Nicole Engelen entra no centro de congressos, em Darmstadt, Alemanha, e todos os olhares se viram na sua direção. Podia ser pelo ar doce, iluminado pelos olhos de um azul profundo. Mas não será por isso. Ou, pelo menos, só por isso. A jovem de 23 anos carrega um equipamento que lhe dá um ar de ser biónico, vindo diretamente do futuro para a conferência Curious 2018, promovida pela farmacêutica Merck.
O aparelho que Nicole tem agarrado às pernas, alimentado por uma bateria que transporta às costas, é um exoesqueleto robótico que possibilita que pessoas com lesões na medula consigam voltar a pôr-se em pé e andar. De nome ReWalk, é apenas um dos vários existentes no mercado, sendo o primeiro a receber aprovação pela agência norte-americana do medicamento, FDA, já em 2011. No país, as seguradoras comparticipam, mediante avaliação do caso. Na Alemanha também. “Basta um médico atestar que o utilizador vai beneficiar com ele”, explica à VISÃO Andy Dolan, vice-presidente da empresa norte-americana. Nicole, nisso, teve sorte.
Por ser alemã, a expectativa é de que, daqui a pouco tempo, possa levar para casa, sem qualquer custo, o aparelho que tem um preço a rondar os 70 mil euros. Depois de ter passado três anos sentada numa cadeira de rodas, está finalmente na vertical e move-se, quase com graça, pelo espaço amplo. Ainda está na fase de treinos, mas a sua evolução tem sido espantosa.
“Não sou uma pessoa normal”, admite. Isto porque se tem adaptado de uma forma extraordinariamente rápida. Apertando um botão, numa espécie de relógio de pulso, Nicole dá instruções ao aparelho para andar, sentar, subir e descer. O que já lhe permitiu passear o cão ou ir ao supermercado. “Apeteceu-me comprar tudo, só porque conseguia chegar às prateleiras mais altas”, ri-se.
O exoesqueleto ainda não é o milagre que as vítimas de lesões medulares esperam. Nem o é, por enquanto, o tratamento com células estaminais ou a estimulação elétrica, que se têm mantido há mais de 20 anos como uma promessa adiada no restabelecimento da ligação nervosa entre o cérebro e os músculos. Porém, devolve autonomia e evita muitas das complicações de saúde a que estão sujeitas as pessoas com lesão na medula, obrigadas a deslocarem-se em cadeira de rodas. Além da óbvia limitação à liberdade de movimentos, sobretudo nas mal preparadas cidades portuguesas, estar sempre sentado traz dores de costas, infeções urinárias, problemas de circulação, perda de massa muscular e excesso de peso.
“Está consagrado que cada pessoa tem direito à locomoção, mas não está nada escrito sobre o direito a ficar de pé”, nota Andy Dolan. “É por isso que os sistemas de saúde pagam uma cadeira de rodas e não um equipamento deste tipo.” Por isso e, obviamente, por causa do preço. No entanto, compensa, mesmo que o parâmetro a avaliar seja apenas o económico. “Queremos demonstrar que há uma relação vantajosa em termos de custo/benefício.” Porque se evitam todas aquelas complicações de saúde, e respetivos tratamentos e internamentos hospitalares.
À ESPERA DA APROVAÇÃO
Num texto emotivo, mas sem qualquer tipo de pieguice, Andrei Khalip, 47 anos, jornalista da agência Reuters a viver em Portugal, relatou a sua experiência de utilização de um exoesqueleto. Ao fim de duas semanas de treino intenso, Andrei, que sofreu uma lesão na medula na sequência de um acidente numa ilha grega, aos 25 anos, conseguiu reaprender a andar, com o Phoenix. Ainda em fase de aprovação pela FDA, o exoesqueleto desenvolvido pela empresa SuitX, a partir de uma investigação feita na Universidade da Califórnia, apresenta-se como um equipamento com metade do peso e também metade do preço – €30 mil é quanto deverá custar o Phoenix, que será vendido em módulos, para facilitar a utilização e permitir saltar diretamente da cadeira para a posição em pé, sem ajuda. “Só experimentei aquele exoesqueleto e vou continuar à espera que seja aprovado, para comprar. Trinta mil euros ainda se consegue poupar. Os outros aparelhos no mercado têm preços incomportáveis”, diz Andrei Khalip à VISÃO. Ao fim de duas (duras) semanas, Andrei sentiu melhorias a vários níveis, em especial da dor ciática que o acompanhava há tempos.
Em Portugal, no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, da responsabilidade da Santa Casa da Misericórdia, recorre-se a um equipamento do género, como complemento à terapia convencional. No caso, trata-se do EKSO GT Bionics que “permite aos utentes com alterações neuromusculares realizar treino de marcha, conferindo-lhes maior mobilidade, autoconfiança, força muscular, flexibilidade e resistência. A sua utilização, como meio de intervenção terapêutica, proporciona um aumento da independência e da funcionalidade”, responde-nos o departamento de comunicação da instituição. Doentes com alterações do foro neurológico, com lesões da medula ou acidentes vasculares são os principais utilizadores do equipamento, concebido para ser usado em contexto terapêutico e não para levar para casa. Outros equipamentos, como o desenvolvido pela empresa japonesa Cyberdyne, apresentam uma tecnologia ainda mais sofisticada, com sensores que detetam sinais bioelétricos, libertados pela pele quando o cérebro dá uma instrução. O sensor interpreta a intenção e o HAL (assim se chama este ciborgue) faz as pernas mexer.
Na sua readquirida posição vertical, Nicole (que deu a volta à Europa, sozinha, num carro adaptado) já começou a fazer planos a longo prazo. Quer estudar arquitetura para desenhar casas. Para Andrei Khalip, voltar a andar deixou de ser um sonho. É uma realidade a €30 mil de distância.
O exoesqueleto ainda não é o milagre que as vítimas de lesões medulares esperam. Nem o é, por enquanto, o tratamento com células estaminais ou a estimulação elétrica, que se têm mantido há mais de 20 anos como uma promessa adiada no restabelecimento da ligação nervosa entre o cérebro e os músculos. Porém, devolve autonomia e evita muitas das complicações de saúde a que estão sujeitas as pessoas com lesão na medula, obrigadas a deslocarem-se em cadeira de rodas. Além da óbvia limitação à liberdade de movimentos, sobretudo nas mal preparadas cidades portuguesas, estar sempre sentado traz dores de costas, infeções urinárias, problemas de circulação, perda de massa muscular e excesso de peso.
“Está consagrado que cada pessoa tem direito à locomoção, mas não está nada escrito sobre o direito a ficar de pé”, nota Andy Dolan. “É por isso que os sistemas de saúde pagam uma cadeira de rodas e não um equipamento deste tipo.” Por isso e, obviamente, por causa do preço. No entanto, compensa, mesmo que o parâmetro a avaliar seja apenas o económico. “Queremos demonstrar que há uma relação vantajosa em termos de custo/benefício.” Porque se evitam todas aquelas complicações de saúde, e respetivos tratamentos e internamentos hospitalares.
À ESPERA DA APROVAÇÃO
Num texto emotivo, mas sem qualquer tipo de pieguice, Andrei Khalip, 47 anos, jornalista da agência Reuters a viver em Portugal, relatou a sua experiência de utilização de um exoesqueleto. Ao fim de duas semanas de treino intenso, Andrei, que sofreu uma lesão na medula na sequência de um acidente numa ilha grega, aos 25 anos, conseguiu reaprender a andar, com o Phoenix. Ainda em fase de aprovação pela FDA, o exoesqueleto desenvolvido pela empresa SuitX, a partir de uma investigação feita na Universidade da Califórnia, apresenta-se como um equipamento com metade do peso e também metade do preço – €30 mil é quanto deverá custar o Phoenix, que será vendido em módulos, para facilitar a utilização e permitir saltar diretamente da cadeira para a posição em pé, sem ajuda. “Só experimentei aquele exoesqueleto e vou continuar à espera que seja aprovado, para comprar. Trinta mil euros ainda se consegue poupar. Os outros aparelhos no mercado têm preços incomportáveis”, diz Andrei Khalip à VISÃO. Ao fim de duas (duras) semanas, Andrei sentiu melhorias a vários níveis, em especial da dor ciática que o acompanhava há tempos.
Em Portugal, no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, da responsabilidade da Santa Casa da Misericórdia, recorre-se a um equipamento do género, como complemento à terapia convencional. No caso, trata-se do EKSO GT Bionics que “permite aos utentes com alterações neuromusculares realizar treino de marcha, conferindo-lhes maior mobilidade, autoconfiança, força muscular, flexibilidade e resistência. A sua utilização, como meio de intervenção terapêutica, proporciona um aumento da independência e da funcionalidade”, responde-nos o departamento de comunicação da instituição. Doentes com alterações do foro neurológico, com lesões da medula ou acidentes vasculares são os principais utilizadores do equipamento, concebido para ser usado em contexto terapêutico e não para levar para casa. Outros equipamentos, como o desenvolvido pela empresa japonesa Cyberdyne, apresentam uma tecnologia ainda mais sofisticada, com sensores que detetam sinais bioelétricos, libertados pela pele quando o cérebro dá uma instrução. O sensor interpreta a intenção e o HAL (assim se chama este ciborgue) faz as pernas mexer.
Na sua readquirida posição vertical, Nicole (que deu a volta à Europa, sozinha, num carro adaptado) já começou a fazer planos a longo prazo. Quer estudar arquitetura para desenhar casas. Para Andrei Khalip, voltar a andar deixou de ser um sonho. É uma realidade a €30 mil de distância.
O QUE HÁ NO MERCADO
Diferentes opções, baseadas no mesmo princípio: dar a possibilidade de voltar à posição vertical
HAL - O sistema desenvolvido pela empresa japonesa Cyberdyne assenta em sensores que detetam na pele a intenção de movimento expressa pelo cérebro
Ekso GT Bionics - Utilizado no hospital de Alcoitão, tem uma função essencialmente terapêutica. Foi o primeiro a ser aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para utilização em vítimas de AVC (além das pessoas com lesão na medula)
ReWalk - Aprovado em 2011 pela FDA, está desenhado para ser usado no dia a dia, permitindo subir e descer escadas.
HAL - O sistema desenvolvido pela empresa japonesa Cyberdyne assenta em sensores que detetam na pele a intenção de movimento expressa pelo cérebro
Ekso GT Bionics - Utilizado no hospital de Alcoitão, tem uma função essencialmente terapêutica. Foi o primeiro a ser aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para utilização em vítimas de AVC (além das pessoas com lesão na medula)
ReWalk - Aprovado em 2011 pela FDA, está desenhado para ser usado no dia a dia, permitindo subir e descer escadas.
Fonte: Visão
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