"Quando duas pessoas se amam e querem viver juntas deviam ter direito à sua sexualidade. Mas não têm. Um deficiente é, para a sociedade, um ser assexuado. Este é o primeiro obstáculo e a família o primeiro oponente". As palavras são de Isabel Barata, que esteve na passada semana em Abrantes a apresentar o livro "Unidos no Amor contra a indiferença", que escreveu juntamente com o seu namorado, Manuel Matos, em 2009. O livro pretende ser um alerta contra a indiferença de uma sociedade que deixa os seus cidadãos com deficiência serem destituídos do direito básico de constituírem família e serem felizes.
Isabel Barata, com uma incapacidade física de 84% e Manuel Matos, com 99,9% de dependência, namoraram três anos. Durante todo o tempo da relação lutaram "pelo direito ao afecto, à sexualidade, a uma vida inteira e normal", encontrando obstáculos de todos os lados. O último dos quais foi o epílogo da própria relação: Manuel não chegou a ver o livro escrito a quatro mãos publicado uma vez que faleceu em Maio de 2009, alguns dias depois da editora ter acedido à chancela da obra.
"Este livro é o nosso filho. A razão da minha existência", refere Isabel Barata a O MIRANTE momentos antes da apresentação. O convite para estar em Abrantes partiu do amigo Eduardo Jorge, tetraplégico que vive na Concavada e que se emocionou com o testemunho do casal, identificando-se com as suas angústias.
Isabel Barata, economista, e Manuel Matos, professor, conheceram-se por intermédio de um amigo comum e trocaram bastante correspondência antes de se encontrarem pela primeira vez. Foi ela que foi de Lisboa ao Porto, ao seu encontro, uma vez que era mais fácil deslocar-se.
"Um amor de dentro para fora", como descreve, e que foi oficializado perante as famílias com o primeiro beijo.
As famílias não encararam bem o facto de duas pessoas com tantas limitações físicas quererem viver juntas. "Foi uma luta permanente. Há muitas limitações. Não há privacidade. O Manuel tinha 50 anos e eu tinha 38, mas se os pais não concordarem não há namoro para ninguém", atesta.
Manuel Matos, que nasceu com uma doença degenerativa e progressiva ao nível muscular, mexia apenas um polegar mas não era por isso que amava menos Isabel. "A minha mãe dizia-me: o que é que vai fazer ao Porto se o Manuel só olha para ti? Há muitas maneiras de amar. Só o olhar do Manuel dava-me mais força", disse.
Para Eduardo Jorge, que ficou tetraplégico há 20 anos na sequência de um acidente de viação, os casais constituídos por pessoas portadoras de deficiência deviam ter direito a um cuidador específico, uma espécie de terapeuta sexual. "Se nos lares, quando existem casais de velhinhos, há espaço para que privem num quarto, por que é que um casal de deficientes não pode ser ajudado para poder desfrutar da sua sexualidade em pleno?", interroga.
Fonte: O Mirante
Brevemente haverá a continuação e novidades...
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