Como explicar a um visitante surdo que não ouve a sirene de incêndio que tem de sair ou como deslocar uma cadeira de rodas escada abaixo em caso de emergência são situações, entre outras, que o curso da Acesso Cultura - uma associação cultural que promove a melhoria das condições de acesso, físico, social e intelectual aos espaços culturais e à oferta cultural - pretende responder.
"Existe um enorme desconhecimento nesta área e existe uma enorme lacuna de legislação. Em Portugal não há enquadramento legal. Ninguém é obrigado a ter formação, ninguém sente a obrigação de se informar sobre estas matérias", indicou à agência Lusa o formador Paulo Ramos, apontando como "países exemplares" com práticas que Portugal "deve seguir" em matéria de legislação aprovada e em prática a França e a Inglaterra.
A este projetista de Segurança Contra Incêndios em Edifícios caberá responder a perguntas de profissionais que trabalham em teatros, bibliotecas, auditório, entre outros espaços culturais, bem como responsáveis pela segurança de espaços públicos, e aprofundar técnicas de evacuação de pessoas que não têm autonomia.
"Vamos ter cadeiras de rodas em escadas e vamos fazer simulações de situações de emergência", avançou Paulo Ramos, acrescentando que existem diferentes formas de levar a bom porto a "missão" de evacuação, dependendo se estão disponíveis a ajudar uma, duas, três ou mais pessoas.
Caso o cenário seja "extremo", ou seja estar sozinho e perante uma pessoa que não tem qualquer tipo de mobilidade, o formador aconselhará a recorrer à utilização de uma toalha ou lençol de forma a poder deitar a pessoa com deficiência e arrastá-la. E se o cenário incluir duas/três/quatro pessoas existem formas de pegar na cadeira e levá-la "em peso" escada abaixo, mas para isso também são recomendáveis técnicas.
Paulo Ramos conhece "muito poucos sítios" onde existem equipamentos próprios para o transporte de pessoas com mobilidade reduzida em caso de emergência. Em Portugal, o formador, aliás, só viu até hoje cadeiras de rodas que andam em escadas nas instalações de uma entidade bancária.
O curso da Acesso Cultura - que vai decorrer no Teatro Caros Alberto com uma componente "muito prática" através de "demonstrações in loco", conforme vincou Inês Rodrigues, uma das responsáveis da associação - também abordará técnicas para "conduzir" rapidamente pessoas com deficiência intelectual, logo que podem ter dificuldade em percecionar o perigo.
Voltando à comunidade surda: existem sinais, em Língua Gestual Portuguesa, "mais ou menos universais" como "fogo" e "correr" que serão ensinados aos formandos. Paulo Ramos garante que "são gestos muito simples que facilitam muito a comunicação com não ouvintes", mas gostaria que mais espaços públicos adquirissem equipamento específico, um "alarme de incêndio" mas com luzes que picam, pois, aponta, "não são caros" e são "muito práticos".
"O curso serve muito para as pessoas que, ao regressarem aos seus locais de trabalho, identifiquem coisas que podem ser melhoradas. O curso serve de alerta portanto", sintetizaram os responsáveis pela iniciativa que seguirá do Porto para Lisboa, onde se realizará no dia 23 no Teatro Nacional D. Maria II.
Fonte: Porto Canal
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