Adaptar-se era deixar de fazer praia. Inadmissível, pensou a administradora hospitalar Rita Mendes face à (não) solução que os fisioterapeutas apresentavam, em 2017, para o caso do seu filho Manuel (na foto), na altura com seis anos, e criança com um atraso no desenvolvimento e fortes limitações de mobilidade. Quando a família ia à praia, tornava-se cada vez mais difícil para Rita Mendes e o marido andarem com Manuel ao colo, entre a areia e o mar.
Em lugar de se resignar, o casal procurou uma solução - que encontrou no site da associação americana Stepping Stones For Stella. Um avô da pequena Stella tinha desenvolvido um protótipo de uma cadeira de rodas com mobilidade fácil em areia (seca ou molhada) e na água, para a neta usufruir em pleno de um verão de praia. Foi o que aconteceu com Manuel logo no verão de 2017. Os pais encomendaram uma dessas cadeiras e fizeram o teste. Se correu bem? "A foto do Manuel diz tudo", responde Rita Mendes.
A administradora hospitalar sentiu depois a "necessidade de partilhar esta solução" com as famílias que enfrentam o mesmo problema. Num turbilhão de seis meses, foi criada a associação More Moving Moments e concretizado o projeto-piloto de colocar este verão 12 cadeiras de rodas, iguais à encomendada para Manuel, para uso gratuito por crianças em nove areais - praias do Ouro (Sesimbra), do Tamariz (Cascais), da Poça (Cascais), das Moitas (Cascais), de S. Lourenço (Mafra), da Foz do Lizandro (Mafra), da Comporta (Grândola), Tróia-Mar (Grândola) e das Maçãs (Sintra).
Ao chegar a estas praias, explica Rita Mendes, as famílias devem dirigir-se a nadadores-salvadores ou a monitores ao serviço dos municípios, para a requisição das cadeiras de rodas disponibilizadas pela More Moving Moments (dimensionadas para crianças até 27 kg/nove anos). Não há regras de utilização estipuladas, como, por exemplo, um período limite de uso. Por isso, Rita Mendes diz que a associação a que preside "pede às famílias, nadadores-salvadores e aos monitores que promovam uma utilização equilibrada e harmoniosa". O projeto funciona no horário dos concessionários.
A associação Stepping Stones For Stella doou as referidas cadeiras à congénere portuguesa, que teve de obter financiamento para o respetivo transporte, que não é barato - este protótipo não se desdobra. Mas a More Moving Moments quer chegar bem mais longe. "Pretendemos ter, dentro de quatro a cinco anos, todas as praias marítimas cobertas, e com cadeiras já fabricadas em Portugal", diz Rita Mendes. A Stepping Stones For Stella cedeu também o desenho técnico da cadeira, que a More Moving Moments, em colaboração com a Academia e a indústria portuguesas, quer que, além de produzida no País, alcance um tamanho acima, que permita a utilização por adolescentes até aos 15 anos.
Fonte: Visão
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