terça-feira, 24 de julho de 2012

Final da minha história

Na coluna anterior no Portal Vida Mais Livre, escrevi sobre as escaras que tive até hoje. Desta vez irei partilhar convosco o último capítulo da minha história.

Como sabem, após a alta definitiva do centro de reabilitação, fui admitido no emprego que mantinha anterior ao acidente. Tinha um auxiliar pago pela empresa em troca do meu ordenado. No início, foi muito complicada a adaptação em relação à minha nova vida pessoal. Quanto ao exercer minhas funções, tudo certo. Era o responsável total. Fazia compras, ementas, contratação de novos funcionários, formação, decidia preços, negociava com os clientes... tinha liberdade total por parte dos meus ex-patrões. O problema maior foi viver fechado em casa. Nunca saia. Intestinos, bexiga, articulações começaram a dar muitos problemas.

Ligava para o centro e médicos só sabiam encaminhar-me para minha médica de família. Fazia-o, mas verificava que eu era um extraterrestre para ela. Tentava hospitais idem. Vinha para casa e tentava resolver tudo à minha maneira. Não me esqueço do episódio que já vos contei sobrecadeira de rodas de banho/sanitária que me foi atribuída na alta hospitalar. Era péssima. Tinha um orificio à frente para onde minhas pernas deslizavam sempre. Almofada antiescaras também não tinha. Fica numa posição péssima e incômoda.

Acho até que foi nela que apanhei a única escara após alta hospitalar. Mas achava que tinha que me adaptar e ponto final. Não me passava pela cabeça que tinha direito a dar a minha opinião, experimentar produtos e só comprar se me adaptasse a eles...andei uns 10 anos com mesmo material, sem colchão antiescaras e cama adequada. Só descobri mais tarde alguns dos meus direitos e até hoje sinto-me triste por os funcionários da loja de material ortopédico onde era cliente nunca me terem informado sobre novos produtos.

O seguro nunca me recusou nada. Lembro-me de outros episódios: quando era necessário enviar a minha cadeira de rodas elétrica para conserto, ficava na cama durante os dias em que a cadeira estivesse fora. Cheguei a ficar mais que um mês. Sendo que tinha direito a uma substituta, assim como certa vez que perguntei à seguradora do porque de só ter uma cadeira velha e já sem condições, me informarem que tinha que ser eu a requisitá-la. Fi-lo, mas a continuar sem saber que poderia escolher. Enviaram-me um Sunrise de péssima qualidade com assento tamanho 38 ou 39cm. Mal cabia sentado nela. Uso com assento tamanho 43. Liguei para a médica de familia para pedir ajuda, informa-me que teria que ter calma. Comparou a cadeira de rodas a um par de sapatos novos que estamos a usar pela primeira vez e que por isso levaria algum tempo a me acostumar.

Bem tentei dar umas voltinhas, mas impossível. Lembro-me que nesse dia chorei sozinho e culpava-me por ter inventado de pedir uma cadeira nova. Que tinha errado e agora ficava pior. Mas depois de continuar a insistir e verificar que era impossível usá-la, tomo coragem e ligo muito timidamente para seguradora e digo o que se estava a passar. Na hora me descansaram dizendo que iriam proceder à troca por uma cadeira de assento maior. Ufa, foi uma grande alegria.

Por esses episódios vejo que estava muito mal apoiado. No emprego tudo certo, e minha vida corria normalmente. Mas sair, só saia para ir visitar família e consultas. Acessos ao edifício também não existiam. Tinham que me pegar ao colo e outras pessoas a cadeira. Como não gosto de dar trabalho, talvez esse fato pesasse. Hoje, sei que ficar em casa em nada ajuda nossa integração. Mas como trabalhava e morava no mesmo edifício, talvez tenha ajudado a esse fato. Mas nunca me escondi, eu recebia os vendedores, me reunia com clientes para negociar preços de casamentos, grupos, etc e deslocava-me às mesas sempre que era solicitado ou havia algum problema a resolver.

Concluindo: maioria das pessoas após acidente costumam dizer que passam pelo luto, revolta e aceitação. Acho que nunca passei por essas fases. Lamento é não ter tido um acompanhamento devido. Quanto ao resto acostumei-me a viver com o que tinha e sem fazer dramas. Nós seres humanos adaptamo-nos a quase tudo. Há que viver um segundo de cada vez e pensar sempre que amanhã é outro dia.

Fim...com muito mais a dizer. Fica para uma próxima vez. 

3 comentários:

  1. Parabens Edu, acho que para nos poderes dar o teu testemunho, de que viver vale sempre a pena!! Valeu toda essa tua capacidade de dar a vola por cima, determinação e resiliência :)
    Obrigado por existires na minha vida.
    Unidos Venceremos a indiferença à diferença!
    Um abraço cheio de Luz

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  2. Boa noite.

    O meu pai teve um acidente de trabalho e ficou paraplégico. Eu quero muito ajudá-lo. É assegurado pela seguradora com a qual a empresa tinha acordo. Tenho dúvidas... Como escolher a cadeira de rodas? Quem escolhe? O seguro paga qualquer cadeira que se escolha? Ando à procura de uma casa para ele com elevador. Encontrei uma mas a porta do elevador tem 68 cm de largura. Como sei se a cadeira do meu pai passará nesta porta? Ele ainda se encontra acamado, ainda vai começar processo de reabilitação. Sinto-me tão perdida....

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  3. Calma, envie-me por favor o seu email e contatos para tetraplegicos@gmail.com que a apoiarei em tudo que estiver ao meu alcance. Também tivee acidente de trabalho. Entretanto se preferir pode contatar a ANDST: http://www.andst.pt/www/
    Irão apoia-la gratuitamente.
    Abraço solidário

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