sábado, 17 de novembro de 2012

Paciente tetraplégico casa em UTI

Uma história de amor está comovendo a cidade de Juazeiro, no norte da Bahia. Na quarta-feira (14), Givanildo Alves Lima, 46 anos, e Graça Leá Souza, 51, casaram-se dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional do município. Juntos há 20 anos e com duas filhas, uma de 24 e outra de 18, o casamento foi oficializado depois que Givanildo sofreu um acidente de trabalho e ficou tetraplégico.

"Eles construíram uma família, mas minha mãe sempre foi daquelas pessoas que não gostavam de casar, dizia que tudo estava bem daquela forma, não tinham por que casar. Mas isso sempre foi um sonho dele, desde sempre", explica a filha Larissa Emanuele, responsável pela organização da pequena cerimônia que foi realizada no quarto onde o pai está internado há quatro meses, assim como na organização dos papéis para o casamento. Para realizar o procedimento, a jovem conseguiu uma procuração e solicitou o casamento civil.

Apesar da dificuldade de comunicação, porque atualmente ele respira com o auxílio de aparelhos, Givanildo consegue falar, embora o som seja praticamente inaudível, segundo a família. "Não sai muita coisa da voz, mas com calma nós conseguimos ler o que está dizendo", explica Larissa.

Graça Leá Souza Lima fala da reação do esposo quando soube do casamento: "Nossa, foi uma alegria incrível. Ele tratou logo de chamar todo mundo, os enfermeiros, a equipe médica, e foi aquela festa dentro do quarto. Ele me disse que a culpa dele estar ainda aqui, vivo, era minha, que eu era a culpada disso tudo", conta, emocionada, a esposa.

No dia da cerimônia, Graça lembra que o "sorriso fácil" do marido era maior do que o de costume. "Eu sou suspeita, mas ele tem um olhar muito bonito e expressivo, mas no dia isso tudo foi maior", conta. A cerimônia religiosa foi ministrada por um pastor evangélico.

O diretor do Hospital Regional de Juazeiro, José Antônio Guimarães Bandeira, acompanhou a cerimônia e falou da situação até então inédita entre os seus 12 anos de atuação na medicina. "Foi uma cerimônia muito emocionante para todos nós. No final teve o beijo deles, e foi um grande momento para quem estava ali", diz.

Apesar da luta diária já que, segundo a família, Givanildo pode não conseguir voltar para casa, principalmente por conta da necessidade da respiração com ajuda de aparelhos, a "esperança não irá acabar", afirma a filha Larissa. "Meu pai tem nos ensinado muito sobre a vida, sobre a vontade de viver. Ele já nos deu tantas reviravoltas durante este mês, já chegou a ter parada cardíaca e a desacreditar a equipe médica, mas voltou firme e forte, que hoje nós temos muita fé e acreditamos que ele ainda tem muito para nos ensinar", completou Larissa.

"Ontem [dia 16] mesmo ele pediu para os enfermeiros pintarem na testa dele a frase 'eu amo minha família' e nos surpreendeu, mais uma vez", disse a esposa.

O diretor médico do hospital disse ao G1 que, por enquanto, a volta de Givanildo para casa não é possível, mas com o passar do tempo a situação pode ser analisada novamente. "Por agora, isso ainda não é visto como possível porque o caso dele é grave e inspira cuidados, mas com o passar do tempo o hospital pode analisar a possibilidade do internamento domiciliar, já que ele precisa respirar com a ajuda de um ventilador", explicou o médico José Antônio Guimarães Bandeira.

Tetraplegia
Givanildo ficou tetraplégico há quatro meses após cair de uma altura de aproximadamente seis metros, no dia 27 de julho deste ano, enquanto fazia alguns "bicos" na cidade. Apesar de trabalhar como pintor, ele realizava a troca de um exaustor de ar no momento do acidente.

"Ele fazia bicos para ajudar na renda mesmo e porque ele gostava de trabalhar", lembra a esposa. De acordo com a direção médica do hospital, o motivo da tetraplegia se deu por conta do diagnóstico de traumatismo raquimedular cervical, causado após o deslocamento da coluna cervical. "Aqui na cidade tá todo mundo comovido, porque ele é muito querido, ótimo profissional, sempre se deu bem com todo mundo", pontua Graça.

Esperançosas, a esposa e as duas filhas do casal agora aguardam que Givanildo continue dando força a todos. "Somos uma família muito humilde, mas cheia de amor, sempre fomos muito dedicados uns aos outros. É a nossa força", diz a matriarca da família, Graça Leá Souza Lima

Fonte: G1

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