domingo, 28 de maio de 2023

ISCTE cria primeiro núcleo de estudos específico sobre deficiência

O Núcleo de Estudos da Deficiência em Portugal funciona desde há cerca de quatro meses e teve a sua apresentação pública oficial no dia 18 de maio, com a realização do primeiro seminário internacional, sob o tema "Vida independente e direitos sociais, que futuro?".


Em declarações à agência Lusa, o coordenador científico do Núcleo disse que o ISCTE "foi a primeira universidade em muitas coisas", que "nasceu com a marca da inovação, neste caso da inovação social", incorporando no seu "ADN a ideia de que a academia tem de acompanhar os tempos".

Na opinião de Luís Capucha, a mudança tem que ser feita com o apoio do conhecimento e da formação, sublinhando que "hoje em dia já não se aceita que as pessoas [com deficiência] sejam acantonadas em instituições que são deprimentes".

"Quando a gente lá chega vê todas as pessoas com os mesmos problemas, que só vêem outras pessoas com problemas iguais aos delas, que não participam na vida social. Isso, hoje em dia, é um bocadinho inaceitável", considerou, acrescentando que, mais uma vez, o ISCTE arriscou numa área inovadora.

Luís Capucha explicou que o ISCTE, tal como outras instituições de ensino, tem investigadores que, "de uma forma mais ou menos dispersa e isolada", fazem investigação e outros trabalhos na área da docência dos estudos da deficiência, "que é uma área tradicional em muitas universidades estrangeiras".

"Portugal não tem nenhuma estrutura regular. Os estudos que há sobre a deficiência são muito insuficientes. Nós em Portugal temos pouca informação de caráter científico, quer sobre as barreiras, quer sobre as dificuldades, quer sobre as políticas, quer sobre as características das próprias pessoas [com deficiência]", referiu.

Segundo o responsável, o país acaba por ter "muito pouca informação para aquilo que seria desejável" e tendo em conta "aquilo que é normal noutros países".

Nesse sentido, a instituição entendeu que tinha condições para avançar com a criação do núcleo, uma vez que já "tinha algum património de investigação" e tinha a possibilidade de "desenvolver uma estrutura mais ou menos profissionalizada".

Luís Capucha salientou que o objetivo é "estruturar uma intervenção sistemática regular" nos três domínios da ação académica: ensino, investigação e extensão universitária, com a prestação de serviços à comunidade.

Segundo o responsável, estão neste momento a montar um 'site', que vai estar associado à produção de indicadores e de um sistema de acompanhamento, quer da situação das pessoas com deficiência, quer das políticas nesta área, de modo a produzirem relatórios regulares.

Na área do ensino, está em fase de receção de candidaturas uma pós-graduação sobre estudos da deficiência e direitos humanos, que tem um primeiro ano coincidente com um mestrado, que está em fase de aprovação na Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Acrescentou que está igualmente a ser preparado outro mestrado na área da deficiência para ser ministrado à distância.

"Porque é que é importante esta oferta educativa? Porque a realidade não muda por decreto, não basta decretar, por exemplo, que a educação agora é inclusiva para a educação passar a ser inclusiva, da mesma maneira que não basta decretar que existem direitos humanos e direitos específicos para as pessoas com deficiência, para que esses direitos sejam cumpridos", defendeu.

Sublinhou que para que a mudança aconteça é preciso muita formação, quadros qualificados e capacitar as instituições, além de vontade política. Luís Capucha frisou ainda que apesar de este ser o primeiro núcleo de estudos deste género, o interesse é colaborar com todos os investigadores que queiram, acrescentando que as primeiras reuniões juntaram mais de 40 investigadores e professores.

Fonte: Noticias ao Minuto

Cerca de 20 mil alunos vão testar jogo sobre direitos das pessoas com deficiência

Cerca de 20 mil crianças do ensino básico e secundário, da Área Metropolitana de Lisboa, vão testar um jogo de tabuleiro destinado a promover os direitos das pessoas com deficiência, mas que também poderá ser jogado em família.

O jogo faz parte do "Kit Direitos Humanos" e foi desenvolvido por uma equipa de investigadores do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e a Inovar Autismo-, uma associação de Setúbal, criada em 2016, para promover a plena inclusão das pessoas com autismo e neurodiversidades na sociedade.

À agência Lusa, o responsável pela equipa de investigadores do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), do ISCTE, adiantou que no decorrer desta e das próximas semanas o jogo vai chegar a 10 agrupamentos de escolas do ensino básico e secundário, dos municípios de Almada, Barreiro e Palmela, o que representa mais de 20 mil alunos.

Trata-se de um "jogo interativo, que visa promover uma visão dos direitos das pessoas com deficiência e das barreiras que essas pessoas enfrentam na sociedade", junto das crianças nas escolas, mas também junto da família, explicou Luís Capucha.

De acordo com o responsável, trata-se, por enquanto, de uma iniciativa piloto, que assenta na convicção de que "grande parte das aprendizagens relevantes" são feitas de forma lúdica, sendo que a estrutura do jogo oscila entre o Jogo da Glória e o Monopólio.

"As pessoas avançam nas casas, mas depois há uma série de cartões que lhes saem e permitem avançar ou ficar retidas, em função da maneira como respondem a questões a respeito da solidariedade, a respeito das barreiras que as pessoas enfrentam, a respeito dos direitos que as pessoas têm à educação, ao emprego, ao rendimento, à vida na Comunidade, etc", explicou Luís Capucha.

Revelou que haverá também uma versão eletrónica e que o jogo é acessível a crianças cegas e surdas.

Admitiu, por outro lado, que o objetivo é que o jogo venha a ser "utilizado de forma sistemática e generalizada" nas escolas, reconhecendo que não basta dar recursos pedagógicos e didáticos, já que "as bibliotecas das escolas estão cheias de produtos de elevado potencial que estão amontoados e não são utilizados".

Luís Capucha disse que a equipa gostaria que o jogo se transformasse numa atividade corrente, não só pela importância de as crianças serem educadas "para o respeito dos direitos humanos e para a compreensão das dificuldades do outro", mas também pelo impacto que isso poderá vir a ter nas respetivas famílias.

"Isto vai ser importante não apenas para as pessoas com deficiência, mas também para muitas outras problemáticas, porque se as crianças têm que decidir entre uma opção que as beneficia só a elas ou uma opção que beneficia mais gente e que é solidária no quadro de uma decisão que eles têm que tomar no momento, perante uma determinada situação, essa aprendizagem pode ser depois transferida para outros setores", destacou.

Luís Capucha referiu ainda que o jogo foi desenvolvido com a ajuda de pessoas com deficiência, "que sentem os problemas mais diretamente", tanto no que diz respeito aos problemas abordados, como também às soluções encontradas, dando como exemplo o problema das acessibilidades, que não afeta apenas as pessoas com deficiência, para defender que uma sociedade acessível é melhor para toda a gente.

Fonte: JN

Noite de stand up comedy solidário

Já estão à venda os bilhetes para a grande Noite de stand up comedy solidário!


As receitas revertem a favor do Centro de Vida Independente.
Sete comediantes vão (tentar) fazer rir a plateia, se forem bons o suficiente para isso.
Humoristas: Catarina “Pinkie”, Nuno Cabral, Jonas, Álvaro Cláudio, Sérgio Lopes, Carolina Pinto, Papo Seco.
Local: Biblioteca de Marvila, Lisboa.
Data: 16 de Junho de 2023 às 21 horas.
Sócias e Sócios do Centro de Vida Independente têm descontos. Selecione a opção que se aplica a si.
Pessoas com mobilidade condicionada têm direito a assistente pessoal / acompanhante gratuito.
Espetáculo para maiores de 12 anos.
O espetáculo terá linguagem que pode ferir suscetibilidades.

domingo, 7 de maio de 2023

Assistência para pessoas com deficiência terá limite de horas superior ao atual

O limite máximo de horas de assistência a pessoas com deficiência no modelo definitivo de apoio à vida independente será superior ao atual, prometeu a secretária de Estado da Inclusão, à TSF, ressalvando que os limites máximos terão sempre de existir.

O modelo de assistência a pessoas com deficiência arrancou ainda em 2019 em formato de projeto-piloto, tendo depois sido prolongado para terminar em finais de 2023, com a expectativa de que, no decorrer deste ano, seja feita a transição para o modelo definitivo.

Atualmente, estes projetos-piloto têm um limite máximo de assistência de 40 horas semanais, com exceções para casos muito específicos, mas a secretária de Estado da Inclusão disse à Lusa que o projeto que o Governo pretende apresentar incluirá um número superior de horas semanais.

"Sim, nós estamos a propor aumentar, mas também não quero criar a expectativa de que daqui para a frente não haverá limiares máximos, os limiares máximos vão ter de continuar a existir sempre com esta salvaguarda de que há casos excecionais em que esses limiares máximos têm de todo de cair", disse Ana Sofia Antunes.

A secretária de Estado não revelou qual será a proposta do Governo e sublinhou que é preciso ter sempre a noção clara de que não será possível dar todas as horas necessárias de assistência pessoal a todas as pessoas.

"Queremos uma vida independente": marcha pelas pessoas com deficiência

Pelo sexto ano consecutivo alertam que, com o fim do projeto piloto de assistência pessoal, é preciso ser criada a legislação prometida.
Imagem esquerda.net
                                                            
Dezenas de pessoas juntaram-se esta tarde em Lisboa para reivindicarem mais e melhores direitos para as pessoas com deficiência no Dia Europeu da Vida Independente. O dia também foi assinalado em Vila Real e Guimarães.

Pelo sexto ano consecutivo alertam que, com o fim do projeto piloto de assistência pessoal, é preciso ser criada a legislação prometida.

Há ainda o apelo das mulheres que sentem a diferença de forma particular.

A marcha também contou com a presença da deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.

Fonte e reportagem completa: SIC

sábado, 22 de abril de 2023

Vida Independente. Não nos deixaremos aprisionar.

Depois de muita luta das pessoas com deficiência e suas famílias, finalmente em 2017 foi criado em Portugal o programa Modelo de Apoio à Vida Independente através do Decreto Lei nº 129/2017, um projeto piloto de prestação de assistência pessoal às pessoas com deficiência, de modo a permitir que possam continuar a viver na comunidade de forma independente em igualdade de circunstâncias com os demais cidadãos, e evitar a sua institucionalização compulsiva em lares de idosos como geralmente acontece.

Mas somente em 2019 a assistência pessoal passou a ser uma realidade através de um projeto piloto financiado com fundos da União Europeia, um projeto piloto que se prolonga há quase 52 meses, quando deveria ter durado somente 36 meses, e nunca foi de encontro às necessidades da maioria das pessoas com deficiência chegando somente a alguns. A data prevista para o seu fim será em finais de junho próximo.

A Secretária de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, recentemente em participação no projeto Seeds of Change, organizado pelo Núcleo de Inclusão, Comunicação e Media em Guimarães, (que pode ouvir aqui https://www.youtube.com/watch?v=wpvbW9rzYT0) deixou claro que a assistência pessoal terá continuidade, não terminará no final dos 55 meses, ou seja a 30 de junho, e passará a ser uma resposta definitiva até ao final do corrente ano, também deixará finalmente de ser comparticipada por fundos da União Europeia, para passar a ser uma despesa incluída no Orçamento de Estado, e segundo a Secretária de Estado, há abertura da sua parte para ser testado pagamentos diretos aos destinatários de modo a solicitarem no mercado o apoio que pretenderem. O certo é que nos encontramos em abril, a poucos meses do término do projeto piloto e não existem noticias oficiais sobre o assunto. Aguardaremos.

Por enquanto não nos resta outra alternativa. Enquanto destinatário de assistência pessoal ficarei atento, e caso seja necessário estarei mais uma vez disponível para voltar à luta. Para já chamo a atenção para o trabalho realizado pela Rede Europeia de Vida Independente (https://enil.eu/), e apelo à vossa participação no preenchimento do questionário disponibilizado em https://forms.office.com/e/RUSuMZVxFr pois no final de 2023, a Comissão Europeia publicará orientações aos seus estados membros sobre Vida Independente e inclusão das pessoas com deficiência na comunidade, e a ENIL pede o nosso contributo, para apresentar as suas sugestões baseadas nos seus pilares sobre Vida Independente e nas áreas temáticas estabelecidas no seu grupo de trabalho sobre Vida Independente que são: Desinstitucionalização e Assistência Pessoal; Emprego e rendimento; Habitação; Saúde; Produtos de apoio e Avaliações de incapacidade. Eu já respondi.

Também o Centro de Vida Independente, realiza anualmente no dia 5 de maio, dia Europeu da Vida Independente marchas pela Vida Independente em Lisboa, no Porto, e em Vila Real. Este ano também acontecerá e não poderemos faltar. Visto o projeto se encontrar no seu fim e as dúvidas continuarem, é fundamental mostrar o que queremos e que pretendemos ser ouvidos e fazer parte do processo. Nada sobre nós, sem nós. Eu lá estarei mais uma vez. Unidos, vamos mostrar que sabemos o que queremos, e deixar claro que não abdicaremos da nossa liberdade e de ser donos das nossas vidas. Só atentos, disponíveis, atuantes, convictos dos nossos direitos conseguiremos continuar a exigir o que nunca nos deveria ter sido tirado com a deficiência. Direitos não são regalias. 

Minha crónica no jornal Abarca

domingo, 5 de março de 2023

Cartão europeu de deficiência

Este mês no jornal Abarca escrevo sobre o Cartão Europeu de Deficiência.

De 10 de fevereiro a 5 de maio decorre uma consulta pública em formatos acessíveis e em várias línguas, sobre a iniciativa Cartão Europeu de Deficiência lançada pela Comissão Europeia. Segundo a União Europeia, existem cerca de 90 milhões de pessoas com deficiência a viver na UE. Eles ainda enfrentam obstáculos que podem impedi-los ou dissuadi-los de circular livremente para acessar determinados serviços, especialmente porque não há reconhecimento mútuo do estado de deficiência entre os Estados-Membros. Esta falta de reconhecimento mútuo do estatuto de deficiência pode criar entraves ao acesso a determinados serviços durante viagens transfronteiriças de curta duração, incluindo para fins turísticos.

Para ultrapassar estes problemas, a Comissão está a ponderar uma iniciativa que facilite o reconhecimento mútuo da situação de deficiência nos Estados-Membros: Cartão Europeu de Deficiência. Pretende facilitar a mobilidade e a livre circulação e o gozo igualitário dos direitos das pessoas com deficiência na UE, incluindo no acesso a determinados serviços. Os titulares do Cartão Europeu de Deficiência beneficiariam das mesmas condições preferenciais de acesso aos serviços relevantes em todos os Estados-Membros, independentemente do local onde o seu estatuto de deficiência foi concedido.

A iniciativa baseia-se na experiência do projeto-piloto Cartão de Deficiência da UE e no cartão de estacionamento da UE para pessoas com deficiência. O projeto piloto EU Disability Card implica o reconhecimento mútuo voluntário do estatuto de deficiência entre os Estados-Membros participantes e dá acesso a um conjunto de vantagens no acesso a serviços nas áreas da cultura, lazer, desporto e transportes. Foi implementado como projeto-piloto em 2016-2018 em oito Estados-Membros (Bélgica, Chipre, Estónia, Finlândia, Itália, Malta, Roménia, Eslovénia) e mantém-se após a data final do projeto.

O modelo de cartão de estacionamento da UE para pessoas com deficiência foi criado em 1998 pela recomendação 98/376/CE do Conselho. A iniciativa não é vinculativa e prevê apenas uma harmonização mínima numa base voluntária, principalmente no que diz respeito à conceção e ao reconhecimento mútuo do cartão de estacionamento pelos Estados-Membros. O cartão dá acesso a uma série de direitos de estacionamento e instalações específicas para cada país.

Esta consulta pública solicita a sua opinião sobre os desafios que se colocam às pessoas com deficiência quando viajam e exercem os seus direitos de livre circulação, incluindo no acesso a determinados serviços em condições preferenciais, bem como a sua opinião sobre a iniciativa Cartão Europeu de Deficiência. Agradecemos todas as respostas dos cidadãos, organizações, autoridades públicas, empresas, académicos e outras partes interessadas aqui: https://ec.europa.eu/info/law/better-regulation/have-your-say/initiatives/13517-European-Disability-Card/public-consultation_pt . Não é necessário ter nenhum conhecimento prévio das políticas europeias de deficiência ou do Cartão de Deficiência da UE para participar desta consulta. Usaremos os resultados desta consulta pública para identificar lacunas a serem abordadas no nível da UE no que diz respeito à mobilidade transfronteiriça e aos direitos de livre circulação de pessoas com deficiência.

Em 2019-2020, a Comissão Europeia avaliou o projeto-piloto. O estudo de avaliação confirmou o valor acrescentado europeu do cartão. Permite o reconhecimento mútuo do estatuto de pessoa com deficiência em todos os Estados-Membros, o que seria inviável sem uma intervenção a nível da UE. O estudo concluiu igualmente que os custos de aplicação por titular do cartão são baixos. O cartão responde às principais necessidades das pessoas com deficiência nos setores abrangidos, o que é demonstrado pelo facto de existir uma procura crescente. 

Consulte-o aqui: https://ec.europa.eu/social/main.jspcatId=738&langId=en&pubId=8407&furtherPubs=yes





Pedidos de pensão antecipada por deficiência até 31 de março têm retroativos a janeiro

O diploma que regulamenta a reforma antecipada por deficiência, esta sexta-feira publicado em Diário da República, determina que os beneficiários que apresentem o pedido de pensão até 31 de março têm direito a retroativos a 1 de janeiro de 2023, informa o Observador.

“Aos beneficiários que apresentem o requerimento de pensão até 31 de março de 2023 é devida pensão desde 01 de janeiro de 2023, ou de data posterior, conforme indicado pelo beneficiário no requerimento, e desde que reunidas as condições de elegibilidade nessas datas”, estabelece o decreto-lei n.º 18/2023.
A lei que estabelece o regime de reforma antecipada por deficiência foi publicada há mais de um ano, em janeiro de 2022, mas só agora foi publicado o diploma que regulamenta e permite operacionalizar este regime.

O decreto-lei entra em vigor “no dia seguinte ao da sua publicação e produz efeitos desde 1 de janeiro de 2023”. De acordo com a nova lei, passa a ser possível a antecipação de pensão de velhice por deficiência para as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos que tenham tido, pelo menos, 15 anos de carreira contributiva constituída com situação de deficiência e grau de incapacidade igual ou superior a 80%.

Este regime visa a proteção social mais favorável das pessoas com deficiência que constituíram a totalidade ou uma parte significativa da sua carreira contributiva através do exercício de atividade profissional enquanto detinham um elevado grau de incapacidade”, pode ler-se no preâmbulo do diploma. Às pensões atribuídas ao abrigo deste regime não se aplicam os cortes por aplicação de penalizações por antecipação da idade nem o fator de sustentabilidade.

O beneficiário não pode acumular a pensão “com o exercício, a qualquer título, de atividade profissional”, prevê o diploma, estabelecendo que a violação desta norma determina a perda do direito à pensão “sem prejuízo da aplicação dos regimes legais de restituição das prestações indevidamente pagas e sancionatório”. O financiamento da pensão antecipada por deficiência é integralmente assegurado pelo Orçamento do Estado até que o pensionista atinja a idade normal de acesso à pensão de velhice em vigor que em 2023 é de 66 anos e 4 meses.

Fonte: Observador

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Presidente do Instituto Nacional para a Reabilitação foi substituído

A quem interessar, a Secretária de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência, exonerou o presidente do conselho diretivo do Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P., licenciado Humberto Fernando Simões dos Santos, no dia 9 de fevereiro último, como informa o Despacho 2288/2023: Ao abrigo do n.º 5 do artigo 20.º da Lei 3/2004, de 15 de janeiro, na sua atual redação, e no uso das competências delegadas ao abrigo da alínea a) do n.º 3.1 do Despacho 7910/2022, de 21 de junho, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 123, de 28 de junho de 2022, atenta a necessidade de imprimir nova orientação à gestão do Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P., exonero o presidente do conselho diretivo do referido organismo, licenciado Humberto Fernando Simões dos Santos, das funções para as quais havia sido designado, em regime de comissão de serviço, pelo Despacho 958/2019, de 14 de janeiro, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 18, de 25 de janeiro de 2019.

Ao cessar funções, quero ainda expressar público louvor pela forma como exerceu as suas funções com dedicação, disponibilidade e sentido de responsabilidade. O presente despacho produz efeitos a 1 de fevereiro de 2023.

9 de fevereiro de 2023. - A Secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Pedroso Lopes Antunes.

Em noticia no site do Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., fica-se a conhecer o novo Presidente do Conselho Diretivo, Eng.º Rodrigo Ramos. Rodrigo Ramos, nascido a 10 de agosto de 1973, é mestre em Gestão Pública e licenciado em Engenharia Civil. Tem como percurso profissional o desempenho de funções como Coordenador da Estrutura de Missão para a Promoção das Acessibilidades, desde fevereiro de 2020. Entre novembro de 2012 e janeiro de 2020, exerceu o cargo de diretor de serviços de Instalações do IEFP, I. P. De setembro de 2018 a janeiro de 2020, representou o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, na Comissão para a Promoção das Acessibilidades.

Fonte: INR e DRE

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Oh mãe, a cadeira dele anda!

No jornal Abarca partilho alguns episódios deliciosos que tive com crianças.

Sai da cadeira! Mãe eu quero ir para ali. Tira-o. Sai daí, eu quero sentar-me. Eu sem saber como agir perante o miúdo com uma birra daquelas, a empurrar e a puxar as minhas pernas em choro continuo, num grande sofrimento, e a mãe a tudo fazer para lhe explicar que eu não podia sair da cadeira e a tentar convencê-lo em vão a sair do pé de mim. Para ele a minha cadeira de rodas era provavelmente um brinquedo a explorar. Isto numa sala de espera de uma clinica daquelas bem silenciosa, onde todos tentam estar sossegadinhos, a falar baixinho e entretidos com o telemóvel ou a folhear revistas com pelo menos um ano de vida.
Claro que passamos a ser o centro das atenções, eu sem saber o que fazer para satisfazer o desejo do menino, a mãe toda atrapalhada a pegar-lhe por baixo dos bracitos, ele suspenso, pernas a estrebuchar, choro cada vez mais alto e sem parar: “quero, quero a cadeira mãeeeeeee!”.

Eu ainda tentei disfarçadamente afastar-me, mas de imediato se apercebeu que a cadeira que ele tanto queria ia desaparecer de vez, o sofrimento ainda foi maior, e a birra agravou-se. Voltei atrás com a ideia, e recuei para o meu canto. Do nada aparece uma funcionária da clinica com uma cadeira manual na direção do miúdo ainda a estrebuchar no colo da mãe, mas nem pensar a hipóteses de ficar com tal cadeira. Bem tentaram. Olha tão bonita! Anda, vês, tem rodinhas. Senta-te! Anda cá. Nada disso. “Não, eu não quero, quero aquela”. E mais uma vez tentou escapar dos braços da mãe. Lá bem ao fundo ainda me pareceu que ouvi alguém sussurrar “coitado do miúdo, o Srº podia deixá-lo sentar-se um pouco na cadeira”! Eu cá para os meus botões, pois, até parece que eu consigo sair da minha cadeira…

Solução, a mãe saiu com ele porta fora, acho que o levou a um cafezinho que se encontrava nos arredores, e eu felizmente entretanto fui chamado para ser atendido, mas sempre com receio que o miúdo aparecesse e lhe continuasse a dar o desgosto de não satisfazer o seu desejo. Acabamos por não nos encontrar mais.

Outro episódio, este felizmente mais tranquilo. Recentemente no jantar de Natal do Centro de Apoio Social da Carregueira, onde trabalho, fico sentado na mesma mesa que a colega Carina e sua encantadora filha Daniela de 4 anos. Sai da mesa para ir escolher nas mesas de apoio o que pretendia comer e ouço em voz alta: “Mãe, olha, olha, a cadeira dele anda”. Viro-me e vejo a Daniela de joelhos na sua cadeira, com o prato de sopa em frente, espantada por ver a minha cadeira a andar. Claro que a Daniela ainda deve estar para descobrir como fiz tal coisa. Porque razão a minha cadeira anda e a dela não? Toda gente sentada em volta das mesas a levantar-se sempre que precisa sair, e eu sou o único a não o fazer e sair tranquilamente sentado. Bem fixe! Cada vez que me via a sair com a minha cadeira que anda, a surpresa no seu rostinho ternurento voltava e, claro dava-me vontade de rir. A mãe ainda tentou explicar-lhe que a cadeira era diferente da dela e fazia parte de mim, mas penso que não lhe interessou nada essa versão, preferia ficar com a dela. A minha cadeira anda, e claro, a dela e dos restantes não andam e isso não é normal.

Mais uma criança, e mais uma situação espontânea. Ao passar por uma mãe e duas crianças, a mais pequena, talvez com uns 5 anos, fixa o olhar em mim e diz baixinho: “mãe, este senhor está doente?”. Ainda esbocei uma tentativa de lhe tentar explicar que nem todas as pessoas que se deslocam em cadeira de rodas estão doentes, que é o meu caso, mas fica para a próxima. Por enquanto provavelmente continuará ingenuamente a pensar que todas as pessoas que vê em cadeira de rodas sofrem e são doentes. Espero que os adultos lhe façam entender que não é bem assim. Que deslocar-se numa cadeira de rodas não é sinónimo de doença.

Fonte jornal Abarca

Regulamentação para antecipação de pensão de velhice por deficiência já foi aprovada

O Governo aprovou esta quinta-feira o decreto-lei que regulamenta o regime de antecipação da pensão de velhice por deficiência, definindo “os respetivos termos e condições de acesso”, segundo o comunicado do Conselho de Ministros.

“Foi aprovado o decreto-lei que procede à regulamentação do regime de antecipação da idade de pensão de velhice por deficiência, estabelecendo os respetivos termos e condições de acesso”, lê-se na nota divulgada pelo executivo. A lei tinha sido aprovada no Parlamento em 2021, mas faltava a regulamentação que é agora aprovada.

Segundo o Governo, “é assim criado um regime de proteção social mais favorável para as pessoas com deficiência que constituíram a totalidade ou uma parte significativa da sua carreira contributiva através do exercício de atividade profissional enquanto detinham um elevado grau de incapacidade”.

No comunicado explica-se ainda que “o acesso antecipado à pensão de velhice visa atender às situações em que a manutenção da atividade profissional pode ter impacto negativo nas condições de saúde das pessoas com deficiência, não compensando de um ponto de vista subjetivo os benefícios sociais, económicos e de formação de direitos contributivos decorrentes da manutenção no mercado de trabalho”.

A lei que antecipa a idade de pensão de velhice para pessoas com incapacidade de 80% ou mais foi publicada no início do ano passado.

Resultante de uma proposta legislativa de substituição do PS a projetos do BE, PCP, PEV e PAN, a lei cria um regime de antecipação da idade de pensão de velhice por deficiência para as pessoas que, cumulativamente, tenham idade igual ou superior a 60 anos, deficiência a que esteja associado um grau de incapacidade igual ou superior a 80% e pelo menos 15 anos de carreira contributiva constituída com a situação de deficiência e grau de incapacidade igual ou superior a 80%.

“Ao cálculo do montante de pensão atribuída não é aplicável o fator de sustentabilidade, nem a penalização [de 0,5% por cada mês ou 6% por ano] por antecipação da idade normal de reforma”, lê-se na lei publicada em Diário da República.

Fonte: Observador

“Se as pessoas com deficiência continuarem a contentar-se com esmolas, não perspetivo grandes mudanças

Entrevista á Plural&Singular...
Conhecido defensor da filosofia da Vida Independente em 2013, avançou com uma greve de fome junto à Assembleia da República, em 2014 desafiou-se a fazer 180 quilómetros em cadeira de rodas entre Concavada, Abrantes, e o Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, em Lisboa. Em 2018 foi protagonista de um novo protesto junto ao Parlamento, onde ficou vários dias deitado dentro de uma gaiola. Agora que desfruta dos direitos conquistados, em entrevista à Plural&Singular o ativista faz o balanço destes últimos anos e partilha a antevisão que faz dos próximos 10.
01 – Quem é Eduardo Jorge: como se vê, como as pessoas o veem?
Eduardo Jorge (EJ) - Tenho 60 anos e estou tetraplégico há 31. Sou uma pessoa tranquila, tímida, grata, avesso a injustiças, amante da natureza, que aprecia as coisas simples da vida e não exijo muito para ser feliz. Os outros talvez me vejam como uma pessoa lutadora que não aceita os “nãos” com facilidade e que não abdica de lutar pelos seus direitos. Sou um privilegiado por trabalhar na área que me formei: Ciências Sociais/Serviço Social. O voluntariado também me dá muito prazer. Vivo sozinho graças à assistência pessoal e tenho a minha deficiência muito bem resolvida. O que me perturba é a sociedade não permitir que viva em condições de igualdade em relação aos demais cidadãos.

02 - Como foram os últimos 10 anos na sua vida?
EJ - De 2019 até ao momento foram anos muito bons. Graças à assistência pessoal libertei-me de um lar de idosos e voltei a viver na minha casa e a ser dono da minha vida. De 2015 até 2019 foram anos muito tristes e humilhantes. Fui obrigado a ser institucionalizado num lar de idosos, período negro da minha vida que nunca esquecerei. De bom também foi ter conseguido um emprego que me preenche.

03 - Quais foram os momentos mais marcantes?
EJ - O dia que pude sair do lar e voltar para a minha casa e a promoção na carreira que tive no meu emprego. Assim como ter capacidade para me aceitar e ter orgulho na minha deficiência.

04 - Como avalia os últimos 10 anos na vida das pessoas com deficiência?
EJ - Embora tenha existido alguns avanços nas politicas relacionadas com a deficiência, muito há ainda para conquistar. Preocupa-me a falta de iniciativa das organizações que deveriam defender os direitos das pessoas com deficiência, mas ainda mais preocupado fico por verificar que os anos passam e as pessoas com deficiência continuam a não conseguir criar um grupo unido e suficientemente forte capaz de exigir direitos. O dia que nos conscientizarmos que somos capazes de exigir em vez de mendigar tudo será mais fácil.

05 - Em que áreas foi mais positiva a evolução?
EJ - Na área da vida independente/assistência pessoal, embora o atual projeto-piloto seja um projeto muito aquém do pretendido e somente ao alcance de alguns. A Prestação Social para a Inclusão também reconheço como tendo alterado o paradigma dos apoios sociais, mas longe de ser o ideal. A aprovação das quotas de emprego também considero uma medida positiva.

06 - O que ficou por fazer?
EJ - Muita coisa infelizmente, como é o caso da lei das acessibilidades por cumprir, ainda predominar a institucionalização contra a vontade das pessoas com deficiência, as falhas na atribuição de produtos de apoio, a educação nada inclusiva, a saúde mental continuar a não ser considerada uma prioridade a nível das políticas de saúde. No fundo faltou cumprir os instrumentos estratégicos nacionais e internacionais em matéria de direitos das pessoas com deficiência, nomeadamente a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas e retificada pelo nosso país, a Estratégia sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 2021-2030, da Comissão Europeia, e a Estratégia Nacional para a Inclusão de Pessoas com Deficiência 2021-2025.

07 - A comparação inevitável: como Portugal se posiciona em relação aos restantes países europeus?
EJ - Comparado com os países nórdicos, Espanha, Países Baixos, França, Reino Unido, etc continuamos na cauda da Europa em todas as áreas.

08 - Como acha que vão ser os próximos 10 anos para as pessoas com deficiência?
EJ - Se as pessoas com deficiência continuarem a contentar-se com esmolas, não perspetivo grandes mudanças. Continuaremos a não ser uma prioridade para o Governo. Se nos mentalizarmos que somos capazes de fazer a mudança, temos mais possibilidades de alterar o estado em que nos encontramos.

09 - Como deseja que sejam os próximos 10 anos na sua vida?
EJ - Principalmente continuar livre, a ser dono da minha vida. Com trabalho e vontade de continuar a lutar caso seja necessário.

10 - Que mensagem deixa à Plural&Singular pelos 10 anos de existência?
EJ - Uma mensagem de gratidão pela dedicação à temática da deficiência e de incentivo para não desistir perante as adversidades. Muitos parabéns e sucesso.

sábado, 7 de janeiro de 2023

Desapareceram 700 mil pessoas com deficiência ou incapacidade nos censos 2021

A forma como os censos foram conduzidos ainda é um resquício de domínio da maioria silenciosa. Precisamos de continuar a combater estas correntes e, na questão fundamental dos dados, investir num estudo de caracterização desta população, escreve Tiago Fortuna no Expresso.


Em 2011 os Censos identificaram 1 792 719 pessoas com alguma deficiência ou incapacidade, mas em 2021 apresentaram um novo número: 1 085 472 pessoas. Desapareceram 700 mil pessoas com deficiência ou incapacidade nos últimos 10 anos em Portugal? A Organização Mundial de Saúde deu conta de 1.3 mil milhões de pessoas com deficiência ou incapacidade no Mundo (16% da população).

O Instituto Nacional de Estatística refere na publicação dos censos que há uma diferença na metodologia e, portanto, os resultados de 2011 não são comparáveis aos de 2021. No mais recente estudo a pergunta sobre incapacidade era facultativa e foram introduzidas mais opções de resposta. Mas então como se apresenta consistência, compromisso e continuidade no trabalho com as pessoas?

Há uma maioria silenciosa e dominante na sociedade quando falamos de minorias - a deficiência não é excepção. Sinto, desde que fundei a Access Lab, que os dados publicados são amorfos. Fazem parte da cultura dominante e cultivam a passividade dos grupos caracterizados, sem estimular o desenvolvimento e o questionamento.

O mais chocante nos censos são os 84,4% da população com incapacidade economicamente inativa. Será que reflecte a realidade? O World Bank Group diz-nos que a população mundial com deficiência tem rendimentos estimados em 2 mil milhões de dólares, considerando uma população de mil milhões, que, se for pensada com os agregados familiares, chega aos 3.4 mil milhões de pessoas (o que faz crescer os rendimentos estimados).

Com este contexto, coloca-se a questão: seremos economicamente irrelevantes para a sociedade?

Por mais críticas que se possam tecer aos estudos disponíveis, todos indicam alguma vulnerabilidade social e económica nesta população. O Observatório da Deficiência e Direitos Humanos (ODDH) indica-nos que pessoas com deficiência têm um risco de pobreza de 31.2% (comparado com 18.8% da população geral).

No relatório do ODDH dá-se nota de um crescimento residual de trabalhadores com deficiência no sector privado de 0,51% para 0,59% nos últimos 5 anos. Note-se que a lei 4/2019, para empresas com mais de 100 empregados, tem um período de transição para 1% dos trabalhadores que termina já em Fevereiro de 2023.

Como se estimula a empregabilidade e participação no tecido social? Através da educação. Apesar dos censos darem conta de 21,5% da população com incapacidade não ter completado a escolaridade, o ano lectivo de 2021/2022 contou com o número mais elevado de jovens com deficiência no ensino superior: 2779 - um crescimento de 8% (que tem sido regular nos últimos anos).

Nos Estados Unidos, um estudo conduzido pela Accenture concluiu que empresas que promovem a empregabilidade de pessoas com deficiência têm mais 28% de receitas e mais 30% de margem de lucro, comparadas com outras empresas. A exclusão é mais dispendiosa que a inclusão.

Os dados que apresento são paradoxais porque não aceito a dormência dos censos. A comunidade de pessoas com deficiência é diversa: em idades, profissões, contextos sociais. Somos pessoas inteiras, longe de sermos estanques.

Tenho procurado criar paralelismos com outras realidades, analisar o progresso em questões de género, raciais ou sexuais - até porque, além da deficiência, também somos parte destes grupos. Ao contrário de outras minorias, não vejo as pessoas com deficiência como tendo sido ostracizadas. Foram assimiladas, institucionalizadas e geridas por um assistencialismo crónico e corrosivo. Talvez por isso, tenha sido até há pouco tempo uma comunidade silenciosa. Mas os tempos mudam e as nossas vozes ouvem-se cada vez mais alto.

A forma como os censos foram conduzidos ainda é um resquício desta conjuntura, de domínio da maioria silenciosa (que existe e opera diariamente). Precisamos de continuar a combater estas correntes e, na questão fundamental dos dados, investir num estudo de caracterização desta população. Alguém tem de atravessar-se com este investimento, pode ser o Estado ou uma fundação privada.

Um estudo que nos permita perceber quem são estas pessoas: onde estão no país? Que grau de incapacidade têm? Em que trabalham? Viajam? Investem em entretenimento? Que obstáculos encontram no seu dia-a-dia? São vítimas de discriminação? Os censos fazem algumas destas questões, mas são insuficientes.

Esta caracterização pode ter resultados desanimadores. Há quem tema tanto esses resultados que prefere não tê-los. Sou veementemente contra essa posição. Podemos concluir que as pessoas gastam muito pouco em cultura ou que não viajam. Mas e se for? O que podemos fazer? Que medidas podemos criar na política e empresas para mudar paradigmas?

Reconheço a demora inerente ao progresso mas a sensação que tenho, diariamente, é que tudo continua por fazer. Nos últimos meses, questionei-me sobre o que é o progresso e o que deve norteá-lo. As minorias, continuando à mercê da maioria, estão a romper os cânones instituídos, a desconstruir preconceitos, a superar todas as expectativas. E nós, quer façamos parte de grupos minoritários ou não, devemos escutá-los.

Chega de silenciamento. Uma causa que é nossa, vive na constância de se ver vetada por uma vontade maioritária, como tão bem se sente na pergunta que James Baldwin nos faz neste vídeo: quanto tempo é que precisam para o vosso “progresso”?