“Não consigo arranjar emprego no sector público nem no privado, nem como investigador, nem como simples informático”, lamenta Paulo Condado.
O investigador, licenciado em Engenharia Informática, doutorado e pós-doutorado em Engenharia Electrónica e Computação, foi recentemente distinguido pela Universidade do Algarve (Ualg) com uma “menção honrosa” no âmbito do Prémio Carreira Alumni 2016. Aplausos e elogios não faltaram. O emprego que lhe completaria a verdadeira integração social continua a não surgir.
“Mandei currículos para todas as empresas da região na área da informática, e algumas de Lisboa e de Coimbra, mas nem tive direito sequer a uma entrevista.” A mulher, assistente operacional no Hospital de Faro, acrescenta: “Promessas houve algumas, nada mais do que isso.”
As palavras de agradecimento que proferiu, durante a cerimónia da entrega do prémio, saíram através de uma voz sintetizada por um computador. A aplicação, denominada easy voice, foi criada por ele, em 2009, no âmbito do doutoramento. “Muito bom” foi a classificação que o júri lhe atribuiu no exame. A seguir recebeu o convite para visitar o Instituto de Tecnologias de Massachusetts — MIT, nos Estados Unidos da América. “Tive oportunidade de trocar opiniões com investigadores de renome sobre o meu trabalho. Todos eles me incentivaram a continuar e a melhorar”, recorda.
Uma vez regressado a Portugal, idealizou o easy right — um método de introdução de texto que permite às pessoas com problemas de coordenação nos membros superiores utilizarem pequenos dispositivos móveis. O trabalho foi desenvolvido por um aluno de mestrado que co-orientou.
Acender e apagar as luzes da casa, abrir e fechar portas ou ligar e desligar a máquina do café com um simples telemóvel é uma das sua últimas criações informáticas. A aplicação destina-se a permitir a pessoas com deficiência a interacção com o ambiente. “É importante conhecer as dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam no quotidiano”, observa. No que lhe diz respeito, sublinha, procura, “com o desenvolvimento da ciência, ajudar a integração social” destas pessoas.
Uma vez terminada a bolsa de investigação que recebeu da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e acabado o subsídio da Fundação Calouste Gulbenkian, que lhe permitiu prosseguir com os estudos, aumentaram as dificuldades financeiras do casal. Há cerca de um ano foi recebido pela secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, na esperança de que seria a pessoa certa para melhor compreender e ajudar a vencer as suas batalhas. Depois de revelar as dificuldades que tem tido para derrubar as barreiras da exclusão social, obteve da governante a resposta politicamente correcta. “Vou ver o que posso fazer.” Em Março do ano passado voltou à carga, dirigindo-se ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que remeteu o assunto para o Governo. Por fim, em Dezembro, foi recebido no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Faro, e foi informado de que se poderia candidatar a um contrato de emprego-inserção, com um ordenado de cerca de 400 euros. “Senti-me humilhado, recusei, porque me impuseram como condição prévia submeter-me à avaliação de um técnico da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral (APPC) que iria avaliar as minhas capacidades.”
A filha, de quatro anos, aos pulos pela sala, aproxima-se para revelar um sonho: “Quero ser doutora das crianças.” O pai, sorridente, desabafa: “Já fui também um jovem idealista.” Agora, aos 37 anos, tem a carreira suspensa.
Há cerca de ano e meio escreveu uma “carta aberta” a expor a sua situação de investigador, preso pelo “preconceito” de uma sociedade que não favorece a integração. Da Suíça chegou-lhe o convite para leccionar numa universidade, da Irlanda uma oferta de emprego numa multinacional. “Mas é aqui que tenho a minha família”, diz, na esperança de ainda de vir a ter uma oportunidade de trabalho no Algarve — uma “região inteligente”, segundo os projectos apresentados ao programa Portugal 2020.
Fonte: Público
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