Os atletas paralímpicos têm agora mais condições de treino e mais apoios, regra geral, mas estão ainda a anos-luz da maior parte dos que com eles competem – uma galáxia feita de profissionais longe do mundo amador do desporto adaptado em Portugal. Lenine Cunha, do atletismo, será das poucas excepções de um conjunto de desportistas que trabalham por turnos e deixam reservadas duas horas ao fim do dia para treinar.
Comecemos pelos apoios. Os subsídios aos atletas que entram dentro da preparação para um ciclo olímpico e paralímpico estão divididos em três categorias:
nível 1: Conquistaram medalhas nos Jogos Olímpicos ou campeonatos do mundo;
nível 2: Classificações entre o 4º e o 8º lugar nos Jogos Olímpicos ou campeonatos do mundo;
nível 3: Classificação entre o 9º e 12º lugar.
No caso dos atletas com deficiência, em qualquer destes patamares houve mais apoios na preparação entre Londres 2012 e Rio 2016. Mais 68 euros/mês no nível 1 (agora são 518 euros), mais 44 euros/mês (386 euros) no nível 2; mais 64 euros/mês (225 euros) no nível 3. No entanto, todos os valores ficam abaixo do salário mínimo nacional, 530 euros.
Se a comparação for feita com os atletas olímpicos vemos que um atleta olímpico que lute por medalhas ganha mais 875 euros por mês do que um paralímpico nas mesmas condições. No Rio, houve 11 atletas que prepararam a competição com uma bolsa de 1.375 euros.
O que justifica esta diferença entre atletas? O chefe de missão da comitiva paralímpica portuguesa, Rui Oliveira, não tem grandes dúvidas: diz que as diferenças de valores denunciam um “desconhecimento sobre o que é o desporto adaptado”.
“Evidencia ainda que se olha para isto de forma assistencialista”, critica. Ainda assim, refere também que o processo político vai no sentido de atenuar e fazer equiparar duas realidades que são similares.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na recepção à comitiva em Belém que “os Jogos Paralímpicos são tão importantes como os Jogos Olímpicos”. A nível financeiro, pelo menos, não se nota essa equiparação.
Se a participação dos 91 atletas olímpicos custou 17 milhões, os 37 paralímpicos (pouco menos do que metade) tiveram um apoio quase seis vezes inferior, num total de 3,3 milhões – ainda assim, um aumento de um milhão de euros, que representa um crescimento de 30%.
A exclusão dos atletas russos, apanhados em esquemas de doping, inflacionou a comitiva portuguesa de 30 para 37 atletas – a terceira maior comitiva de sempre, que contraria uma tendência de decréscimo. Há ainda uma subida no número de modalidades desde Londres de cinco para sete (natação, atletismo, boccia, tiro, judo, ciclismo e hipismo).
Apesar da subida do investimento, o chefe de missão diz que o contrato-programa assinado com o Governo prevê apenas a conquista de uma medalha. Um objectivo conservador tendo em conta que há quatro anos os atletas paralímpicos trouxeram três medalhas de Inglaterra (duas de bronze e uma de prata).
OS PARALÍMPICOS EM NÚMEROS:
176 países
4.300 atletas
528 medalhas
23 desportos
11 dias de provas
1.000.000 de bilhetes vendidos
Rui Oliveira reconhece o maior investimento, mas diz que há algo que cresceu mais: o valor dos atletas dos outros países.
“Sabemos que, de Londres para cá, o desporto paralímpico confirmou dezenas e dezenas de novos recordes mundiais. Não podemos pôr os nossos atletas no mesmo patamar que outros atletas que treinam a tempo inteiro”, afirma o chefe de missão, de 63 anos, que depois de duas participações como treinador (Seul e Barcelona) assume pela primeira vez o lugar de líder.
Voltando ao copo meio cheio e ao copo meio vazio, o responsável da comitiva garante que nos últimos quatro anos se melhorou muito no desporto adaptado português. Os atletas deixaram de estar dependentes do comité que juntava todos os paralímpicos e estão agora sob o chapéu das federações de cada uma das modalidades que praticam. “Aumentou a competitividade”, sublinha Rui Oliveira.
Por outro lado, o desporto em Portugal continua a ser um universo bem distante para os mais de 600 mil portugueses que têm uma qualquer deficiência. “Não tenho os números concretos de percentagem dos que praticam desporto, mas não é diferente do resto da população. Estamos na cauda da Europa”, remata.
Fonte: RR
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