Quando Ed Roberts começou a batalha pela Vida Independente, nos anos 60, provavelmente não imaginaria que fosse possível haver, ainda hoje, quem achasse preferível institucionalizar pessoas com deficiência em vez de lhes dar as condições para uma vida plena, como os demais cidadãos. Mas isso acontece, com regularidade e por motivos que não são aceitáveis, como por não termos um familiar que cuide de nós, por não termos dinheiro para pagar a alguém que cuide de nós, porque a nossa casa não é adaptada a nós, porque… por todo e qualquer motivo que não é aceitável. Nenhum motivo é aceitável a partir do momento em que não temos escolha, em que não nos é dada outra hipótese de sobrevivência.
A Vida Independente não é um luxo, é um direito humano, é o reconhecimento das nossas necessidades, é a evolução da sociedade.
As pessoas com deficiência são capazes de decidir por si próprias, de tentar, de errar ou acertar, de tomarem as suas decisões. São capazes e devem ter esse direito. E não nos vamos contentar com menos do que isso!
Noutros países, como nos EUA, Reino Unido, Suécia e Espanha, já existem sistemas de Vida Independente baseados nos pagamentos directos às pessoas com diversidade funcional para que as mesmas decidam como, onde e com quem viver. Ou seja, que permita às pessoas que não querem ser institucionalizadas, continuarem a viver nas suas casas, com a assistência pessoal que necessitam. Isso foi conseguido à custa da luta das próprias pessoas com diversidade funcional pelos seus direitos, que pressionaram os governos e exigiram deles a mudança de leis e de paradigma.
Em Portugal, a luta iniciou-se com Eduardo Jorge e o movimento (d)Eficientes Indignados, mas as promessas feitas pelo Governo, em 2012, não foram cumpridas. Este projeto-piloto não foi originado directamente pelas pessoas com diversidade funcional, como nos outros países, veio da iniciativa do Vereador João Afonso - a quem muito temos a agradecer por este “pontapé de saída”. Foi o único a cumprir a sua promessa! Deu-nos a oportunidade de, não só, provar que a Vida Independente é possível como também de provarmos que nós sabemos o que é melhor para nós e que temos capacidade de gerir um projecto-piloto desta importância.
Nós queremos provar que é possível termos uma vida independente, onde a nossa vida está nas nossas mãos. Queremos provar que não somos um desperdício de dinheiro público, que podemos retornar à sociedade aquilo que ela nos dá.
Somos todos interdependentes. A Vida Independente não significa viver isolados do mundo, mas sim termos o poder de decidir a nossa vida. De não ser alguém que não nos conhece a decidir o que fazemos, a que horas fazemos e como fazemos.
Termos um assistente pessoal é um enorme avanço na Vida Independente, é a possibilidade de optar, de forma livre, pelo que achamos melhor para a nossa vida. Os assistentes pessoais são pessoas que farão por nós aquilo que nós não podemos fazer, sem nos dar ordens nem decidir por nós.
Hoje, com muito orgulho em toda a equipa do Centro de Vida Independente, posso anunciar que já temos pessoas com os seus assistentes pessoais. Hoje marca-se o início de uma viagem que provará que a Vida Independente é possível. Está nas nossas mãos, não só nas mãos do CVI e dos participantes deste projeto-piloto, mas sim nas mãos de todas as pessoas com diversidade funcional, lutarmos pelos nossos direitos, provar que somos capazes e que a Vida Independente é possível.
Mas não nos podemos esquecer de todas as pessoas que não têm, ainda, uma Vida Independente, todos contam! Só avançando com a vida independente a nível nacional poderemos ter uma sociedade melhor e mais evoluída, mais participativa e mais diversificada. Sem medos! O medo é o maior inimigo da evolução.
Nós fazemos parte, nós queremos fazer parte e nós sabemos fazer parte da sociedade. Basta de decidirem por nós! “Nada sobre nós sem nós”! Está na hora de nos unirmos. Está na hora de tomarmos a frente desta luta, de exigirmos os nossos direitos. Chegados aqui, não há mais volta a dar. Os 2 anos do projecto-piloto não podem ser condicionante para se avançar com a Vida Independente em Portugal. Não fiquemos à espera, não fiquem à espera, avancemos!
Almada de Negreiros escreveu: “Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam escritas, só faltava uma coisa – salvar a humanidade.”
Fonte: vida independente Lx
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