do casal, identificando-se com as suas angústias.

Isabel Barata, economista, e Manuel Matos, professor, conheceram-se por intermédio de um amigo comum e trocaram bastante correspondência antes de se encontrarem pela primeira vez. Foi ela que foi de Lisboa ao Porto, ao seu encontro, uma vez que era mais fácil deslocar-se.

"Um amor de dentro para fora", como descreve, e que foi oficializado perante as famílias com o primeiro beijo.

As famílias não encararam bem o facto de duas pessoas com tantas limitações físicas quererem viver juntas. "Foi uma luta permanente. Há muitas limitações. Não há privacidade. O Manuel tinha 50 anos e eu tinha 38, mas se os pais não concordarem não há namoro para ninguém", atesta.

Manuel Matos, que nasceu com uma doença degenerativa e progressiva ao nível muscular, mexia apenas um polegar mas não era por isso que amava menos Isabel. "A minha mãe dizia-me: o que é que vai fazer ao Porto se o Manuel só olha para ti? Há muitas maneiras de amar. Só o olhar do Manuel dava-me mais força", disse.

Para Eduardo Jorge, que ficou tetraplégico há 20 anos na sequência de um acidente de viação, os casais constituídos por pessoas portadoras de deficiência deviam ter direito a um cuidador específico, uma espécie de terapeuta sexual. "Se nos lares, quando existem casais de velhinhos, há espaço para que privem num quarto, por que é que um casal de deficientes não pode ser ajudado para poder desfrutar da sua sexualidade em pleno?", interroga.

Fonte: O Mirante

Brevemente haverá a continuação e novidades...

Faleceu o Dr Carlos Lima

Um dos médicos e investigadores portugueses mais reconhecidos internacionalmente, Carlos Lima Costa, morreu na sexta-feira, 22 de Junho, vítima de enfarte. Na altura estava na sua casa em Badalinho, Vila Franca de Xira. Carlos Lima Costa, 57 anos, neurologista e investigador no Hospital Egas Moniz em Lisboa, era coordenador de uma equipa responsável por devolver aos doentes paraplégicos e tetraplégicos a possibilidade de voltar a caminhar através de uma técnica que usava células da mucosa olfactiva para tratar lesões da medula espinal.

Numa entrevista concedida a O MIRANTE em Outubro de 2011 dizia que se Portugal investisse em ciência como investe em futebol seria o melhor do mundo. Dizia-se alarmado com a fuga de jovens investigadores para o estrangeiro e confessava que Vila Franca de Xira era uma cidade deprimida. Na sessão da Assembleia de Freguesia de Vila Franca de Xira de 25 de Junho foi aprovado um voto de pesar pela morte do investigador. O presidente da assembleia, Orlando Sequeira (Coligação Novo Rumo), destacou o carácter íntegro de Carlos Lima Costa e a sua notoriedade internacional.

Fonte: O Mirante

Ganda tetra!



Quando for grande quero ser assim. Aqui se vê bem as diferenças que podem existir entre tetraplégicos com mesmo nivel de lesão.
Eu nem com a minha cadeira de rodas elétrica conseguiria fazer isto.

Parabéns, campeão!

Doenças crónicas. Vamos até à Assembleia da República?

Estimados Dirigentes Associativos,

Doentes Crónicos / Deficientes, Grupos Parlamentares da AR

Braga, 29 Junho de 2012

Assunto: Convite.

Venho comunicar-vos que vamos ser recebidos, na Assembleia da República, pelos vários Grupos Parlamentares, desta Assembleia Parlamentar, no sentido de alertar os partidos, com assento parlamentar, para “pequenas” alterações, que podem ser feitas no âmbito do trabalho e que podem ser comtempladas no futuro Estatuto do Doente Crónico ou em nova futura legislação.

BE – quinta-feira, dia 5, às 15h00;

· CDS/PP – quinta-feira, dia 5, às 15h00;

· PCP – sexta-feira, dia 6, às 15h30;

· PS, PSD e os Verdes ainda não se manifestaram.

Como Vossas Exas. sabem, no próximo dia 6 de julho pelas 11h vai ser discutida, em sessão plenária da Assembleia da República, a petição nº 42/XII “Petição Criar e Aprovar o Estatuto do Doente Crónico, tal como a Tabela Nacional de Incapacidade e Funcionalidades da Saúde” (alguns deslocam-se do Norte).

Estão, desde já, convidados para assistir a um ato tão importante, como este, e de grande interesse para todos nós. Seria de bom-tom encher as Galerias, mostrando assim o nosso interesse e quantos somos. Convidem os Vossos.

Gostaríamos de ter o apoio da vossa associação contando com a vossa presença quer nas reuniões com os grupos parlamentares quer nas galerias da AR. Assim, pedimos que nos informem da vossa disponibilidade para o efeito. Mais tarde, informaremos a hora e o local para nos juntarmos para as reuniões. Necessitamos de saber o nome do(s) vosso(s) representantes e caso se desloquem em viatura própria, agradecemos que nos facultem a matrícula para poderem estacionar no parque exterior do edifício. Ressalvamos que o estacionamento está sempre condicionado à existência de lugares disponíveis.

Questões envidas aos Exmos. Srs. deputados:

Por exemplo, um doente com cansaço crónico (esclerose múltipla, fibromialgia, …) poderá ter um horário reduzido? Ou uma isenção temporária do seu local de trabalho para descansar? Neste caso, sai mais barato ao Estado esta pequena alteração, em vez de o doente ficar de baixa ou pedir a reforma antecipada por invalidez.

Pode existir, para um doente crónico, uma baixa parcial? Isto é, devido à sua saúde, o doente pode ficar de baixa uma tarde ou uma manhã sem ter de ficar o dia inteiro?

A grande maioria dos doentes crónicos quer trabalhar, mas para isso é necessário fazer ajustes, nomeadamente nos objetivos a cumprir.

Uma doença crónica, em muitos casos, obriga a ter várias baixas ao longo do ano. Injustamente, é descontado os dias que faltam como uma doença normal. Além de que, é exigido o mesmo ritmo de trabalho, no que nas crises que o doente tem ao longo do ano. Isto não parece justo.

Este tipo de doenças, quando não devidamente tratadas e acompanhadas, podem ser incapacitantes.

O Estado terá menos despesas se criar condições para os doentes crónicos. Por exemplo, com alguma isenção de horário o doente evita ficar de baixa o dia todo e assim adiar a reforma antecipada por invalidez.

Atualmente, um doente com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) tem uma esperança média de vida de 3 anos. É justo / digno obrigar este doente a trabalhar até morrer?

Com esta petição, de iniciativa popular, do interesse de todos os cidadãos em geral, pretendemos que a AR crie e Aprove o Estatuto Jurídico do Doente Crónico (EDC) e de uma Lei Quadro da Doença Crónica com base nos princípios estabelecidos pela Classificação Internacional da Funcionalidade (CIF) e da Incapacidade da Saúde (recomendada pela OMS) e a consequente Tabela Nacional de Incapacidade e Funcionalidades da Saúde (TNIFS), conforme as classificações da CIF em substituição da Tabela Nacional de Incapacidades por Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais (TNI).

A legislação, existente em Portugal, não define com clareza e rigor técnico-científico o que é doença crónica, sendo suportada em documentos oficiais dispersos e muito incompletos.

Em Portugal, estima-se que milhares de pessoas sofrem de doença crónica. Um doente crónico debate-se com vários problemas burocráticos causados pela falta de diplomas atentos às suas dificuldades que passam por problemas físicos, emocionais e psicológicos, familiares, sociais e ainda profissionais e educacionais.

Para ver reconhecida a sua situação, tem de solicitar um atestado multiusos. Contudo, porque não existe uma TNIFS, a avaliação de incapacidade é calculada de acordo com a TNI (Decreto-Lei nº 352/2007 de 23 de Outubro e Decreto-Lei nº 174/97 de 19 de Julho). Em Portugal, as juntas médicas, ao atribuírem os diferentes graus de incapacidade, utilizam uma Tabela que se aplica às doenças profissionais e acidentes de trabalho e viação. Esta situação cria muitas injustiças e não salvaguarda os doentes crónicos pois, para as mesmas doenças, podemos ver aplicados critérios diferentes. A atual TNI, aprovada em 2007, é uma revisão atabalhoada da antiga TNI de 1993, que serviu essencialmente para reduzir o valor atribuível a algumas incapacidades.

Perdeu-se a oportunidade de uma revisão consistente que reconheça o direito à atribuição de incapacidade a algumas doenças crónicas, das quais os exemplos mais flagrantes são a ELA e a HIV-SIDA. As atuais juntas médicas são uma lotaria. Por exemplo, a um doente com um cancro da mama a junta médica atribui 70% ± 15%, a um doente de esclerose múltipla atribuem 50% ± 30%. Se no primeiro caso a variabilidade é de 30%, no segundo é de 60%. Poder-se-ia pensar que isto se deve ao estado de saúde de cada um. É verdade, mas esta variabilidade depende mais da junta médica e, como esta e o médico do doente (que fez o relatório) fazem a analogia à TNI.

Alguns destes doentes lamentam-se dizendo que a doença Crónica pode ser deveras incapacitante, pode acontecer a qualquer um de nós em qualquer idade e quando menos se espera. Dentro do "universo" das doenças crónicas cabem todas as doenças para as quais já não existe retorno. E, por muito saudáveis que ainda sejamos, todos nós somos potenciais doentes crónicos. Lembramos que cabe ao Estado a competência para criar condições para que um doente crónico mantenha a sua dignidade e qualidade de vida.

Com a criação do EDC, pretendemos definir o que é um doente crónico e quais são as doenças crónicas. E assim, serem reconhecidas as incapacidades em função da doença e não da TNI (“tabela das seguradoras”).

Estes são alguns factos que conhecemos e, por isso, considera-se urgente e de extrema importância a criação deste Estatuto. É muito importante esta alteração à realidade atual.

Apelamos que o Vosso grupo parlamentar, não só vote a favor, como faça alguma coisa para a criação do EDC. Uma petição aprovada, por si só, não vale nada, é necessário que pelo menos um grupo parlamentar produza propostas de legislação e que estas sejam aprovadas.

Nota: A petição deu entrada na AR em 2011.09.27 com 10863 assinaturas [DAR II série B Nº.71/XII/1 2011.10.22 (pág.4-4)]. Baixou à XII Comissão (de Saúde) em 2011.10.12 e nessa data foi nomeado o relator, a Sra. deputada, Dra. Conceição Bessa Ruão. O Relatório Final foi enviado a sua Exa. a Presidente da Assembleia da República em 2012.05.09.

Com os nossos melhores cumprimentos,

O 1º subscritor da petição e Presidente da Direção da TEM

Paulo Alexandre da Silva Pereira

(917505375)

Enviado por e-mail

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Convite: Unidos no Amor Contra a Indiferença em Abrantes

Abrantes - Biblioteca Municipal António Botto

Apresentação da obra «Unidos no amor contra a indiferença"

No dia 13 de junho, pelas 18h00, a Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, irá acolher a apresentação da obra «Unidos no amor contra a indiferença», da autoria de Isabel Barata e Manuel Matos.

Sinopse:
Testemunho escrito a quatro mãos que é um grito pela dignidade e pelo direito ao amor, ao afeto, à sexualidade, a uma vida inteira e normal.
Um testemunho de dois cidadãos portugueses - um professor do ensino secundário e uma economista cuja atividade se tem desenvolvido sobretudo em IPSS - a quem têm sido negados ou sonegados esses direitos básicos em virtude de pertencerem a um grupo de pessoas que são normalmente invisíveis aos olhos da nossa sociedade - o dos cidadãos chamados deficientes.

Uma história de amor poderosa e comovente e um testemunho que mudará necessariamente para sempre em quem o ler o olhar em relação a estes nossos concidadãos.

A entrada é livre

Convento de S. Domingos - dia 13-06-2012 - às 18h00

Tel.: 241 379 990 / E-mail: biblioteca.animacao@cm-abrantes.pt

PS: Lá estarei com muito prazer a apresentar esta magnifica obra/mensagem. Apareçam

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Minha história – Malditas escaras… 9ª parte

Malditas escaras...iniciei no texto anterior este assunto.

A primeira escara atingiu-me na região do cóccix durante o primeiro internamento, enquanto estava acamado na cama tipo Stryker e com tração cervical. Demorou a fechar, mas não alterou em nada a minha rotina. Não fazia ideia o que era uma escara, cóccix... a segunda aconteceu-me meses depois, enquanto estava internado numa clínica particular. Desta vez, no trocânter direito. Atrasou minha reabilitação e deixou-me num estado lastimável. Sofri muito até me ver livre dela. Foi necessário cirurgia plástica e vários meses de cama e tratamento. Fui transferido para o Hospital Curry Cabral. Ainda bem, porque fizeram um grande trabalho e nunca mais tive problemas naquela região. Inclusive, cada vez que outros médicos vêm a grande cicatriz (só numa parte aplicaram 76 agrafos) falam em voz alta que está ali um excelente trabalho. Para mim está feio e esquisito...mas o certo é que resultou e sei que não foi fácil. Tiveram que raspar uma parte do osso e o orifício aberto infectado tinha uma respeitável dimensão e profundidade. Inclusive, os enfermeiros, ao mudar o penso, comentavam com frequência que o buraco comia imensas compressas.

Tive outras menores, não úlceras devido a pressão, mas sim queimaduras nas pernas e pés por me terem colocado saco de água quente. Como não tenho sensibilidade nenhuma, as queimaduras foram graves. Demorou bastante tempo até fecharem por completo. Era inverno e usar sapatos e meias de gola alta como lhes chamo (aquelas de algodão -agora térmicas- que nos protegem até a virilha) não facilitava a cicatrização.

Tive outra queimadura profunda na axila. A única maneira que conseguia me alimentar enquanto acamado era virado em decúbito esquerdo. Ficava com o braço direito livre (sendo o que tem mais força e coordenação) e conseguia levar a comida à boca, sem ajuda. Neste caso, era sopa. Tinha que ficar com a tigela bem encostada ao braço esquerdo para não cair e entornar o conteúdo. A tigela estava muito quente e queimei-me. Foi mais fácil a cicatrização porque era num lugar onde não fazia pressão e podia estar sem penso.

Não posso deixar de relatar uma história muito esquisita e até sinistra que me aconteceu. Há dias que eu era obrigado a ficar sozinho o dia todo na cama. Quando sou obrigado a ter de ficar mais de 4 horas no mesmo decúbito, como é o caso nos dias em que fico sozinho, fico de decúbito ventral (barriga para baixo). Esta é uma posição difícil e desconfortável e no início temos dores insuportáveis, ou devido reconstrução da coluna cervical, ou falta de ar…mas vamos nos acostumando. Não tive ninguém que me levantasse e lá tive que ficar de cama o dia todo e, neste caso, deitado de barriga para baixo. Ao chegarem a casa e ao me virarem depararam com um grande concentrado de formiguinhas (aquelas minúsculas que surgem no verão) de volta do meu tornozelo do pé direito.

Existia uma imensidão destes insetos em cima do meu pé, e o tornozelo estava sem pele. Já tinham comido literalmente a pele e continuavam a avançar. Demorou algum tempo a cicatrizar. Este episódio mexeu bastante comigo. Casa limpa, embora saibamos que estas pragas de formiguinhas, todos os verões, nos criam problemas, mas se apareciam, íamos no seu formigueiro e, através de inseticidas próprios, resolvíamos a questão, mas nunca pensei que acontecesse algo parecido. Pior foi a sensação de saber que estava tranquilo e elas a alimentarem-se de mim sem perceber nada. O médico achou que deveria estar com os valores de Glicemia no sangue altos e que elas o pressentiram, mas fiz análises e tudo estava normal.

E, por fim, minha última escara aconteceu entre 2001 e 2005. Certo dia apareceu uma mancha de cor esquisita no ísquio, por baixo nádega esquerda. Ao examinar a nádega verificou-se uma pequenina greta. Para mim o melhor tratamento é não fazer pressão sobre a região afetada e foi essa a minha primeira preocupação, por isso fiquei de cama e nunca mais me virei para cima da região afetada. O médico examinou-me, medicou-me e dois meses depois tudo estava aparentemente normalizado. Comecei a fazer levanto para a cadeira de rodas pouco a pouco, primeiro dia durante 45 minutos, segundo dia uma hora...e fui prolongando o tempo. Ao quarto dia ao deitar-me penso tinha sangue. Primeira decepção...comecei tudo outro vez...cama até que fechasse e cicatrizasse...pequenos levantes...voltou a verter sangue.

Comecei a consultar vários especialistas, e solução não havia. Teria que ficar para sempre acamado, inclusive estive internado durante uns dias na CUF Infante Santo para ser examinado com calma, e nada. O veredito foi que se me operassem um ano depois estaria igual, invocavam que tinha pouco músculo para ser transplantado porque na primeira escara que tive tinham-me eliminado grande quantidade. Vim para casa muito desanimado e faltava-me consultar com uma diretora da cirurgia plástica do Hospital São José. Marquei a consulta e lá fui eu. Ao chegar, enfermeira e auxiliares transferem-me para uma marquesa e deixam-me de rabisque para o ar, tiram o penso e chega a médica, que a primeira coisa que diz foi: onde está o dreno? Eu respondi que nunca deixei chegar ao ponto de infectar e por isso não usava dreno. Prontamente respondeu que aquilo estava bem, ainda por cima saia sangue limpinho, tinha boa aparência e que não fizesse pressão sobre a região afectada. Mas tudo a mil por hora e desapareceu. Sai da sala e fui procurá-la.

Com muito custo, lá me atendeu no seu gabinete. Foi obrigada a ouvir toda a história. Que andava naquela situação há quase 3 anos. Foi quando assumiu que não era normal, que me receitaria uns produtos antiescaras novos (spenco) e que fosse dando notícias. Ainda comprei a almofada antiescaras mas nada resolveu. Nesse dia quase que minhas esperanças vão todas por água abaixo. Cheguei a pensar levantar-me para a cadeira e fazer uma vida normal para que assim a feridinha virasse feridona e infectasse ao ponto de ficar como a primeira. Se aquela médica achava que tinha dreno, era porque me esperava já com região podre...

Minha sorte foi não ter desistido. Certo dia ouvi falar muito bem sobre um cirurgião plástico que dava consultas no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa. Falei com a minha seguradora e lá vou eu. Ao ver minha pequena e, aparentemente, inofensiva feridinha logo me informou que só com cirurgia me podia resolver o problema. Nem quis acreditar. Pela primeira vez alguém me deu esperanças. Aceitei de imediato e fiquei logo internado para realizar exames e análises. Dois dias depois fui operado. O médico me visitou no dia seguinte e tentei saber o que tinha. Queria e precisava muito entender porque só ele me quis operar. Explicou-me que a coisa lá dentro estava feia. Parece que a infeção vinha de dentro para fora. Cá fora tudo mais ou menos normal porque nunca deixei infectar a feridinha, mas dentro havia uma grande infeção que era o que fazia a pele rebentar continuamente e verter líquidos. Que a operação tinha corrido bem, mas a partir daquele dia só poderia ficar sentado na cadeira de rodas o máximo de cinco horas seguidas e se não levasse esse fato em conta voltaria a ter a escara. Felizmente neste momento fico uma média de 8 a 9 horas contínuas e diárias sentado na cadeira de rodas e nunca mais tive problema algum. Criei foi algumas técnicas para tentar proteger a região da cirurgia, como por exemplo: aprendi a fazer um gênero de push-ups (aliviar rabisque da cadeira), enquanto acamado JAMAIS me viro sobre a região para não fazer pressão (dai ter optado por dormir de decúbito ventral)...

Devo minha melhoria de qualidade de vida àquele médico. Foram 3 anos praticamente acamado. Felizmente desde esse acontecimento (2005) que nunca mais tive nenhuma escara e espero continuar afastado delas por muito e bom tempo. Afinal comecei esta minha coluna para o Portal Vida Mais Livre, com intenção de finalizar (por agora) minha história, escrevendo sobre minha adaptação à vida fora dos hospitais e acabei por escrever sobre escaras e afins...sendo assim fica para a próxima vez o final.

Continua…

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Novo regime de transportes de doentes não urgentes entra hoje em vigor

O novo regime de transporte não urgente de doentes entra hoje em vigor, deixando as ambulâncias de ter a exclusividade neste serviço, que passa a abranger os utentes com incapacidade física superior a 60 por cento e insuficiência económica.

Estas são algumas das novas condições para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) assegurar o transporte não urgente de doentes, que é garantido em casos de "transporte para consultas, internamento ou cirurgia de ambulatório, tratamento ou exames complementares de diagnóstico e terapêutica" e também no regresso a casa do doente após a alta de internamento ou da urgência.

Segundo as condições definidas, o SNS assegurará os encargos com o transporte não urgente do doente sempre que este prove insuficiência económica e "quando a situação clínica o justifique", designadamente nos casos de incapacidade igual ou superior a 60 por cento e de "condição clínica incapacitante".

O SNS assegura ainda o transporte não urgente de doentes que necessitem de cuidados de saúde de forma prolongada e continuada e que impliquem, pelo menos, oito deslocações num período de 30 dias.

A portaria que regula o transporte não urgente de doentes, e que entra hoje em vigor, cria a figura de veículo de transporte simples de doentes (VTSD), destinado a doentes não urgentes, cuja situação clínica não faz prever a necessidade de cuidados de saúde durante o transporte.

Segundo o diploma, o transporte não urgente de doentes vai passar a ser realizado em VTSD e ambulâncias, mas o recurso a este tipo de serviço tem de ser justificado pelo médico assistente.

Estes veículos têm de ser licenciados pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), na sequência de vistoria realizada pelo INEM, ter uma capacidade máxima de nove lugares, dispor de duas placas identificadoras colocadas na frente e retaguarda e estarem equipados com uma mala de primeira abordagem, além do motorista ter que ser titular de formação específica, designadamente certificação de aptidão profissional e suporte básico de vida.

Mais informação: DNEscritos Dispersos

Fonte: DN