Será que sou deficiente? Ou serei portador de uma deficiência? Serei tetraplégico? Mas ouvi dizer que afinal sou uma “pessoa com deficiência”…Que confusão! Afinal, por que resolveram começar a confundir-me? É isso mesmo. Estou confuso e nem eu sei bem o que sou, o que tenho, como sou. A que pontos isto chegou! Até eu próprio fico na dúvida de como me tratar. Ridículo não acham? E tudo isso por quê? Porque as mentes ditas iluminadas, de repente, resolveram achar que todos os termos utilizados até agora para referir-se a nós eram inapropriados. Mas por quê essa implicância logo agora?
Alguns afirmam que deficiente é um termo pejorativo. Portador de deficiência conota-nos com incapacidade, etc. Segundo o dicionário Priberan de língua portuguesa, “deficiente” é: “Em que há deficiência” e “deficiência” significa: “Imperfeição, falta, lacuna”. Como ficamos? Existe assim tanta diferença? Ainda por cima, segundo os que decidem por nós, o termo mais adequado e aconselhado a ser usado a partir de agora, é “pessoa com deficiência”. Mas qual a diferença entre ser alguém que tem uma deficiência (significado de deficiente) e uma pessoa com imperfeição, lacuna e falta (significado de deficiência)? Ou ainda uma pessoa “com” deficiência e “portadora” de deficiência? Até entendo que se deva tentar uniformizar o termo por várias razões, e também que os tempos evoluíram e os termos como “inválido” e “paralítico” estão mais que ultrapassados. Mas também não precisam exagerar.
Porque não deixar um pouco dessa preocupação de lado e virarem-se para os nossos reais problemas? Dava jeito. Até recentemente a Presidente do Brasil foi interrompida e corrigida durante um discurso, onde se dirigiu a nós como “portadores” de deficiência. Imediatamente alguém na plateia fez questão de afirmar que esse termo nem pensar. A Sra. fez-lhe a vontade, tipo: pronto, está bem! Se é tão importante assim, eu passarei a tratar-vos por “pessoas com deficiência”…
Aproveito e deixo um conselho aos que tanto se ofendem com algumas definições. A maioria das nossas associações têm no nome a palavra “deficientes”. Toca a obrigá-los a mudar de nome. Também temos a “Tabela Nacional de Incapacidades” e tantos outros casos idênticos. Isso também tem que mudar e já.
Quanto a mim, não autorizei ninguém a decidir por mim e nem tenciono esconder ou camuflar a minha deficiência, por isso, podem continuar a referir-se a mim como bem entenderem, mas já agora aviso que prefiro que me tratem pelo nome, pode ser? Pior é se a moda pega. Qualquer dia, os ricos exigem ser tratados por pessoas com uma riqueza e não portadores de uma riqueza, os portadores de um dom, pessoas com um dom…
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