Para Filomena Sousa, enfermeira responsável pelo Grupo de Trabalho de Úlceras de Pressão, não há qualquer dúvida: "Este é um problema de saúde que, além do sofrimento e do risco de morte, aumenta os custos para o erário público."
“As úlceras por pressão continuam a ser desvalorizadas"
“Prevenir custa 2 euros por dia, tratar são 50 euros por dia”, sublinha Filomena Sousa. Em declarações à Just News, a especialista adverte: "Trata-se de feridas graves que provocam um enorme sofrimento e angústia quer para o doente como para a família." Além de que "fica muito mais oneroso tratar do que prevenir".
Contudo, apesar da sua gravidade, “as úlceras por pressão continuam a ser desvalorizadas, não existindo uma noção concreta do seu impacto por parte das entidades decisoras e das instituições”. E, na sua opinião, "prova disso é o desconhecimento da Meta 7 do Plano Nacional para a Segurança do Doente de 2015-2020".
“Ficou estabelecido que, até 2020, se teria de reduzir em 50% as úlceras de pressão, seguindo-se determinados critérios e normas. Mas este objetivo audacioso não deverá ser cumprido", refere a enfermeira do Serviço de Ortopedia do Hospital da Prelada e mestre em Ciência de Enfermagem.
Um dos obstáculos que impedem o combate a este tipo de feridas está na escassez de recursos matérias e humanos. “O posicionamento do doente não deve ser feito apenas por um enfermeiro, mas nem sempre há o número adequado de profissionais de saúde", explica Filomena Sousa.
Apesar das dificuldades, a enfermeira garante que todos os profissionais envolvidos neste projeto estão muito empenhados: “Temos que continuar sempre a sensibilizar a população em geral, principalmente cuidadores formais e informais, assim como profissionais do setor da saúde e os decisores." No fundo, o objetivo é manter em curso a campanha internacional STOP UPP (STOP às úlceras por pressão).
A responsável do Grupo de Trabalho de Úlceras de Pressão da APTFeridas aproveita para dar um exemplo ilustrativo da gravidade deste problema de saúde: "Relembro que o ator Christopher Reeve – o Super-Homem – morreu na sequência de uma úlcera que evoluiu para septicemia, apesar de ter dois enfermeiros a tempo inteiro e um médico a apoiá-lo.”
No Congresso APTFeridas’19 foram também apresentadas as novas guidelines das úlceras por pressão, que atualizam as de 2014. “São muito mais sucintas e concretas, baseadas em evidência de nível A, e de fácil aplicação", afirma Filomena Sousa.
Outro aspeto relevante são as orientações mais específicas para os grupos de risco das crianças, idosos, acamados, pessoas com lesão vertebro-medular e doentes em estado crítico.
O Congresso marcou também o encerramento das comemorações dos 20 anos da APTFeridas.
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