“Das culturas clássicas às sociedades modernas a diferença tem sido, não raras vezes, transformada em factor de exclusão e de discriminação em benefício da hegemonia daquilo que é considerado normal”, começa por explicar aquele investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. E isso é cristalino quando o assunto é deficiência.
O desenvolvimento da ciência moderna teve o condão de arrumar a visão mágico-religiosa. Em contrapartida, potenciou o controlo da vida destas pessoas pela medicina e pelos profissionais da saúde, o que fez florescer estruturas segregadoras. A deficiência deixou de ser demonizada, foi “reduzida às falhas do corpo”, passou a ser vista como “uma tragédia individual”.
No Portugal de hoje, como em muitos outros países, há um modo hegemónico de pensar a deficiência. Entende-se que as pessoas têm um problema que é delas, que é médico, que deve ser tratado; que as suas limitações “derivam directamente das suas incapacidades reais ou imputadas”; que elas têm necessidades especiais e têm de se esforçar para se adaptarem ao meio que as rodeia.
Uma nova perspectiva já vingou noutros países e está a ser impulsionada em Portugal por alguns activistas que agem em nome individual, como Eduardo Jorge, e por novos movimentos, como o (D) Eficientes Indignados. Em seu entender, “não é a deficiência que impede a pessoa de participar na vida em sociedade, mas sim a forma como a deficiência é socialmente construída”; “as barreiras sociais, políticas, físicas e psicológicas criadas pela sociedade é que limitam a vida das pessoas”. Cabe à sociedade remover obstáculos, preparar-se para a diferença.
O investigador critica o modelo dominante, médico ou individual, e revê-se neste modelo social. “O foco na construção social da deficiência não nega, de forma alguma, a experiência do corpo e o impacto das incapacidades na vida das pessoas com deficiência; procura, sobretudo, prevenir um excesso de atenção aos aspectos biológicos que tem criado a ideia de que se trata de um problema eminentemente individual e médico, absolvendo a sociedade e as suas lógicas de funcionamento na produção de exclusão de pessoas com deficiência”, argumenta.
O livro, agora editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, é resultado de muitos anos de estudo. Com base em dados concretos, Fernando Fontes acusa a sociedade e o Estado de desrespeitarem as pessoas com deficiência, convidando para a mudança. Já há qualquer coisa a acontecer, nota. Em Portugal, estão a ser dados os primeiros passos para encontrar soluções de vida independente para pessoas com deficiência, em detrimento dos lares residenciais, que, apesar de terem crescido (e melhorado) nos últimos anos, nem chegam para as encomendas.
Fonte: Dnoticias.pt
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