sábado, 12 de maio de 2018

Tudo Sobre a Marcha Pela Vida Independente

Já está! Aconteceu a Marcha Pela Igualdade. Mais uma saída à rua na tentativa de conseguir umas “migalhas”. Conseguimos? De certo que não, mas o importante foi fazer acontecer. Eu pelo menos sinto-me com o dever comprido. Se ficarmos de braços cruzados é que não conseguiremos de certeza os nossos desejos. Éramos alguns. Maioria com deficiência.


Alguns vindos de muito longe e pela 1ª vez nestas andanças. Outros como sempre impedidos de comparecer por variadíssimos motivos. Um deles o facto da CP só permitir o transporte de 2 passageiros em cadeira de rodas em cada comboio, e somente no Alfa Pendular, e após aviso com 24 horas de antecedência.



Os que não puderam estar presentes foram representados pelos seus sapatos. Um gesto simbólico que emocionou muita gente, e foi motivo de curiosidade de muitos estrangeiros que enchem as ruas de Lisboa. Havia cartazes escritos em inglês. Assim ficaram a saber um pouco mais do nosso país: a discriminação que somos sujeitos. 

Foto Sérgio Lopes
Mais uma vez o que nos levou á rua foi a Vida Independente. Desde o início da tomada de posse deste governo, que a Srª Secretária de Estado Para a Inclusão das Pessoas com Deficiência, afirma que a Vida Independente é uma prioridade. Chegou a garantir á imprensa que estaria em funcionamento até ao final de 2016, como podem verificar aqui. Mas pouco falta para terminar o seu mandato e sobre Vida Independente pouco ou nada foi realizado. 


O que levou o CVI - Centro de Vida Independente a organizar este protesto, foi principalmente a falta de verbas para implementar o projeto piloto anunciado e garantido pelo atual governo. Anunciou que serão somente disponibilizados 1.400.000,00 para cada Centro de Apoio à Vida Independente. Desculpa-se acrescentando que este projeto piloto não passa disso mesmo, de um projeto a testar. Concordo, mas se não funcionar em pleno e sem restrições, como recolher dados concretos e representativos de modo a avançar-se com a criação da lei, e respetivo projeto definitivo de assistência pessoal? Se neste momento se está a criar todos estes problemas, imagino ao tentar-se criar uma Vida Independente que vá de encontro às nossas necessidades.

Conheça aqui o manifesto emitido pelo CVI. Vida Independente: Tem de Ser Agora

Está claro que para o governo, e principalmente para a Srª Secretária de Estado Ana Sofia Antunes, a Vida Independente nunca foi uma prioridade ou assunto de interesse. Aliás o projeto piloto apresentado de Vida Independente nada tem. Se a implementação deste apoio tem como principal função a desinstitucionalização, porque razão eu e muitos outros que nos encontramos em lares contra a nossa vontade, estamos impedidos de participar? 

Governo invoca que já se encontra a comparticipar financeiramente as IPSS com a nossa presença no seu lar. E daí? Porque não existir um prazo de transição? Quem nos garante que optando por sair de um lar e entrar no projeto piloto. seremos admitidos no projeto, e mesmo que isso aconteça como saber se após término do projeto piloto este avance em definitivo e se torne uma realidade? E caso não avance será que a nossa vaga no lar mantêm-se? Claro que não. Todos sabemos que os lares são poucos e na sua maioria maus.

E porque razão quem se encontra num lar e se sinta bem nele, ou só prefira candidatar-se a um assistente pessoal quando verificar que o projeto sobre Vida Independente não lhe garante uma vida digna, não pode beneficiar de assistente pessoal somente quando se encontre fora do lar? Eu por exemplo preciso de apoio quando vou de férias (vivo e trabalho no lar) e passar fins-de-semana a casa, visitar amigos e familiares, lazer, formação, etc.

Ou seja, se não continuarmos a lutar, seja ele de que maneira for, a Vida Independente continuará a ser um sonho longínquo. Não podemos permitir que nos continuem a adiar a possibilidade de comandar e sermos donos das nossas vidas. Depende de nós. Eu não desistirei.

DESTAQUES DA MARCHA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL



Vigília de três dias por mais financiamento para os Centros de Apoio à Vida Independente




Partidos ignoram convite para participar em iniciativa pela vida independente

- Fotogalerias Vida Independente

Descemos a avenida da Liberdade para lutar por Direitos Humanos, queremos assistência pessoal já

RESPOSTA DO GOVERNO

Governo diz que "sempre foi claro" que centros de apoio à vida independente são projetos-piloto

A 5 de maio de 2016 (há 2 anos), em entrevista à Lusa, a Srª Secretária de Estado prometia: "(...) O Governo vai abrir até final do ano as candidaturas para as pessoas portadoras de deficiência recorrerem a fundos comunitários, que lhes permitam ter uma vida independente." 

Referindo também : "(...) A ambição da governante é que seja possível concretizar projectos na área da vida independente em vários pontos do país. Ana Sofia Antunes considerou também desejável que haja um conjunto de projectos diversificados, permitindo que sejam testados diferentes modelos e que se consiga chegar a uma conclusão sobre quais são os que melhor funcionam (...)". Na entrevista acima, dá o dito por não dito. Afirma que nunca prometeu nada.

Se já andamos perdidos e desiludidos, mais ficamos, bem sei tudo vale na política, mas sendo a Srª Secretária de Estado uma pessoa com deficiência assim como nós, sempre houve da minha parte uma certa esperança, ou ingenuidade, que agisse de modo diferente da maioria dos políticos, mas pelo menos até agora não o fez.


1 comentário:

  1. Há algum tipo de cidadão mais mal tratado pelo estado do que o deficiente? Nem criminosos. Absolutamente lastimável.

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