quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ricardo Teixeira: Um tetraplégico de sucesso e feliz


Li com muita atenção a entrevista abaixo, do Ricardo Teixeira, um tetraplégico com mesmo grau de deficiência que eu. Admirável conseguir vingar num mundo tão competitivo e tendo as limitações que "pensei ter". Mérito é todo seu. Mas não concordo com alguns pontos e acho até desrespeitoso para maioria daqueles dependentes, que infelizmente após lesão, são privados de tudo. Direito ao trabalho, formação, educação...Ricardo entende que basta sermos melhores. Mas como se não nos dão hipóteses?

Aqui fica minha resposta ao Ricardo:

Trabalho.
É sempre bom conhecer pessoas com deficiência inseridas no mundo do trabalho e felizes como é o caso do Ricardo. Também tenho lesão C5 e C6 e ouvi-lo dizer que trabalha 16 horas por dia deixa-me curioso de saber como o consegue. Na cama? Enquanto faz verticalização? 16 horas seguidas a trabalhar, suponho que seja sentado na cadeira de rodas. Não conheço nenhum tetra que o faça.

Ser Feliz
Se vivêssemos com dignidade talvez o seriamos também.

Acessibilidades.
Quanto a não dar importância às acessibilidades, tudo certo. Opinião válida e respeito. Mas foca: “Quando viajo para os EUA realmente tudo é muito simples, pois tudo está adaptado”. Caro Ricardo, eu e muitos outros que discordam de si, não desejamos ter tudo perfeito. Mas tudo mais simples, como você bem diz que acontece nos EUA. Você resolve facilmente a questão das suas reuniões em edifícios inacessíveis. Tem que me ajudar a ter uma ideia em casos como este: http://tetraplegicos.blogspot.com/2010/01/centro-saude-tomar-servico-de-saude.html

Trabalho.
Quanto à mensagem que nos deixa: “sermos melhores no que queremos e gostamos de fazer”. Como Ricardo? Pelos vistos está fora da nossa realidade. Maioria de nós que vivemos com menos de 200,00€ por mês, somos despejados em lares imundos e ilegais, onde nem sequer temos direito a um copo de água fria porque não há tempo, como tentar educação/formação para podermos ser melhores se estamos privados de tudo isso? Já agora, se quiser tentar apoiar os muitos desempregados, e seja um sistema que se enquadre na sua empresa, pense no teletrabalho.

Fique bem e parabéns pelas conquistas


Ricardo Teixeira tem 35 anos e actualmente é responsável pelas empresas DigitalWorks, Compuworks e a Jumpmaster Investimentos. Trabalha 14 horas por dia, 6 dias por semana. Faz o que gosta e nunca deixa para amanhã o que pode fazer hoje. Conheça o seu testemunho!

Associação Salvador (AS): O Ricardo iniciou a sua carreira profissional na Microsoft, em 1998. A partir do ano 2000 começou a criar empresas e ainda não parou... DigitalWorks, a Compuworks e a Jumpmaster Investimentos ... Como é o seu dia-a-dia de trabalho?

Ricardo Teixeira (RT): Os meus dias são sempre vividos com uma grande intensidade, mas acima de tudo com uma grande gestão de tempo. Apesar de trabalhar 14 horas por dia e 6 dias por semana, consigo reservar tempo de qualidade para mim e para a minha família. Acredito que quando queremos há sempre tempo para tudo.
Pessoas que conhecem o meu ritmo de trabalho, perguntam como é possível conseguir ter tempo para tudo? Costumo dizer: 1º sou muito motivado pelo que faço, 2º não passo tempo desnecessário a ver televisão, pois é uma actividade que não me estimula e 3º gosto de chegar ao fim do dia e sentir que aproveitei da melhor forma as 24 horas que o dia tem, seja para trabalhar ou disfrutar com a minha família.
Tenho como máxima, nunca deixar para amanhã o que consigo fazer hoje, porque amanhã já poderei avançar noutras coisas.

AS: Como e quando se deparou com a deficiência motora na sua vida?

RT: Foi aos 17 anos, eu era um adolescente com o vício de adrenalina, que vivia a vida no limite, quer com as motas que eram a minha paixão em terra, quer com o surf que era a minha paixão no mar. Todos temiam que algo de mau me iria acontecer numa destas minhas actividades, o que acabou por não acontecer.
O meu acidente acabou por acontecer num dia de praia, sem ondas e a brincar a correr atrás de um amigo, dei um mergulho e bati mal com a cabeça na areia, batida essa que me partiu duas vértebras C5 e C6.

AS: Como foi começar de novo?

RT: Foi literalmente começar de novo, o que considero bom.
Passei a olhar para as coisas de outra forma e tive de pensar no meu futuro de outra forma, coisa que até então nunca tinha pensado, pois sempre achei que iria ser mecânico de motas e shaper de pranchas de surf.
Dediquei-me à escola, dediquei-me mais aos meus amigos e curiosamente até me passei a divertir mais com eles.
Apanhei desde cedo o gosto pelos negócios e fui dando os primeiros "passos" a partir de casa, montando em 1998 uma empresa pessoal de desenvolvimento de sites. Esta foi a primeira empresa e quando dei por mim no ano 2000 já tinha 20 pessoas e um escritório em Lisboa de 400metros, nessa altura criei uma estrutura empresarial.
Acho que todas as pessoas podem começar de "novo", não é preciso ter um acidente para serem forçadas a tomar essa atitude. Neste aspecto vejo que por vezes a minha história serve de motivação para algumas pessoas que não têm qualquer deficiência.
A mim, neste aspecto o meu acidente fez-me "bem", hoje sinto-me muito realizado e feliz com tudo o que faço. Tenho a certeza que se não fosse o meu acidente, hoje não teria chegado aonde cheguei e onde vou chegar... é curioso não é?

AS: Depara-se com algum tipo de condicionantes no seu dia-a-dia de trabalho por se deslocar em cadeira de rodas (acessibilidades de certos edifícios, ou outros)?

RT: Sinceramente não e quando encontro condicionalismos, não fico revoltado e nem me importo. Pois compreendo que ter elevadores e outro tipo de acessibilidades é muito caro e que raramente são usadas. Há outras formas de resolver, por ex. Se vou a uma reunião e o edifício não me permite entrar, então convido a pessoa para almoçarmos num sitio próximo e agradável.
O maior condicionalismo que tive até hoje, foi para tirar a carta, pois ninguém me dava um simples papel para ir tirar a carta e poder ter a possibilidade de ir a exame, pois é nos exames de condução que se vê se as pessoas estão aptas conduzir ou não. A menos que se trate de um problema de foro mental ou outro tipo de doença, o que não era o caso. Os médicos diziam que era impossível eu conduzir... desde então (1996) que tenho feito uma média de 50.000kms\ano e sem incidentes.
Acredito que há sempre uma solução, apenas temos que ver as "coisas" de forma diferente daquela que fomos habituados. E que os factores exteriores a nós e à nossa deficiência, não pode ser motivo para não fazer algo que queremos ou precisamos.

AS: Viaja muito em trabalho? O que acha das acessibilidades em Portugal, comparativamente com outros países que conhece?

RT: Viajo com alguma regularidade, contudo é-me difícil fazer essa comparação uma vez que em Portugal nunca ando de transportes públicos nem de táxi e para onde vou levo o meu próprio carro e normalmente tenho uma ideia das condicionantes que poderei encontrar. Contudo a ideia que tenho é que em Portugal são raros os táxis adaptados, bem como os restantes transportes públicos.
Quando viajo para os EUA realmente tudo é muito simples, pois tudo está adaptado, os passeios não são em calçada e os táxis são em grande parte carrinhas com rampa traseira.
Em Portugal o que há de pior é mesmo os "lindos" passeios de calçada portuguesa que não dá jeito a ninguém, sejam deficientes, senhoras com saltos, pessoas com carros de bebés,... é um mal global para as pessoas.
No entanto considero que Portugal tem evoluído muito neste aspecto, desde há 17 que tive o meu acidente.

AS: A sua experiência de vida será com certeza um exemplo para muitas pessoas, com e sem deficiência ... diria mesmo que é um grande embaixador das capacidades das pessoas com deficiência motora, desmistificando muitos preconceitos, pelo menos perante as pessoas que se cruzam consigo diariamente... As pessoas surpreendem-se consigo?

RT: Confesso que não lhe sei responder e se de facto isso acontece, eu acabo por nem me aperceber. Por vezes o que me é dito é que ao conviverem comigo acabam por se esquecer que eu ando em cadeira de rodas.
Sei que não tenho qualquer problema com a minha deficiência, nem complexo ou medo de uma reacção. Não é uma protecção, é mesmo um facto.
Muitas pessoas deficientes têm receio dos comentários das crianças, eu acho bonito. Fazem-me imensas perguntas e respondo com todo o prazer, muitas vezes convido-as a dar um volta no meu colo e acabam por adorar.
Outras pessoas próximas ou amigos, têm por vezes curiosidades, que por norma têm algum receio em colocar alguma questão que me possa magoar, eu faço questão de colocar as pessoas à vontade para perguntarem tudo.
A nossa atitude e forma de estar, funciona como um espelho nas outras pessoas.

AS: Com certeza, já experienciou situações caricatas, do tipo "como é que uma pessoa que se desloca em cadeira de rodas dirige esta empresa?" .... Tem alguma situação que gostasse de partilhar?

RT: Não tenho qualquer experiencia deste tipo, nem acho que faça sentido haver algum comentário ou ideia neste sentido.
Acho que qualquer pensamento de pessoas externas, não se deve à deficiência, mas sim à atitude que se passa.
As minhas empresas prestam serviços a outras empresas, normalmente a primeira reunião de new business e apresentação da empresa é feita por mim, sendo que as pessoas com quem vou ter reuniões geralmente não têm ideia que vão ter uma reunião com uma pessoa de cadeira de rodas. Já foram seguramente centenas de reuniões e nunca obtive uma reação negativa ou que se note algum preconceito. Sinceramente nunca senti nada do género quer a nível pessoal ou profissional.

AS: O desemprego entre as pessoas com deficiência é muito elevado. Que mensagem deixaria a outras pessoas que, como o Ricardo, se deslocam em cadeira de rodas, e estão neste momento a lutar pelo acesso ao mercado de trabalho?

RT: Hoje é difícil conseguir emprego, seja qual for a condição, sendo que para as pessoas deficientes ainda se torna mais difícil, pelo que só vejo uma hipótese, é sermos melhores no que queremos e gostamos de fazer e acima de tudo nunca usem a deficiência como desculpa para o quer que seja.

Fonte: Associação Salvador

3 comentários:

  1. Meu Amigo Eduardo, só hoje tive a curiosidade de ler ests entrevista toda. Mas eu não dou a culpa a esse senhor que acha que sabe tudo. Mas também, como não podia achar, se esta rodeado de empregadas 24 horas por dia, a fazer tudo o que ele quiser, nem é preciso reclamar. Se eu tivesse as mesmas condições que ele tem, nunca ia reclamar de nada.
    Mas que entrevista estúpido e de mau gosto, este gaju resolveu dar.
    Um abraço meu amigo, Nelson

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    1. Caro Nelson,

      Daqui a pessoa a quem chama "estupido", apenas para lhe dizer que não tenho empregados sem ser para limpar o pó da casa, tudo o que referi é a pura das verdades e de facto é a minha maneira de estar e pensar. Respeito todas as outras formas de pensar e de estar, bem como as diversas limitações, psicológicas, fisicas e socias.
      Não acho que sei tudo, mas faço para saber mais, tal como o nelson pode fazer em vez de passar o seu tempo a criticar pessoas que partilharam um pouco de si, com o unico de motivar e dar esperança a outros.

      Obrigado

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  2. Para ele, tu que vives praticamente numa cama há vários anos, não tens emprego porque não te esforças o suficiente.
    Acha que nos vitimizamos contando estas realidades...pontos de vista...
    Fica bem

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