sábado, 14 de novembro de 2015

Livox - o melhor aplicativo de inclusão do mundo!

É incrível pensar no potencial do ser humano quando canalizado para boas iniciativas, somos capazes de coisas que não temos noção. Geralmente descobrimos isso quando a vida nos coloca em desafios imensuráveis, aqueles que geralmente quando olhamos “de fora” dizemos assim: eu não seria capaz de suportar! A verdade é que temos dento de nós uma força que não conhecemos e todos podemos sim suportar, recriar-se e reinventar-se, basta que alguns gatilhos sejam disparados, ás vezes por nós mesmos outras vezes pelos indivíduos que nos cercam.

A ideia deste post vem de uma história em que um homem depois de ter uma filha que nasceu com uma paralisia cerebral criou um aplicativo de celular para que ela conseguisse se comunicar. Sua capacidade de atender as necessidades da filha e proporcionar que ela desenvolvesse todas as suas potencialidades foi reconhecida e premiada com nada menos que “o melhor aplicativo de inclusão do mundo” pela ONU em Abu Dhabi e também foi reconhecido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, nos Estados Unidos.

O Livox é um aplicativo que pode ser adaptado para diversos tipos de deficiência; para a menina o aplicativo utilizado em um tablet proporcionou que ela se alfabetizasse e criasse uma história que já virou livro. Agora imagine o que este aplicativo significa na vida desta menina e de outras pessoas com deficiência que estão utilizando a tecnologia a seu favor, podendo estudar, dizer o que sentem e querem como a grande maioria da humanidade que o faz sem pensar. E o que isso significa na vida deste pai, que no intuito de ajudar sua filha e de facilitar a comunicação da família criou algo que já está ultrapassando as fronteiras da América e será traduzido e distribuído no mundo árabe para modificar a vida de quantas pessoas?

Assista ao vídeo que explica um pouco mais sobre o Livox: https://www.youtube.com/watch?v=K0_uPu04OMQ&feature=youtu.be

A tecnologia tem o poder de aproximar as pessoas com deficiência da igualdade na comunicação, interação, do trabalho, dos estudos e muito mais. As iniciativas não são tão frequentes porque ainda há o conceito de que aquilo que é feito para as pessoas com deficiência não é rentável por que há poucas pessoas que farão uso do produto, mas esta ideia já está sendo modificada no Brasil até porque em outros lugares do mundo o setor da inclusão é visto muito mais como um nicho de mercado bem atrativo.

Que cada dia mais apareçam novas oportunidades para as pessoas com deficiência mostrarem todo seu potencial a sociedade para que sejam vistas como produtivas e ativas na sociedade.

Fonte: Cadeirantes Life

Seminário “Novas Tendências no Desporto para a Deficiência Intelectual”

A Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD) e a Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual (ANDDI) organizam o seminário “Novas Tendências no Desporto para a Deficiência Intelectual” nos dias 11 e 12 de dezembro na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

A ação destina-se a treinadores e técnicos de desporto adaptado, técnicos desportivos com interesse em desenvolver atividade no âmbito do desporto adaptado, estudantes e comunidade em geral.


É objetivo desta iniciativa, conforme revelaram os organizadores em nota remetida à Plural&Singular, “proporcionar a aprendizagem e atualização de conteúdos no que respeita à regulamentação e às modalidades emergentes no desporto para pessoas com Deficiência Intelectual”.

Também é meta “promover o debate e discussão crítica acerca do desporto para pessoas com Deficiência Intelectual”

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Assembleia da República obrigada a cumprir a sua Lei

Minha nova crónica no jornal Abarca...

No dia 22 de julho de 2008 teve formalmente início a empreitada de remodelação da Sala das Sessões da Assembleia da República, a qual teve como objetivo dotar aquele espaço de melhores condições para todos aqueles que ali desempenham as suas funções. Quatro milhões e meio de euros depois, a centenária Sala das Sessões reabriu em março de 2009.

Deputados passaram a ter acesso a computadores individuais, a partir dos quais registam a sua presença no plenário, fazem as votações, ou dirigem requerimentos e perguntas ao Governo. O chão e as bancadas são novos, bem como o sistema de iluminação, que passa a ter uma luz mais "fria", adaptada à captação de imagens, com a particularidade de incluir uma luz especial, azulada, que potencia o estado de alerta em momentos do dia de maior sonolência. Foi também instalado um novo sistema de ar condicionado e até as estátuas e as pinturas foram limpas. As paredes das galerias têm um novo isolamento, com tratamento acústico, o relógio da sala foi recuperado e os computadores, da primeira e da segunda filas, vão poder aceder aos quatro ecrãs de projeção agora disponíveis, onde os deputados podem exibir gráficos ou textos. Deixou de haver lugar para "info-excluídos". Tudo passou a ser informatizado.

O hemiciclo do início do século XX chega agora ao século XXI, mas o acesso à Casa da Democracia por parte de cidadãos com Mobilidade Reduzida, que sempre foi muito difícil, para não dizer que na maioria dos casos é impossível, continua como era.

E agora que foi eleito um deputado com Mobilidade Reduzida e que necessita de uma cadeira de rodas para se deslocar?

Os mesmos deputados que em 2006 legislaram, através do Decreto-Lei n.º 163/2006,de 8 de agosto, que veio revogar o Decreto-Lei nº123/97, de 22 de maio, com o objetivo de precisar melhor alguns aspetos que não facilitavam a cabal aplicação do diploma, para além de alargar as Normas Técnicas de Acessibilidade também aos edifícios habitacionais, foram os primeiros a fazer ‘letra morta‘ do que aprovaram.

O facto dos Serviços do Parlamento evidenciarem abertura para rapidamente encontrarem soluções:http://www.tsf.pt/politica/interior/assembleia-da-republica-estuda-solucoes-de-acessibilidade-para-deputado-do-be-4822198.html não esconde o essencial. Na verdade, o “algodão não engana”. Esta situação testemunha com clareza porque é que Portugal continua a ser um país que exclui as Pessoas com deficiência e continue a ser, quando comparado com a maioria dos países da União Europeia, um PÁRIA.

Para RESPIRARMOS um pouco melhor e percebermos o que significa o valor da inclusão, vamos até ao Parlamento do Reino Unido: https://www.youtube.com/watch?v=u7rWFqkaETg

Portugal é um Estado de Direito e o recurso aos tribunais parece ser a única via. Há responsáveis e temos que os encontrar.

Fonte: Minuto Acessível

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Meu nome na boca de um deputado e um ex Ministro

1ª intervenção do deputado Jorge Falcato na Assembleia da República.

"Amanhã darão lugar à esperança de melhores dias para pessoas com deficiência."


EU: Meu nome fez parte do debate. Pelas palavras do Sr Ministro Mota Soares,  foi a minha greve de fome que chamou a atenção para a necessidade de uma Vida Independente das pessoas com deficiência.

Encontro de recrutamento em Alcoitão

A Associação Salvador promove um Encontro de Recrutamento a decorrer no dia 1 de Dezembro no Centro de Reabilitação de Alcoitão, onde estarão presentes 10 empresas com ofertas de emprego.


“Se tem deficiência motora e está à procura de emprego, agarre esta oportunidade! Encontramos a melhor empresa para o seu talento!”, pode ler-se na página de facebook da Associação Salvador.

Inscrições através do seguinte email: luciana@associacaosalvador.com

Fonte: Plural & Singular

Ensino especial em ruptura. Um técnico pode cuidar de 97 alunos

Num mau arranque do ano lectivo para o ensino especial, confirma-se o pior dos cenários: faltam professores e técnicos para apoiar os alunos com necessidades. A Renascença encontrou um agrupamento de escolas de Mangualdade.

“Passado um mês, o cenário confirma-se e as indicações que tínhamos relativamente ao aumento do número de alunos e à manutenção do número de professores não serviram para colmatar as dificuldades que se verificam nas escolas. A nossa situação continua a ser bastante grave”, afirma à Renascença Ana Sezudo, da Associação Portuguesa de Deficientes.

A responsável diz que os alunos estão a receber menos tempo de apoio e que já há pais com medo de exigir mais.

“O tempo de apoio para estes alunos diminuiu drasticamente e chegamos a ter alunos com apenas meia hora de apoio semanal, o que nos parece insuficiente”, afirma, adiantando que as alternativas que existem “são os centros de recurso e instituições, que estão também em situação bastante complicadas”.

“Temos situações de pais que, na maior parte dos casos, têm bastante receio de falar, porque precisam que a escola ou aquele centro fique com os seus filhos e não podem ou querem exigir muito mais. As situações são bastante complicadas”, revela Ana Sezudo.

Um técnico para 97 alunos

O cenário de grandes dificuldades é comprovado, por exemplo, no agrupamento de escolas de Mangualde, onde há apenas um técnico e 13 professores para 97 alunos com necessidades educativas especiais.

A coordenadora Joaquina Gonçalves diz que com o trabalho em grupo se consegue atingir bons resultados, mas o mesmo não se pode dizer relativamente à falta de técnicos.

Há casos concretos de constrangimentos. "Nas unidades de autismo, em que os meninos não estão a beneficiar de terapia; na fisioterapia, temos uma menina com paralisia cerebral que lhe foi retirada a fisioterapia; um outro aluno com implante coclear foi-lhe retirada a terapia da fala”, relata a professora.

O director do agrupamento de Mangualde, Ângelo Figueiredo, recorda o espanto com que recebeu a notícia do corte de técnicos para este ano lectivo.

“Durante os trabalhos de lançamento do ano lectivo, fazemos plano de actividades e isso vai para a Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, a DGEST. Aí pedimos, aluno a aluno, determinadas horas para apoio. Em Agosto, levamos a ripada. Pode haver escolas em que um técnico chega e sobra!”, ironiza.

Reportagem completa: TSF

É uma calçada portuguesa, com certeza

A polémica foi lançada com a aprovação do Plano de Acessibilidade Pedonal da Câmara Municipal de Lisboa (CML), a 17 de fevereiro de 2014. Mas, embora alvo de controvérsia, a Calçada Portuguesa é apenas um dos pontos a considerar na eliminação das barreiras arquitetónicas até 2017 previstas neste documento. 

O que se quer no fundo com estas medidas é facilitar a mobilidade de todos - não só das pessoas com deficiência, mas também dos idosos, das grávidas, de alguém que tenha partido um membro ou tenha sido operado, quem empurra carrinhos de bebés ou transporta malas pesadas, por exemplo.

Para a presidente da Associação de Defesa do Património de Lisboa (ADPLx), Aline Hall de Beuvink, a capital portuguesa há muito precisava de um plano de acessibilidade. “Veja-se os passeios, sempre povoados por carros, sem controlo, ou o mero multibanco, que é, habitualmente, colocado de uma maneira que pessoas com mobilidade reduzida têm imensa dificuldade em utilizá-lo. Ou, para dar outro exemplo, a sinalização para invisuais, como os semáforos, o metro, etc.”, enumera.

A presidente da Associação Portuguesa de Deficientes (APD), Ana Sesudo, das barreiras de acessibilidade existentes destaca o rebaixamento dos passeios, mas, segundo o diretor da equipa responsável pelo Plano de Acessibilidade Pedonal da CML, o arquiteto Pedro Gouveia, são tantos os problemas a corrigir que “se começasse por enumerar todos era difícil chegarmos ao fim”.

Para além das barreiras físicas naturais, como é exemplo a inclinação da cidade das sete colinas, o arquiteto destaca as caixas de eletricidade, as paragens de autocarros, os pilaretes – o maior inimigo dos invisuais - os sinais de trânsito que são mal colocados, a falta de aviso de obras ou de alterações, etc. etc

Seminário “Estudantes com Necessidades Educativas Especiais na ULisboa”

Apelando à inclusão – Políticas, Práticas e Cultura – importa compreender o percurso dos alunos na Universidade, à entrada, na frequência e à saída para o mercado de trabalho.

Este evento surge da criação da Universidade de Lisboa (ULisboa), e da reativação da Rede de Necessidades Educativas Especiais (Rede NEE-ULisboa), com representatividade das atuais 18 Escolas, assegurando a prossecução do plano de trabalhos então delineado pela Ex-Universidade de Lisboa e a integração de novas atividades dirigidas aos Estudantes com Necessidades Educativas Especiais (Estudantes-NEE).

No contexto desta união, em que se identificam diferenças nos modelos de apoio aos Estudantes-NEE, afirma-se oportuna a troca de experiências visando a melhoria e desenvolvimento de estratégias de atuação, enquadradas nas boas práticas.

A necessidade de debater as temáticas associadas aos Estudantes-NEE neste novo cenário resultou na organização do Seminário “Estudantes com Necessidades Educativas Especiais na ULisboa” que pretende mostrar o trabalho desenvolvido pelas Escolas e pela Rede NEE-ULisboa numa procura de identificação de melhorias que possam contribuir para aumentar a qualidade de vida académica dos Estudantes-NEE da ULisboa.

Mais informações AQUI

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Carta de condução. A regra do mais forte

Ficou paraplégico aos seis anos de idade a fazer um pino na praia. Faz este ano 18 e os pais decidiram oferecer-lhe a carta de condução. Mas aquilo que começou por ser uma ideia simples rapidamente se transformou numa aventura de loucos.

Antes de mais, foi preciso encontrar uma escola que oferecesse aulas de condução adaptada. “Oferecesse” é como quem diz, porque logo na primeira busca veio o impacto do preço: 970 euros é quanto custa na Sentido Obrigatório, em Alcabideche.

Como esta era já a décima escola contactada, nada como ir ver de perto. Ao contrário das anteriores, esta não só tem ensino adaptado a deficientes e pessoas com mobilidade reduzida como tem o automóvel – coisa rara. As anteriores, ou não ofereciam o serviço ou não tinham carro adaptado, e teria de ser o aluno a trazer o “seu” automóvel.
À chegada à escola, outro embate: um lanço de escadas a dar para o exterior. Sem rampa para cadeira de rodas. “Mas como é que o aluno entra na escola onde vai ter aulas?”, perguntou a mãe, ansiosa. “Trazemos o aluno ao colo”, respondeu, solícito, o funcionário.

A mãe ainda teve presença de espírito para saber se não seria mais ajuizado da parte da escola gastar dinheiro numa rampa do que num fisioterapeuta que, mais tarde ou mais cedo, terá de curar as maleitas do desgraçado que tiver de carregar alunos para cima e para baixo. “É que o meu filho pesa quase 90 kg. Mais a cadeira de rodas, está bem a ver...”

Não é esta a escola que Martim vai frequentar. Ali próximo, na Parede, uma outra tem carro próprio adaptado e não há barreiras físicas, além de que o preço é mais em conta, 760 euros.

O i contactou a Sentido Obrigatório de Alcabideche, que reconhece que o preço é “um bocadinho puxado” e esclarece que tem uma plataforma elevatória para ajudar, embora admita que o edifício não é o ideal para estas situações, “mas já era assim quando para aqui viemos”.

A lei não obriga as escolas de condução com ensino adaptado a ter automóvel próprio. Mas obriga, desde Agosto de 2006, a que os edifícios abertos ao público cumpram o regime das acessibilidades, dando acesso a deficientes ou pessoas com necessidades especiais.

O Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) “desconhece a existência de eventual discriminação de candidatos com mobilidade reduzida”, mas o i foi encontrar muitas histórias de gente que se sente marginalizada, quanto mais não seja por muitas das instalações não possuírem os requisitos que vêm na lei.

A portaria n.o 185/2015, publicada no Diário da República a 23 de Junho último, tem em conta as especificidades dos edifícios, desde o acesso à escola de condução às instalações sanitárias, passando pelas áreas de circulação no interior. A questão é que, muitas vezes, estas condições não se verificam e não existe quem fiscalize.
Depois há coisas que teimam em não mudar. Transportar alunos ao colo é uma prática comum e já tem diversos anos. Mónica Rodrigues que o diga: era o pai que a “carregava” pelas escadas para a sala de aulas. Um pormenor no meio da odisseia que foi tirar a carta, já em 2003.

Mónica esqueceu-se das chaves de casa e, como não tinha dinheiro para pagar aos bombeiros para lhe abrirem a porta, decidiu passar da casa dos vizinhos para a sua, pela janela. Coisas de miúdos. Tinha 18 anos, morava num segundo andar e estatelou-se cá em baixo. Ficou paraplégica.

Se ter carta de condução é o sonho de qualquer rapaz ou rapariga quando atinge a maioridade, para alguém numa cadeira de rodas é uma espécie de grito do Ipiranga, a proclamação da independência. Mas em caso de deficiência há uma palavra a ter em mente: resiliência.

Mónica vive em Almada, no Laranjeiro, mas teve de vir tirar a carta a Lisboa e “demorou a encontrar uma escola de condução com ensino adaptado”. Este foi só o primeiro entrave, depois vieram outros. Na encomenda do carro, na contratação do seguro, na papelada para as isenções fiscais.

O carro foi escolhido e encomendado à Fiat. Demorou tanto tempo a chegar que, entretanto, mudou o imposto automóvel – deixou de incidir sobre a cilindrada e passou a incidir sobre as emissões de CO2 – e o modelo indicado já tinha sido descontinuado entretanto.

Para ter direito a isenção fiscal, Mónica teve ainda de apresentar um atestado médico, além de se sujeitar a uma nova junta médica, que lhe atestou um “grau da desvalorização da deficiência de 80%”. Esta papelada tem de ser entregue na alfândega para o automóvel ficar livre de imposto: “importado ao abrigo do art.o 54.o do CISV Reg. Deficientes”, fica para sempre registado nos documentos. Novo carro, novo procedimento.

Apesar de isenta do imposto único de circulação (IUC), Mónica, como outros deficientes com carro, tem de se deslocar todos os anos a uma secção de Finanças para levantar o respectivo comprovativo. Tendo em conta tratar-se de pessoas com mobilidade reduzida, esta não é a solução mais fácil.

Diogo Barroso, que tem a doença de Charcot-Marie-Tooth, uma espécie de esclerose lateral amiotrófica “não tão severa e não fatal”, já teve alguns aborrecimentos com este processo do IUC. Tem 22 anos, estuda na Faculdade de Engenharia do Porto e tirou a carta há quatro. “Curiosamente, tenho de afirmar e provar que estou isento. Não percebo porque não consta de uma base de dados e já me aconteceu apresentarem-me o imposto para pagar”, conta.

Mas, apesar de tudo, pode considerar--se um sortudo, pois encontrou uma escola ao pé de casa, a Grande Prémio, em Rio Tinto, Gondomar, onde pôde tirar a carta e que tinha não só carro adaptado, como uma oficina própria que vai adaptando o automóvel às necessidades do aluno. Tudo por 750 euros, menos do que os 970 cobrados pela Sentido Obrigatório ou que os 900 cobrados pela MGA, um grupo que tem diversas escolas na região Centro do país (como Coimbra, Oliveira do Hospital ou Figueira da Foz).

Osvaldo Gomes é tetraplégico e não teve a mesma sorte. É de Almada e acabou por ter de ir tirar a carta ao Porto. Tem 34 anos e há 12 sofreu um acidente de carro, à saída do quartel onde cumpria serviço militar obrigatório. Para o amigo que lhe deu boleia, o despiste foi fatal.

No Porto pagou cerca de 750 euros, mas como teve de ficar hospedado numa pensão, incluindo alimentação, a carta de condução custou-lhe perto de três mil euros. Mesmo assim, o edifício onde teria de realizar o exame de código tinha escadas e difíceis acessos, sobretudo para um tetraplégico com quase dois metros de altura, pelo que “a alternativa foi marcar o exame nas instalações do próprio IMT no Porto”, lembra.

O processo terminou em Fevereiro e Osvaldo espera não demorar muito até ter carro. O automóvel que escolheu custa 20 mil euros, mas as adaptações de que necessita custam 36 mil. A alternativa seria uma carrinha, para entrar de lado, mas as desvantagens são inúmeras. “Estou a aguardar para saber se a adaptação do automóvel é comparticipada, ou através do Centro de Emprego (para trabalhadores) ou do Instituto de Reabilitação e Integração Social (como estudante)”.

De qualquer maneira, precisará de ser avaliado por uma junta médica para obter um atestado de incapacidade específico, necessário quer para o financiamento, quer para a compra do veículo.

Enquanto isso, todos os dias se desloca de Almada para o ISCTE, no campus da Cidade Universitária de Lisboa, utilizando os transportes públicos: do Laranjeiro apanha o metro para Corroios, de Corroios o comboio para Entrecampos, e daí a sua cadeira de rodas até à faculdade, onde estuda Psicologia.

As peripécias são mais do que muitas. A cadeira onde se desloca foi-lhe atribuída pelo Exército, que lhe paga uma pensão. Mas volta e meia tem de ir ao mecânico, ora por um pneu furado, ora por uma roda empenada. “As acessibilidades são difíceis e os transportes não estão preparados para cadeiras de rodas. Já cheguei a ficar entalado nas portas do metro e as pessoas, aflitas e para tentar ajudar, tiveram de me puxar pela parte de baixo da cadeira, onde as rodas mais pequenas ficaram presas, deixando-a toda empenada.”

Uma cadeira de rodas não é uma coisa barata e, como um automóvel, precisa de manutenção. Também como um automóvel, o preço depende da gama: há os Suzuki e os Ferrari. A cadeira de Mónica Rodrigues custou 2500 euros e a almofada anti-escaras 300 (mais do que a adaptação do carro, que custou 200 euros).

Os seguros também não são um pormenor. O de Mónica, contra terceiros, custa 470 euros. Mas não conseguiu que lho fizessem logo à primeira. “Não foi fácil encontrar uma companhia que quisesse assumir o risco e a Zurich até se recusou.” E esta não é a única chatice: “Em caso de acidente, é raro as seguradoras terem um carro de substituição adaptado e são poucas as que pagam as deslocações de táxi.” Por isso, é preciso ter atenção aos contratos.

Esta é uma questão com que Joana Coutinho ainda não se deparou. E, até ver, está nas suas sete quintas. Quando nasceu foi-lhe diagnosticada paralisia cerebral hemiparésia direita, o que significa que teve uma lesão permanente no lado esquerdo do cérebro que lhe afectou o lado direito do corpo. À mãe, os médicos disseram que o mais provável era nunca conseguir fazer uma vida independente. Enganaram-se.

“Consegui colmatar as principais dificuldades com a ajuda de fisioterapeutas fantásticos, dos nove meses aos cinco anos, na Fundação Calouste Gulbenkian”, diz. O lado negativo de ter evoluído tão bem é que as sessões de fisioterapia tiveram de parar para a fundação se dedicar a casos mais graves. Desde então, a única actividade física com que teve contacto foram as aulas de Educação Física na escola pública, “manifestamente insuficientes para as minhas necessidades”.

Agora tem 27 anos e está em vias de fazer o exame de condução. “Passei no código à primeira e estou a ter aulas num carro adaptado da escola, a Radical, em Lisboa. Em Almada, onde moro, havia apenas uma escola com carro adaptado, que anda de norte a sul do país.”

Joana, que não anda numa cadeira de rodas e pode subir escadas, já tinha tentado tirar a carta de condução e chegou a frequentar algumas aulas de código, mas acabou por desistir. “Este ano estou mesmo quase a ter independência a nível de transportes públicos, o que, quando se mora na Margem Sul, dá muito jeito”, confessa.

A carta deverá chegar no Natal e o resto virá depois. O resto é o carro adaptado próprio – “já pensei nas adaptações: mudanças automáticas e inversão do pedal” – , os dísticos de deficiente e o lugar de estacionamento, entre tantas outras coisas.

Os entrevistados do i não percebem por que motivo têm de renovar os dísticos de cinco em cinco anos, por exemplo, se estes dizem respeito à pessoa e não à viatura. E o automóvel, está visto, já dá muito que pensar e que fazer. Até para estar parado (já lá vamos).

Joaquim Roque, 56 anos, vive no Bombarral e é paraplégico, resultado de uma poliomielite (paralisia infantil). Tirou a carta de condução em 1992, “já lá vão uns aninhos”, mas há coisas que se mantém inalteradas de lá para cá.
Apesar de ser técnico superior da Câmara Municipal do Bombarral, continua a ter problemas de estacionamento. Não que não lhe tenha sido atribuído um espaço para parquear o carro, mas porque este está muitas vezes ocupado por terceiros.

Se encontrar uma escola com carro adaptado era ainda mais difícil há 23 anos, ter o lugar de estacionamento reservado para deficientes ocupado continua a ser tão fácil hoje como antes.

“Quando quis tirar a carta, tive de comprar carro e mandar adaptá-lo para ter aulas de condução. Teve de haver compreensão da escola, a Cordeiro, no Bombarral. Fui o primeiro deficiente que tirou ali a carta e isso causou alguma confusão, mesmo aos instrutores. O carro não tinha comandos para o instrutor, não foi pacífico. A maior parte das aulas foram com o dono da escola e o processo foi correndo”, recorda. “Mais complicado foi o examinador, que ficou renitente – para ser simpático e não usar um termo mais áspero. Aproximou-se do carro e, quando viu que era um deficiente, franziu a testa e saiu, dizendo que tinha de saber pormenores.”

O seguro também não foi fácil. “Tive problemas a fazer os seguros dos carros. A questão é que, quando se quer seguro de danos próprios, querem fazer pelo valor comercial do automóvel e não pelo valor que custou”, explica.
Estas são as questões ultrapassadas, mas depois há as tais que parece que vieram para ficar. Mesmo sendo funcionário municipal e apesar de ter lugar reservado para deficientes, com uma placa que sinaliza bem o local, “até vereadores chegam a estacionar no meu lugar”.

Joaquim chegou a inventar autocolantes “para colar no carro de quem estacionava no meu lugar, a dizer coisas como: ‘O senhor está em lugar reservado, a infringir a lei e retirar-me um direito. Agradecia educação.’ Mas continua a acontecer e já cheguei a ter de chamar a GNR, que respondeu que tem mais que fazer.” É também para isto que a Joana, como o Martim e tantos outros, vão ter de se preparar.

Fátima Buchadas resume tudo: “Infelizmente, é o país que temos: poucas ajudas e muitos obstáculos, o que é triste, porque também somos seres humanos e temos direito à vida.” A expressão é de desalento, mas Fátima, que esteve quase para desistir de tirar a carta de condução, acabou por encontrar coragem para continuar.

“Só havia duas escolas, uma no rés-do-chão, outra num primeiro andar. Depois não tinham carro adaptado, só em Lisboa, e foi quando pensei desistir.” É de Samora Correia, onde acabou por fazer o código. Depois “tirei a condução em Alverca, mas quando andava nas aulas arranjei emprego e aí as coisas complicaram-se, porque era mais cansativo. Ia às aulas de condução das 8h às 9h30 e depois ia trabalhar. Mas consegui, e ao fim de um mês fui a exame e passei”.

Fátima, como tantos, teve a ajuda dos pais. Mas um dos motivos por que estas pessoas precisam de carta é para se tornarem auto-suficientes, o que às vezes é difícil.

Ao contrário da cadeira de rodas, o automóvel precisa de combustível para andar. E isto pode ser mais uma dor de cabeça. De tal forma que, outro dia, Mónica acabou por falar “com o alemão responsável pelo Jumbo de Almada”, para explicar a dificuldade que tinha em abastecer o seu carro e a chatice e vergonha que é estar sempre dependente da ajuda de terceiros. “Respondeu-me que são poucos os casos e não justificam mais uma pessoa e mais um ordenado.”

De acordo com o último censo (2011), cerca de 17,4% das pessoas com idades entre os 15 e os 64 anos têm, pelo menos, uma dificuldade na realização de actividades básicas, ou seja, 1 234 000 cidadãos. Se é verdade que neste número não estão apenas deficientes e pessoas com mobilidade reduzida, muito menos aqueles que, nestas condições, possuem carta de condução, também é um facto que foi para garantir os direitos destes cidadãos que se fez determinada legislação.

A lei obriga o exterior dos edifícios públicos a cumprir algumas regras. Por exemplo, os lugares reservados para estacionamento devem ser suficientemente largos para permitir movimentar uma cadeira de rodas e o ideal é que a distância entre o estacionamento sinalizado e a entrada do edifício seja entre 10 e 15 metros. Os passeios não podem constituir um obstáculo e há que rebaixá-los com rampas, sempre que necessário. Nos acessos pedonais, o pavimento irregular, com buracos ou pedras e gravilhas soltas, é um entrave a evitar.

No entanto, muito pouco do que diz a lei é cumprido, como provam os testemunhos. Quando é assim, “como se pode esperar que o que não está na lei e é apenas do senso comum seja feito?”, perguntam. E Mónica lembra, a propósito da fisioterapia e da carta, que “nunca ninguém me ensinou a entrar e sair de uma cadeira de rodas para o carro, nem em Alcoitão nem na escola de condução”. Onde a carta pode custar 970 euros, quer a escola fique num rés-do-chão ou num primeiro andar e quer tenha ou não carro adaptado.

sábado, 7 de novembro de 2015

Documentário: O que é isso de Vida Independente?

Há sete meses Eduardo planeava uma nova greve de fome para reclamar uma lei de vida independente em Portugal. Mas a sua vida mudou radicalmente. Aceitou ir para um lar. Desistiu?
Acompanhámos durante sete meses a vida de Eduardo.

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Mais informações: Ergométrica

Comissão que retirou pensões de invalidez é “clandestina”

O ministro Mota Soares justificou as recentes alterações ao regime especial de invalidez afirmando que estas se basearam nas conclusões de uma Comissão Especializada. Formada para avaliar a lista de doenças abrangidas pelo regime especial, a comissão de “especialistas” optou pura e simplesmente por acabar com essa lista e propor um outro paradigma para o acesso à proteção especial. O resultado é que, a partir de janeiro, apenas os pacientes de doenças que “se preveja evoluir para uma situação de dependência ou morte num período de três anos” terão acesso à pensão de invalidez pelo regime especial. É isto que consta na lei modificada pelo governo PSD/CDS no apagar das luzes do seu mandato.

O país deveria conhecer os autores desta decisão, até porque tanto o governo quanto a Segurança Social insistem que a alteração à lei foi consequência das conclusões desses dez especialistas. Acontece que até agora não se conhece um único nome de alguém que tenha participado na dita comissão.

Comissão clandestina, relatório fantasma

Em duas oportunidades, em 28 de março de 2014 e em 16 de outubro do mesmo ano, os deputados João Semedo e Helena Pinto, do Bloco de Esquerda, dirigiram perguntas ao Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social pedindo a lista dos dez nomes que formavam a referida comissão. Sem sucesso. Apesar de regimentalmente o governo ter 30 dias para responder às perguntas dos deputados, o ministério de Mota Soares ignorou olimpicamente as questões. Como também ignorou o requerimento em que a deputada Helena Pinto pediu uma cópia do relatório da comissão. O Esquerda.net fez esforços para encontrar publicado nalgum lugar esse relatório, sem o conseguir. Ele apenas é citado na exposição de motivos do Decreto-Lei nº 246/2015, de 20 de outubro, o diploma que alterou a lei. A existirem, a lista dos especialistas da comissão e o relatório serão de muito difícil acesso. Assim, tudo indica que uma alteração que terá resultados drásticos sobre os pacientes de doenças crónicas e incuráveis resultou de uma comissão clandestina e de um relatório fantasma.

Segundo o despacho que determinou, em 14 de novembro de 2013, a “constituição da Comissão Especializada para a Determinação das Doenças Abrangidas pelo Regime Especial de Proteção na Invalidez”, os dez membros da comissão deveriam ser “um representante indicado pela Direção-Geral da Segurança Social, quatro representantes indicados pelo Instituto da Segurança Social, I.P., dois representantes indicados pela Caixa Geral de Aposentações, I.P., um representante indicado pela Direção-Geral da Saúde, um representante indicado pela Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, um representante indicado pelo Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P..”

Ou seja, todos indicados pelo governo ou por instituições dependentes deste.

Falta ética e deontológica

A necessidade de serem conhecidos os nomes da comissão não é só uma questão de transparência e de responsabilidade. Caso entre os seus membros haja médicos, como é de se esperar de uma comissão de especialistas, estes podem ter cometido uma falta grave de ética e ferido o Código Deontológico da Ordem dos Médicos.

Segundo a lei, a atribuição da pensão só poderá ser dada se se prever que a doença do paciente evolua para uma situação de dependência ou morte num período de três anos. Ora “os prognósticos médicos são baseados em probabilidades”, disse aoEsquerda.net João Semedo, ele próprio médico que se aposentou na sequência de um cancro. Para este clínico, “prognósticos não são aceitáveis como decisões e certezas que possam ainda por cima determinar consequências para a vida das pessoas”.

Além disso, o Código Deontológico da Ordem dos Médicos é claro quando afirma que “O diagnóstico e prognóstico só podem ser dados a conhecer a terceiros, nomeadamente familiares, com o consentimento expresso do doente, a menos que este seja menor ou cognitivamente incompetente.” Repare-se que se está a falar de familiares, e não de uma decisão pública, o que seria ainda pior. Mais: no seu artigo 50º, o Código insiste que o diagnóstico e o prognóstico devem ser sempre revelados ao paciente, que tem o direito de os conhecer, mas que essa revelação exige prudência e delicadeza, e deve ser feita ao ritmo requerido pelo doente. E, se este não quiser saber, a revelação não deverá ser feita.

Portanto, um clínico que torne público o seu prognóstico de tempo de sobrevida de um paciente, para deferir ou indeferir um pedido de pensão, poderá estar a cometer uma violação do Código Deontológico. O mesmo se pode dizer de um médico que tenha proposto esse critério para figurar numa lei.

Lista de doenças

Recorde-se que até agora tinham acesso ao regime especial de proteção à invalidez os pacientes das seguintes doenças crónicas e incuráveis: paramiloidose familiar, doença de Machado-Joseph (DMJ), sida (vírus da imunodeficiência humana, HIV), esclerose múltipla, doença de foro oncológico, esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença de Parkinson (DP) ou doença de Alzheimer (DA). Como se sabe, são doenças incuráveis e extremamente incapacitantes e que, em muitas casos, lançam na invalidez pessoas que estariam, sem a doença, no apogeu das suas capacidades.

Os pacientes de outras doenças não deixavam de ter acesso à proteção por invalidez, no regime geral. A especificidade das doenças da lista do regime especial era a de serem crónicas e incuráveis, e muitas vezes tornarem incapazes para o trabalho pessoas relativamente jovens.

A lei previa a criação de uma Comissão Especializada que fizesse uma avaliação de três em três anos da lista das doenças, podendo eventualmente acrescentar outras. A Comissão deveria ter sido formada logo em 2010, mas o despacho que a constituiu foi apenas de novembro de 2013 e, em vez de reavaliar a lista de doenças, a comissão simplesmente acabou com ela.

Protestos

As associações que representam os pacientes prejudicados já começaram a manifestar-se.

Na opinião de Joaquim Brites, presidente da Associação Portuguesa de Doentes Neuromusculares, “só mesmo doentes completamente dependentes ou a morrer é que serão contemplados.”

Para Paulo Silva Pereira, ex-presidente da Associação de Doentes Crónicos, "muitos doentes vão perder o apoio social porque o novo decreto-lei só protege os doentes que já estão em estado vegetativo", disse à agência Lusa. Para ele, "o novo decreto-lei é pior que mau porque deixa sem proteção pessoas com doenças oncológicas, por exemplo, pois desde que se consigam mexer não são consideradas incapacitadas para o trabalho", acusou.

A Associação Todos com a Esclerose Múltipla não concorda com as alterações e lembra que tem vindo a lutar, há vários anos, por um Estatuto do Doente Crónico e uma Tabela Nacional de Incapacidade e Funcionalidades da Saúde.

O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, disse concordar com “todas as críticas das associações”, considerando que se está a assistir “à constante retirada de direitos sociais”.

Fonte: Esquerda.net

Curso pioneiro explica no Porto como evacuar pessoas com necessidades especiais

A Acesso Cultura promove a 16 de novembro, no Porto, um curso "pioneiro em Portugal" sobre planos de emergência e evacuação de pessoas com necessidades especiais destinado a agentes ligados a espaços culturais, indicou hoje a organização.


Como explicar a um visitante surdo que não ouve a sirene de incêndio que tem de sair ou como deslocar uma cadeira de rodas escada abaixo em caso de emergência são situações, entre outras, que o curso da Acesso Cultura - uma associação cultural que promove a melhoria das condições de acesso, físico, social e intelectual aos espaços culturais e à oferta cultural - pretende responder.

"Existe um enorme desconhecimento nesta área e existe uma enorme lacuna de legislação. Em Portugal não há enquadramento legal. Ninguém é obrigado a ter formação, ninguém sente a obrigação de se informar sobre estas matérias", indicou à agência Lusa o formador Paulo Ramos, apontando como "países exemplares" com práticas que Portugal "deve seguir" em matéria de legislação aprovada e em prática a França e a Inglaterra.

A este projetista de Segurança Contra Incêndios em Edifícios caberá responder a perguntas de profissionais que trabalham em teatros, bibliotecas, auditório, entre outros espaços culturais, bem como responsáveis pela segurança de espaços públicos, e aprofundar técnicas de evacuação de pessoas que não têm autonomia.

"Vamos ter cadeiras de rodas em escadas e vamos fazer simulações de situações de emergência", avançou Paulo Ramos, acrescentando que existem diferentes formas de levar a bom porto a "missão" de evacuação, dependendo se estão disponíveis a ajudar uma, duas, três ou mais pessoas.

Caso o cenário seja "extremo", ou seja estar sozinho e perante uma pessoa que não tem qualquer tipo de mobilidade, o formador aconselhará a recorrer à utilização de uma toalha ou lençol de forma a poder deitar a pessoa com deficiência e arrastá-la. E se o cenário incluir duas/três/quatro pessoas existem formas de pegar na cadeira e levá-la "em peso" escada abaixo, mas para isso também são recomendáveis técnicas.

Paulo Ramos conhece "muito poucos sítios" onde existem equipamentos próprios para o transporte de pessoas com mobilidade reduzida em caso de emergência. Em Portugal, o formador, aliás, só viu até hoje cadeiras de rodas que andam em escadas nas instalações de uma entidade bancária.

O curso da Acesso Cultura - que vai decorrer no Teatro Caros Alberto com uma componente "muito prática" através de "demonstrações in loco", conforme vincou Inês Rodrigues, uma das responsáveis da associação - também abordará técnicas para "conduzir" rapidamente pessoas com deficiência intelectual, logo que podem ter dificuldade em percecionar o perigo.

Voltando à comunidade surda: existem sinais, em Língua Gestual Portuguesa, "mais ou menos universais" como "fogo" e "correr" que serão ensinados aos formandos. Paulo Ramos garante que "são gestos muito simples que facilitam muito a comunicação com não ouvintes", mas gostaria que mais espaços públicos adquirissem equipamento específico, um "alarme de incêndio" mas com luzes que picam, pois, aponta, "não são caros" e são "muito práticos".

"O curso serve muito para as pessoas que, ao regressarem aos seus locais de trabalho, identifiquem coisas que podem ser melhoradas. O curso serve de alerta portanto", sintetizaram os responsáveis pela iniciativa que seguirá do Porto para Lisboa, onde se realizará no dia 23 no Teatro Nacional D. Maria II.

Fonte: Porto Canal