Imagine que vivia numa cidade em que os passeios tinham um metro de altura e que, para entrar em sua casa, teria que subir umas escadas com degraus de meio metro e passar de lado nas portas.
Imagine que o proibiam de frequentar grande parte das escolas, dos teatros, dos cafés e que até o centro de saúde estava sempre fechado para si.
Imagine que não podia escolher onde viver porque não cabia na maioria das casas, nem consegui ir jantar a casa de quase todos os seus amigos.
Você não gostaria de viver numa cidade assim, pois não?
Diria que estava a ser discriminado e que se esgotava a ultrapassar barreira após barreira para evitar a exclusão e o isolamento. Chegaria à conclusão de que era impossível aí viver e mudava-se, o mais rapidamente possível, para outra feita à medida das suas capacidades.
Este pesadelo, que para si só existe no reino do faz-de-conta, é para muitos a realidade a que são condenados porque não podem mudar para uma cidade que não existe.
Lembramo-nos sempre das pessoas em cadeira de rodas. Mas se observarmos com atenção as pessoas que todos os dias encontramos na rua e os virmos apanhar o comboio, subir as escadas do Metro, atravessar uma rua de intenso tráfego, constatamos o esforço desnecessário da mãe que leva o filho no carrinho de bebé, do idoso, do cego, daquele com a perna partida ou ainda o que transporta duas malas a caminho da estação.
Outra cidade surgirá quando o poder político reconhecer que a acessibilidade, além de ser um direito, é indispensável para a sustentabilidade social e económica das cidades, promovendo legislação adequada, avaliando-a regularmente e fiscalizando a sua aplicação.
Surgirá quando arquitectos e engenheiros aceitem a diversidade e projectem para o maior número possível de pessoas, reconhecendo as suas diferentes aptidões físicas, sensoriais e intelectuais.
Uma cidade para todos é possível, e será real quando a maioria o exigir.
Imagine então uma cidade acessível.
Era bom, não era?...
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