sábado, 18 de janeiro de 2020

CARRIS…!? uma Vergonha Nacional

A MISSÃO, a VISÃO e os VALORES da CARRIS, assumidos no seu site institucional, fazem-nos crer que estamos perante uma extraordinária Companhia, inovadora, competente e com um compromisso claro com o serviço que presta.


Assume, quando fala de ‘Compromissos com o Cliente’, responsabilidades relevantes, entre as quais, só para mencionar três:

Fornecer um serviço de qualidade e adequado às expectativas do cliente;
Assegurar a disponibilidade dos recursos necessários de forma a prestar um serviço ao cliente com a qualidade pretendida;
Em colaboração com as entidades competentes, assegurar que o serviço prestado possa ser facilmente utilizado por todos, implementando as medidas necessárias para permitir a acessibilidade daqueles clientes cuja mobilidade se encontre, por algum modo, reduzida.


Perante o relato do que sucedeu neste final de ano ao Sérgio Alexandre Lopes – UM CIDADÃO TETRAPLÉGICO – e pelo que sucede diariamente a tantos outros em situações similares, o comportamento desta Companhia, agora sob a gestão da CML, devia se denunciado como uma VERGONHA NACIONAL.

O relato impressionante do Sérgio

“Saí do Terreiro do Paço e dirigi-me à Praça do Martim Moniz, para a paragem onde passaria o 208, que garante o serviço noturno, de hora em hora. Começou a espera de 50 minutos.

O autocarro chegou às 2h40 e a rampa estava avariada. A temperatura era de cerca de nove graus e a primeira coisa que o motorista disse, pela janela, depois de ter tentado acionar umas seis vezes o dispositivo, foi ‘vai ter que esperar pelo próximo.’ Este é o discurso habitual.

Um pouco antes do autocarro parar, enviei sms para saber dali a quanto tempo seria o próximo e tinha a informação de que seriam 112 minutos.
Eu não estava sozinho e a Carmen já estava à frente do autocarro, informando os passageiros de que se não fôssemos todos, não iria ninguém. Neste momento, o motorista foi tentar abrir a rampa em modo manual, mas não conseguiu. Perguntei-lhe qual a alternativa que a CARRIS me daria e ele insistiu que eu teria que ‘esperar pelo próximo’.

Os passageiros foram informados, por nós, do motivo do bloqueio, da descriminação que a CARRIS promove diariamente, do descaso com que são tratadas as pessoas com mobilidade reduzida. Um dos passageiros que mais apoiou a nossa decisão, chamou a PSP.

O motorista, sem alternativa, entra em contacto com a central. Do outro lado oiço alguém – dizem eles que ‘é um CHEFE’ – ’Então, se não funciona, o passageiro tem de esperar pelo próximo autocarro’. Com esta tranquilidade.

CARRIS – Espere pelo próximo! (esta deveria ser a frase assinatura da empresa)

Perguntei qual a garantia que me davam de que o próximo autocarro teria a rampa a funcionar. A resposta foi: ‘Esteja descansado que a central vai entrar em contacto com o colega e ele vai ver se a rampa funciona’. Conhecendo a CARRIS, e não de hoje, isto não é garantia nenhuma, mas sim um ‘fique a aguardar e depois logo se vê’.

BEEN THERE! SEEN THAT!

Não confio na CARRIS. (muito menos numa madrugada com temperaturas abaixo dos 10 graus)

Entretanto, com autocarro impedido de avançar, tenho todo o tempo para descrever a situação aos agentes da PSP. Reforço que a situação é constante e, naquele contexto, tudo se torna ainda mais grave. Expliquei que tenho o mesmo direito que todos os passageiros a viajar naquele autocarro, que tenho passe, que a CARRIS incumpre a Lei 46/2006, que proíbe e pune a discriminação em razão da deficiência e da existência de risco agravado de saúde, e que a alternativa que a CARRIS me estava a dar era um autocarro mais de 1h30 depois, sem garantias de ter uma rampa funcional.

Os agentes identificaram-nos e depois foram conversar com o motorista para perceber como a CARRIS pretendia resolver a minha situação. O motorista, sem meios de se justificar pela empresa, passou-lhes mesmo o telemóvel para falarem directamente com o ‘CHEFE’ que exigia que a PSP identificasse as pessoas que não deixavam o autocarro seguir a viagem. Ficamos assim a saber que a CARRIS pensa que dá ordens à PSP.

O motorista continuava a tentar seguir viagem, mas connosco e alguns passageiros em frente ao autocarro, era impossível.

Pelo mesmo motorista chega então a informação de que a CARRIS já teria um autocarro a caminho, reservado, apenas para me deixar em casa. Ou seja, não efectuaria quaisquer paragens para tomada ou largada de passageiros. Seria uma forma de me ‘compensar pela situação’, disseram.
Logo que o autocarro ‘reservado’ chegou, o motorista do primeiro queria ir embora, os agentes tentaram dissuadir-nos, mas, mais uma vez, por falta de confiança na CARRIS, foi impedido de ir até que a rampa fosse testada. A rampa estava… avariada, caros amigos.

O segundo motorista, visivelmente incomodado, garantiu que testara a rampa à frente do CHEFE e ‘estava boa.’

O primeiro motorista continuava a ligação com o ‘CHEFE’ da CARRIS. Apercebo-me que todos os passageiros estavam a sair do primeiro autocarro, por ordem da empresa, e que o tal autocarro ‘reservado’, iria continuar a carreira do primeiro.

Parece-me claro que o ‘CHEFE’ queria tentar libertar um autocarro, mas não aconteceu. E doravante não mais acontecerá. Ficaremos todos retidos: nós, os passageiros, os motoristas e os carros que forem enviados. Interpreto, este momento, a esta distância, como prova do foco errado da CARRIS, em relação ao que ali estava a ocorrer.

O motorista do segundo autocarro, sentindo-se inseguro, porque, por esta altura, os primeiros ânimos começavam a exaltar-se entre alguns passageiros, pergunta aos agentes da PSP o que deveria fazer e se seria seguro fazer aquela viagem.

Entretanto, a rampa deste último conseguiu ser aberta manualmente e entrei.

Os polícias, mais uma vez, pelo telefone, questionam o CHEFE da CARRIS acerca da situação. O ‘CHEFE’ foi peremptório – o primeiro autocarro seguiria fora de serviço e o segundo seguiria com todos os passageiros que se juntaram ali ao longo de mais de uma hora. E não éramos poucos. A resposta do senhor agente àquela decisão da CARRIS foi ‘vocês é que sabem a imagem que querem dar da empresa’.

Não somos cidadãos de segunda. Não deixarei que me tratem como se fosse.

Não sou o primeiro a fazer este tipo de ação, mas não podemos deixar que situações como esta se repitam, a cada hora, sem fazermos nada.

Agradeço ao grupo de passageiros que se juntou a mim.
Agradeço aos agentes da PSP que, desde o início, disserem que não nos iam deter pela validade da nossa posição ali.”

Fonte: Minuto Acessível

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