A assistência pessoal na minha crónica do jornal
Abarca.
O dia-a-dia de uma assistente pessoal, na vida de um beneficiário. Chamo-me Patrícia S. F. Gonçalves, tenho 44 anos, natural de Lisboa, residente na cidade de Abrantes. Fui convidada pelo Eduardo Jorge para falar um pouco de assistência pessoal.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCeacg9lapLKfyoMSF27gFUYIojKWDPXBmeMwT-O4e0ZUlwMJE_71lZ-1CriXW1iYBzF5mNS4elSbNHLdoETAP4qLSX2ZxyLL4rL75iMnjj9zrTEontUNPbqQmArotrszLJSMVvZh7SGWo/s320/abarca.jpg)
Conheci este projecto há cerca de um ano, nessa altura trabalhava num centro social para idosos como ajudante de acção directa, trabalhar com idosos requer muita paciência, carinho, atenção e dedicação, porque, por vezes, para alguns deles somos nós a sua única família e deparamo-nos muitas vezes com grandes alterações, no seu estado de saúde, com demências como por exemplo, "Alzheimer, Parkinson, ect...", acabando por ser um trabalho com o passar do tempo desgastante, tanto a nível físico como psicológico, o qual por vezes é o que pesa mais, e tem de se ter jogo de cintura. A dada altura, senti que deveria mudar, e foi quando tive conhecimento deste projecto, através do Eduardo Jorge. Soube o que era a vida independente e o que se pretendia. É um projecto piloto em Portugal que presta assistência pessoal através de CAVIs (centros de apoio à vida independente). Eu pertenço ao de Leiria.
Este projecto pretende desinstitucionalizar as pessoas com deficiência, colocando-as nas suas casas, e ter pessoas com formação e sobretudo sensibilização a trabalhar com elas, e para elas, e as mesmas deixarem de estar em lares ou ir para lares, locais nada indicados para estas pessoas, e sim reintegra-las e mantê-las na nossa sociedade. Este projeto tem a durabilidade de 3 anos, é financiado pelos fundos europeus, e o que se espera dos nossos governantes após estes 36 meses, é que seja legislado e suportado no nosso orçamento de estado, para que possa chegar a mais beneficiários.
Candidatei-me á vaga, fiz formação, e cá estou eu a trabalhar com o Eduardo desde Maio de 2019. Trabalhamos em equipa, somos 3 assistentes pessoais que intercalamos o serviço de modo a permitir ao Eduardo ficar o mais tempo possível acompanhado. Fazemos 40 horas semanais. Por ele ser uma pessoa activa, que apesar das suas limitações trabalha, e dá o seu contributo ao país como Assistente Social, e é também um activista dos direitos das pessoas com deficiência, e tem sido um lutador, é também muito graças à sua luta, determinação e muita persistência, que este projecto avançou, o que mais o apraz é ajudar os outros a fazer valer os seus direitos.
Em relação ao meu dia a dia, estando no turno da manhã começo muito cedo, desloco-me da minha casa que é em Abrantes até à Concavada, aldeia onde o Eduardo reside, começo por levantá-lo, auxiliá-lo na sua higiene pessoal e preparação do pequeno almoço. Após estas tarefas viajamos juntos, até à Carregueira (Chamusca), onde o Eduardo trabalha como Assistente Social no Centro de Apoio Social da Carregueira (CASC), durante a viagem que é cerca de 40 km, conversamos, trocamos ideias, partilhamos angústias, alegrias, desabafos e até ouvimos conselhos, porque no fundo acabamos por passar muitas horas do dia juntos, e acabamos por criar uma certa cumplicidade quer queiramos ou não, e existir confiança mútua.
Chegados à Carregueira, acompanho o Eduardo durante o seu dia de trabalho, de forma a ser as suas pernas e os seus braços, e auxilia-lo em tudo o que necessita.
O turno da tarde é um pouco mais calmo, a outra colega assistente escalada, que o recebe, faz todas as tarefas inerentes à lida da casa, banho, deitar, etc.
Sendo o Eduardo uma pessoa muito dinâmica, persistente e determinado é com alguma frequência convidado para participar em eventos, palestras, colóquios, reuniões, e é essa mais uma das nossas funções acompanhá-lo nesta sua caminhada que no fundo já é um pouco nossa também.
Trabalhar com o Eduardo tem o seu grau de exigência. É saber lidar com a sua incapacidade e ter sensibilidade, não quebrando a confiança e não ultrapassando as barreiras do saber estar e ser. Para mim é uma honra trabalhar com o Eduardo é uma aprendizagem diária e que nos torna mais enriquecedores tanto a nível pessoal como profissional.
Porque devemos aprender a olhar os medos e os desafios de frente para vencê-los de cabeça erguida, e este é mais um desafio.