domingo, 28 de maio de 2023

ISCTE cria primeiro núcleo de estudos específico sobre deficiência

O Núcleo de Estudos da Deficiência em Portugal funciona desde há cerca de quatro meses e teve a sua apresentação pública oficial no dia 18 de maio, com a realização do primeiro seminário internacional, sob o tema "Vida independente e direitos sociais, que futuro?".


Em declarações à agência Lusa, o coordenador científico do Núcleo disse que o ISCTE "foi a primeira universidade em muitas coisas", que "nasceu com a marca da inovação, neste caso da inovação social", incorporando no seu "ADN a ideia de que a academia tem de acompanhar os tempos".

Na opinião de Luís Capucha, a mudança tem que ser feita com o apoio do conhecimento e da formação, sublinhando que "hoje em dia já não se aceita que as pessoas [com deficiência] sejam acantonadas em instituições que são deprimentes".

"Quando a gente lá chega vê todas as pessoas com os mesmos problemas, que só vêem outras pessoas com problemas iguais aos delas, que não participam na vida social. Isso, hoje em dia, é um bocadinho inaceitável", considerou, acrescentando que, mais uma vez, o ISCTE arriscou numa área inovadora.

Luís Capucha explicou que o ISCTE, tal como outras instituições de ensino, tem investigadores que, "de uma forma mais ou menos dispersa e isolada", fazem investigação e outros trabalhos na área da docência dos estudos da deficiência, "que é uma área tradicional em muitas universidades estrangeiras".

"Portugal não tem nenhuma estrutura regular. Os estudos que há sobre a deficiência são muito insuficientes. Nós em Portugal temos pouca informação de caráter científico, quer sobre as barreiras, quer sobre as dificuldades, quer sobre as políticas, quer sobre as características das próprias pessoas [com deficiência]", referiu.

Segundo o responsável, o país acaba por ter "muito pouca informação para aquilo que seria desejável" e tendo em conta "aquilo que é normal noutros países".

Nesse sentido, a instituição entendeu que tinha condições para avançar com a criação do núcleo, uma vez que já "tinha algum património de investigação" e tinha a possibilidade de "desenvolver uma estrutura mais ou menos profissionalizada".

Luís Capucha salientou que o objetivo é "estruturar uma intervenção sistemática regular" nos três domínios da ação académica: ensino, investigação e extensão universitária, com a prestação de serviços à comunidade.

Segundo o responsável, estão neste momento a montar um 'site', que vai estar associado à produção de indicadores e de um sistema de acompanhamento, quer da situação das pessoas com deficiência, quer das políticas nesta área, de modo a produzirem relatórios regulares.

Na área do ensino, está em fase de receção de candidaturas uma pós-graduação sobre estudos da deficiência e direitos humanos, que tem um primeiro ano coincidente com um mestrado, que está em fase de aprovação na Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Acrescentou que está igualmente a ser preparado outro mestrado na área da deficiência para ser ministrado à distância.

"Porque é que é importante esta oferta educativa? Porque a realidade não muda por decreto, não basta decretar, por exemplo, que a educação agora é inclusiva para a educação passar a ser inclusiva, da mesma maneira que não basta decretar que existem direitos humanos e direitos específicos para as pessoas com deficiência, para que esses direitos sejam cumpridos", defendeu.

Sublinhou que para que a mudança aconteça é preciso muita formação, quadros qualificados e capacitar as instituições, além de vontade política. Luís Capucha frisou ainda que apesar de este ser o primeiro núcleo de estudos deste género, o interesse é colaborar com todos os investigadores que queiram, acrescentando que as primeiras reuniões juntaram mais de 40 investigadores e professores.

Fonte: Noticias ao Minuto

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