Natal...frio...lareira...cadeira de rodas...perigo...na minha crónica no Jornal Abarca.
Cheira-me a borracha queimada! A mim também, afirma quem está sentado ao meu lado. Olha que deve ser da tua cadeira, tem cuidado, atira outra…ao observar com atenção, afinal o cheiro e o fumo que entretanto começou a surgir, vem da parte da frente das solas das minhas botas. Afinal o calor vindo da lareira estava a derretê-las e a queimar-me as pernas.
A lesão medular levou-me a sensibilidade do corpo e não tinha como me aperceber que o calor era em demasia. A partir dessa altura a lareira passou a ser uma preocupação. Se até essa data eu e a lareira já não nos entendíamos muito bem, pois aquecia a parte da frente do corpo, arrefecia a parte de trás e vice-versa, se ficava muito longe, o calor não me chegava, se ficava perto corria o risco de sofrer queimaduras. a partir dessa data ficamos ainda mais afastados.
Agora prefiro ficar à distância e atento. Qualquer desconfiança lá estou eu a pedir para me porem as mãos nos sapatos e pernas. Se estão muito quentes, afasto-me, se não estiver quente em demasia, chego-me mais à frente, e ali estou eu a jogar ao jogo do “gato e do rato”, se assim não for, corro o risco de sofrer queimaduras.
A minha mãe dizia com frequência que a lareira é uma excelente companhia. Tenho saudades dessa lareira que me recebia de braços abertos e me fazia companhia durante horas. Que me permitia assar castanhas, torrar pão…. Aquela lareira que me matava o frio, com tanta competência e carinho e em quem podia confiar...
Sei que já não posso voltar a contar com essa lareira do passado, aquela lareira cujo estilhaçar da lenha no seu interior, ainda me soa como música no ouvido que me traz grandes recordações, mas mesmo assim continua a ter o seu encanto, esse vai continuar em mim.
Eduardo Jorge
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