É raro que uma mulher tetraplégica tenha um filho. E é extraordinariamente raro – e potencialmente arriscado para a vida – que uma tetraplégica dê luz a gêmeos. Mas dia 25 de janeiro, em um hospital de Hamilton, na província canadense de Ontário, Burton e sua equipe médica trouxeram ao mundo duas meninas. Fato tão raro que pesquisas mostram que não mais de 4 ou 5 mulheres no Canadá, Estados Unidos e Reino Unidos juntos são tetraplégicas e mães de gêmeos.
Os médicos de Sandra, no McMaster University Medical Centre, dizem que não sabem de um outro caso similar e encontraram pouco na literatura médica para os guiar em seu cuidado. Dizem também que Burton é uma inspiração, alguém cuja a vida prova que os desafios aparentemente intransponíveis podem ser superados. O risco de sua gravidez nunca impediu Sandra, que também não se vê, exatamente, como uma inspiração
A vida de Burton mudou em uma manhã de agosto em 1991.
Sandra e seus amigos estavam em uma festa, e no que seria uma brincadeira, seu namorado a empurrou na parte rasa da piscina, e ao bater a cabeça no fundo de cimento, fraturou as vértebras C4 e C5 e quebrou a sua medula espinhal. Ela tinha 17 anos. Duas décadas mais tarde, Burton não quer falar sobre o acidente ou os 12 meses onde passou no hospital aprendendo a viver com sua lesão. “Eu lembro de cada minuto desse ano” diz, com os olhos cheios de lágrimas. “Foi difícil, emocionalmente, fisicamente.” No início, Burton estava receosa de perder sua independência para sempre. Mas após os primeiros meses, uma determinação feroz para recuperar sua vida superou esse medo. Graduou-se no Ensino Médio, passou cinco anos na universidade de Guelph, morando no alojamento estudantil e estudando Ciências Aplicadas na Criança, e, depois, completou seu mestrado.
Há sete anos, Burton conheceu Frank Whelan. Desde o início achava que era ‘o homem perfeito’ - com quem teria uma família. ‘É um grande homem’, diz ‘tem um grande senso de humor e muito sensível’, que logo também se apaixonou pela mulher com cabelos castanhos e olhos azuis. E se casaram dois anos atrás.
O maior risco para Burton na sua gravidez era uma complicação fisiológica denominada disreflexia autonômica. É uma condição perigosa e relativamente comum em indivíduos com lesões medulares altas, que os impede de sentir dor. Quando o corpo precisa comunicar que alguma situação dolorosa está acontecendo, a disreflexia autonômica vai enviar sinais como aumento da pressão arterial, sudorese, espasmos e ansiedade, mas nenhum dos sintomas do trabalho de parto seria sentido. Sandra não sentiria as contrações, outro grande risco, especialmente por gêmeos normalmente nascerem algumas semanas antes do usual.
Por diversas razões, os médicos tiveram que fazer uma grande incisão vertical na barriga de Burton, perto das costelas.. Geralmente, os cortes cirúrgicos na cesariana são horizontais e perto do osso púbico. O corte vertical causou duas vezes a quantidade normal de sangramento. Mas, depois de algum tempo, as gêmeas nasceram saudáveis, com mais de dois quilos cada uma. À noite, Megan e Emma já estavam em seus berços, ao lado da maca da mãe no hospital.
Patti Taniguchi ficou feliz ao saber do parto bem-sucedido parto de Burton. A mulher americana de 48 anos nunca a conheceu, mas sabe o que é criar filhos gêmeos sendo tetraplégica.
Taniguchi tinha 18 quando se acidentou fazendo skimboarding - um esporte similar ao surfe, e assim que sua cabeça bateu em um banco de areia, sabia que tinha quebrado o pescoço. Como Burton, Taniguchi recuperou muito de sua vida. Foi à escola, teve uma carreira bem sucedida, casou-se e teve filhos. Taniguchi pode mover os braços, mas movimentos bastante limitados nas mãos.
Patti tinha 34 anos quando teve sua primeira filha, Tara. E cinco anos depois, deu à luz aos gêmeos Nicole e Steven. Por ter uma lesão mais baixa e maior sensibilidade, ela pode ter parto normal.
Oito dias após a cesariana, Sandra e seus bebês ainda estão no hospital. Megan e Emma estão bem, mas a mãe se recupera lentamente da cirurgia.
Quando sente bem o bastante, Burton segura uma filha em cada braço, suportada por travesseiros. Também bombeia regularmente o leite materno. O casal não pode esperar para ir pra casa, sabem que há uns desafios adiante, e que poucas tarefas cotidianas serão fáceis. Mas sabem também que terão bastante ajuda – os assistentes pessoais de Burton, os amigos, família e vizinhos.
Burton pensa por um tempo, antes de descrever o que deseja para suas crianças. “Espero que sejam felizes”, começa. “que aprendem com minha experiência e se tornem pessoas mais abertas. Espero que sejam fortes e determinados. Porque nunca se sabe que desafios cruzarão seu caminho.”
Fonte: Mara Gabrilli
Uma belíssima notícia e uma belíssima família!!!
ResponderEliminarBeijinhos, Eduardo, espero que esteja a correr tudo bem no seu trabalho!
Madalena
Lindo! Lindo! Para Deus não há impossíveis!
ResponderEliminarParabéns Sandra!
AÍ DE QUEM DUVIDAR QUE TUDO É POSSÍVEL AO QUE CRÊ. DEUS É MISERICÓRDIA INFINITA ELE TUDO PODE.
ResponderEliminarEmbora sem ser a propósito, já agora, isto:
ResponderEliminarhttp://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/portugueses-criam-prototipo-low-cost-de-cadeira-de-rodas-1536961
Abraço, Eduardo.
Já está publicado no blogue.
ResponderEliminarObrigado Joaquim. Espero que esteja tudo bem consigo.
Fique bem