sábado, 2 de novembro de 2024

As barreiras arquitetónicas são difíceis de ultrapassar, as mentais muito mais.

Anunciado o espetáculo do Rui Veloso no CNEMA em Santarém, distrito onde resido, aprecei-me a adquirir bilhete sem sucesso numa das várias bilheteiras online. Isto porque não tinham sido disponibilizados lugares para pessoas com mobilidade reduzida. Após várias reclamações, um mês depois recebo o aviso de que já era possível adquirir os bilhetes, mas somente via email. E onde se situavam os lugares? Mesmo no final de todas as filas de poltronas “encostados” a um canto como quase sempre. Acabamos de comemorar mais um dia das acessibilidades, mas muito há ainda a fazer. Mesmo com todas as adversidades criadas, sim porque o problema não está nas pessoas com deficiência, mas sim na falta de condições para podermos circular livremente como os demais, continuamos a participar em eventos como revela um novo estudo da NOVA FCSH, a pedido da Access Lab, realizado pelo Obi.Media/ICNOVA, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Segundo o estudo, no último ano, num universo de 237 inquiridos, 50% participaram entre 2 a 5 eventos. 63% indicaram ter experienciado algum tipo de dificuldade. No global, as pessoas indicam como maior dificuldade (63%) a atribuição ou visibilidade dos seus lugares. Quando focados na última experiência, as dificuldades são reveladoras: 55% sobre instalações sanitárias adaptadas; 85% em programação acessível (como Língua Gestual Portuguesa e/ou Audiodescrição); 58% na bilheteira; e 85% em filas prioritárias.

O inquérito pedia a classificação da última experiência. Esses resultados foram: 9% como excelente; 46% como boa; 30% como média; e 6% como má. Esta foi uma pergunta com um campo aberto complementar que, nos 30% de média, as respostas referem experiências paradigmáticas: “Escolho média, pois adoro participar. No entanto, é sempre um horror para mim o peso sensorial (movimento, pessoas, não há prioridades numa fila, nada está adaptado)... Acabo por ficar mal nos 3, 4 dias seguintes... Preciso de tempo para recuperar. Se os eventos forem adaptados, poderá ajudar a que as consequências não sejam tão negativas.”

É ainda de salientar o tipo de eventos em que os inquiridos participaram, dado que mais de 80% foi a festivais ou concertos, 51% foi ao cinema, 38% participou em eventos de teatro ou artes performativas e 34% visitou exposições. No universo de inquiridos, foi possível caracterizar a deficiência em questão, uma pessoa pode ter mais que um tipo de incapacidade: 66% identificaram ter deficiência motora; 16% deficiência visual; 7% perda de audição; 10% surdez; 7% deficiência intelectual; e 9% neurodivergência. É relevante assinalar que 80% dos inquiridos indicam ter atestado multiuso de incapacidade.

Os investigadores fazem três recomendações de investimento futuro: Na literacia, “formação dos profissionais da cultura”; Na comunicação, onde “é possível reconhecer ausência de informação, e desinformação com impacto no acesso ao evento”, recomendando-se um “foco na comunicação para a inclusão” e por último, “condições para fruição estética”, onde é realçada a necessidade de investimento na programação com recursos de acessibilidade.

No meu caso, só por favor consegui o bilhete, sendo que é um direito. Felizmente não desistimos facilmente, e comigo, assistiram ao espetáculo mais 8 pessoas com deficiência todos com as mesmas queixas pela tentativa de exclusão. 5 delas em cadeira de rodas. As barreiras arquitetónicas são difíceis de ultrapassar, as mentais, muito mais difíceis são de derrubar.

Minha crónica no jornal Abarca

Dia Nacional da Reclamação

Porque a discriminação é crime.
Se não consegues entrar na loja, estás a ser discriminado(a)
Se não consegues entrar no autocarro, estás a ser discriminada(o)
Se não aceitam a tua matrícula no curso que queres, estás a ser discriminado(a)
Se não te deixam entrar na discoteca, estás a ser discriminada(o)

São inúmeras as discriminações que nós, pessoas com deficiência, enfrentamos no dia a dia. Muitas são mesmo por incumprimento de leis que nos garantem direitos que não saem do papel em que foram escritas. Também existe uma lei que identifica o que é considerado discriminação que deveria garantir a punição das entidades públicas e privadas que têm práticas discriminatórias.

Em 2022 (último relatório publicado) foram feitas apenas 159 queixas por discriminação, quando todos os dias e a toda a hora existem pessoas com deficiência a serem discriminadas. Vamos, no dia 3 de Dezembro pedir o livro de reclamações, de Norte a Sul de Portugal, e dar a conhecer a verdadeira dimensão da discriminação a que estamos sujeitos?

Contamos com todas as pessoas com deficiência e suas famílias para haver queixas na maioria dos concelhos de Portugal.

Clique nesta ligação para saber como participar: https://vidaindependente.org/dia-nacional-reclamacao/

A discriminação é crime.
Se não reclamas a discriminação continuará.

Fonte e mais informação: Centro de Vida Independente