Sediada no bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, a OED é um serviço gratuito destinado a pessoas com deficiência, inscritas nos centros de emprego da cidade, apoiando a sua integração no mercado de trabalho.
Paulo Gomes, 33 anos, é uma das 2157 pessoas que a OED já apoiou e que, segundo o jovem surdo, foi uma ajuda fundamental para conseguir o emprego que tem hoje, operador de arquivo na TB Files.
"Fui a algumas empresas, enviei currículos, mas assim que as pessoas viam que era surdo punham logo o currículo de parte", conta o jovem à agência Lusa.
Quando já estava a ficar desalentado, um amigo falou-lhe da OED e decidiu inscrever-se neste serviço, resultante de um protocolo entre a Câmara de Lisboa, o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a Fundação LIGA.
Na procura de emprego, Paulo, que tem o 12.º ano, contou com o apoio da técnica da OED Isabel Livério, que fez a ponte entre o candidato e a empresa. "A empresa achou bastante interessante este desafio e fez-nos uma oferta de emprego", conta Isabel Livério.
Ao fim de um ano de estágio, o jovem foi contratado por mais um ano, o que o deixou "muito satisfeito". "Até agora, as coisas têm corrido bem, faço tudo e não tenho qualquer tipo de limitação", conta.
Para o responsável da área logística da TB Files, Paulo Carvalho, a contratação de Paulo foi "uma mais-valia para a empresa", onde está "completamente integrado". "Tem uma atenção e uma responsabilidade de trabalho bastante elevada" e "não tem qualquer limitação, desde conduzir o empilhador, até carregar caixas, identificar processos e rectificar erros, ao nível de uma pessoa sem limitações", salienta Paulo Carvalho.
“Capazes de desempenhar uma função"
Licenciada em Publicidade e Marketing, Catarina Gouveia, 27 anos, também sentiu dificuldades na procura de emprego, como contou à Lusa: "Tinha acabado o meu curso há pouco tempo e comecei à procura de emprego, mas não estava a ser nada fácil."
Foi a várias entrevistas, mas a má formação genética nos braços constituía um entrave à sua contratação: "Já não ia em pé de igualdade e acabou por ser um percurso muito estafante", conta a jovem, que teve conhecimento da OED por um familiar.
A OED fez a prospecção de emprego, apresentou algumas propostas e Catarina foi às entrevistas, que já eram "um bocadinho diferentes", porque o empregador já sabia que era uma candidata com algumas limitações.
Foi com este apoio que Catarina chegou à empresa BlastingFM, onde está há um ano. "Tem sido muito positivo", disse, confessando que ali começou a "ter autonomia e a ganhar confiança".
Sobre a integração na empresa, diz que foi "muito boa": "As barreiras foram colmatadas, não olharam para a minha limitação, mas para as minhas potencialidades".
Para a engenheira e administradora da BlastingFM, Filipa Menezes, o trabalho da Catarina tem sido exemplar. "O facto de a Catarina ter terminado o estágio e ter continuado connosco só afirma que ela está na empresa por mérito próprio", afirma Filipa Menezes.
"Ao longo deste ano, o que eu concluo é que as pessoas com deficiência, não têm deficiências" e "são capazes de desempenhar uma função" como qualquer outro, sustenta.
Da experiência que tem na OED, Isabel Livério diz que, apesar de ainda haver "alguma resistência" por parte das empresas em contratar pessoas com deficiência, "as coisas têm melhorado muito".
"Quando a OED lhes bate à porta e vêem que há esta possibilidade de serem apoiadas", durante todo o processo e após a contratação, as empresas "avançam de uma forma mais fácil", afirma.
A coordenadora da OED, Sara Pestana, acrescenta que um dos "grandes objectivos" do serviço é sensibilizar "as empresas para o valor do trabalho dessas pessoas".
"O que interessa é perceber o que a pessoa consegue fazer, o seu perfil, os seus interesses e depois encontrar uma função adequada" às suas competências, explica Sara Pestana. A contratação destas pessoas ainda é muitas vezes encarada "como uma responsabilidade social", mas o que queremos "é que a pessoa com deficiência seja um trabalhador como qualquer outro", frisa.
Em 26 anos, a OED realizou 89.699 contactos com empregadores, 10.129 acções de acompanhamento da integração e 2502 entrevistas de emprego.
Dados do IEFP avançados à agência Lusa indicam que, no primeiro semestre do ano, 1075 pessoas com deficiência estavam incluídas em programas de emprego, 1968 em formação profissional e 8473 em reabilitação profissional.
Jornal: Público
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