"Os trabalhos manuais convivem comigo desde a barriga da minha mãe, quando engravidou estava a tirar um curso do IADE [Instituto de Arte, Design e Empresa]", conta. Não exerceu, mas passou a arte à filha que, em 2001, lançou A Oficina dos Presentes. "Nunca a deficiência foi motivo para não fazer nada, antes pelo contrário."
Catarina Poiares tem 46 anos, é a filha "sanduíche" de uma família de três filhos. Nasceu com pé boto unilateral, tem polirradiculoneuropatia, é portadora do síndrome de Sjögren, entre outros problemas de saúde, que lhe dão uma incapacidade de 81%. Toma vários medicamentos, que regista numa folha A4, não só as tomas como a substância ativa de cada remédio e o laboratório do genérico que consome.
Recorda a escola primária com saudade, o mesmo não diz dos anos seguintes. "Fui vítima de bullying." Fez o 9.º ano, os problemas de saúde não a permitiram continuar e só depois dos 23 anos tirou a equivalência ao 12.º ano. Estava desempregada há muito, inscreveu-se no Instituto do Emprego e de Formação Profissional ao qual apresentou a sua ideia: "Fazer uma loja de presentes online, onde as pessoas pudessem escolher desde os materiais ao formato, incluir dados pessoais, trabalhos feitos à mão e que são enviados por correio." Pediu formação, responderam-lhe que devia era montar a sua empresa e acabou por beneficiar do projeto de Apoio à Criação do Próprio Emprego. Seria financeiramente independente não fossem os períodos de baixa devido aos problemas de saúde. "Tenho dez doenças." Recebe uma reforma de invalidez e vive com a mãe.
Empresas, escolas e alunos
Catarina ouviu falar no ano passado do Connect to Success, programa para mulheres empreendedoras lançado por Kim Sawyer, ex-embaixatriz dos EUA em Portugal. Inscreveu-se no programa Corporate Mentoring, mas não foi aceite. Esta modalidade já envolveu 41 empresas mentoras e 98 empreendedoras, das quais seis nos Açores. Os executivos reúnem durante um ano com as empreendedoras para desenvolver e expandir o negócio.
A dona d"A Oficina dos Presentes voltou à carga e foi selecionada para o MBA Masters Consulting, em que alunos de MBA e de mestrado acompanham durante seis meses as empreendedoras. Envolve seis estabelecimentos de Gestão e Economia e nele participaram 62 mulheres e 207 alunos. "Espero a alavancagem do negócio. Expandir os meus clientes e melhorar a minha presença nas redes sociais." Estas são as expectativas de Catarina Poiares em relação ao programa. E melhorar a sua página online - que construiu sozinha, e, eventualmente, ter uma versão em inglês, mas o seu mercado será sempre de âmbito nacional.
Já Liliana Alves, 34 anos, com formação em ourivesaria, participou nos dois programas. É a dona da Jewely, empresa que fundou quando participou pela primeira vez no Connect to Success, em 2009. Faz joias de prata numa reinterpretação da técnica da filigrana. "Com os alunos, fizemos um plano de negócios de internacionalização, direcionado para os mercados certos", explica esta designer natural das Caldas da Rainha, onde mantém a oficina. Faz duas coleções por ano, com peças que custam entre cem e mil euros, e que estão à venda em lojas nacionais, mas também em Angola, Suíça e Canadá. O próximo mercado são os EUA. "O mercado nacional é o que tem crescido mais, existe muita procura, principalmente de turistas", diz. Recorre à mão-de-obra pontual, também a estagiários, mas pensa contratar no futuro.
Daniela Sá, 40 anos, é dona da Najha, marca de vestuário, bolsas e calçado de cortiça que fundou há dez anos. Produz peças por medida, em Santa Maria da Feira, exporta para Alemanha. Dinamarca, França, Espanha e México e quer continuar a crescer. É uma gestora com mestrado em Marketing e o "bichinho da moda". Está com a Catarina no programa MBA Masters, estando só à espera de que os alunos acabem a época dos exames para começar a trabalhar. "Quero adquirir conhecimentos, fazer um plano estratégico para o negócio, enfim, uma alavancagem da marca."
O Connect to Success tem praticamente desde o início o apoio da FLAD, entidade que ficou com a gestão após a saída do embaixador dos EUA, mas Kim Sawyer manter-se-á como diretora. "O programa não vai sofrer alterações, apenas passa a ser administrado por nós. Já o financiávamos e trabalhávamos em parceria", explicou ao DN Vasco Rato, presidente da FLAD.
Fonte: DN
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