Os números não mentem: o saldo final de
17 medalhas conquistadas, das quais sete de ouro, nos Campeonatos da Europa de atletismo adaptado, em Berlim, fazem desta “a melhor participação portuguesa de sempre em competições internacionais de atletismo paralímpico”, destacou a Federação Portuguesa de Atletismo. Um feito encorajador e que se enquadra na dinâmica de crescimento e afirmação do desporto paralímpico, que por estes dias também viu Floriano Jesus chegar a uma final A nos Mundiais de paracanoagem, em Montemor-o-Velho.
De regresso a Portugal, na segunda-feira, a comitiva portuguesa que competiu em Berlim foi recebida em clima de euforia no aeroporto de Lisboa. Os atletas traziam o orgulho ao peito, pelas medalhas conquistadas e por mais uma etapa superada. Com um ouro, uma prata, e um bronze, Luís Gonçalves prometia não se ficar por aqui: “No próximo ano, nos Campeonatos do Mundo, vou dar 2000% e tenho a certeza que vou ter sucesso. Vou fazer o que o Cristiano Ronaldo disse, provar que um jogador ou um atleta, depois dos 30 anos, pode fazer o que os mais novos podem.”
Vários nomes que estiveram nos Campeonatos da Europa de atletismo adaptado, assim como Floriano Jesus, obtiveram resultados que lhes abrem perspectivas de ingressar no projecto paralímpico Tóquio 2020. Para que tal venha a ser uma realidade, é necessária uma candidatura que será avaliada pelo Comité Paralímpico de Portugal, de acordo com informação deste organismo ao PÚBLICO.
Na lista de atletas integrados no projecto de preparação paralímpica Tóquio 2020 já constavam 42 nomes divididos por seis modalidades (atletismo, tiro, ciclismo, equestre, natação e boccia), mas tudo indica que venha a aumentar o número de atletas e de modalidades. Isto é também um reflexo do crescente investimento no programa de preparação paralímpica. Os apoios atribuídos aos atletas aumentaram mais de 80% relativamente aos valores praticados para os Jogos do Rio de Janeiro 2016, com as bolsas a serem revistas anualmente tendo em vista o objectivo da equiparação das bolsas olímpicas e paralímpicas em 2021.
O contrato-programa assinado em Janeiro deste ano prevê um montante total superior a 6,9 milhões de euros para o programa de preparação paralímpica Tóquio 2020, financiado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude e pelo Instituto Nacional para a Reabilitação. Uma diferença substancial relativamente aos 3,8 milhões contratados em 2014 para apoio à missão portuguesa aos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro. Ainda assim, distante dos 18,5 milhões de euros do programa de preparação olímpica.
Da mesma forma, há quatro anos o documento assinado previa “três níveis de bolsas paralímpicas a atribuir aos participantes, ponderadas em função do currículo desportivo, bem como da expectativa relativamente à obtenção de resultados nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016”:
518 euros mensais para os atletas no nível 1;
386 euros mensais para os atletas no nível 2;
225 euros mensais para os atletas no nível 3.
Estes valores foram revistos no novo contrato-programa e serão actualizados anualmente: em 2018 os valores das bolsas mensais são 688 euros (nível 1), 516 euros (nível 2) e 303 euros (nível 3). Em 2019 vão aumentar para 963 euros (nível 1), 722 euros (nível 2) e 424 euros (nível 3).
No horizonte do movimento paralímpico está a equiparação das bolsas de atletas olímpicos e paralímpicos em 2021, um objectivo assumido pela secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes. Em 2020 o valor do apoio mensal para o nível 1 será de 1169 euros, igualando no ano seguinte os 1375 euros da bolsa mensal do nível “top elite” do projecto olímpico Tóquio 2020.
A tendência de crescimento do desporto paralímpico vê-se também pelo interesse mediático que gera. Os Jogos Paralímpicos do Rio 2016 tiveram uma audiência televisiva acumulada de 4100 milhões de espectadores em mais de 150 países, o que os tornou nos mais vistos de sempre.
O crescimento anda de mão dada com o espírito de superação, sublinhava na segunda-feira, no aeroporto Humberto Delgado, Carolina Duarte (que trouxe um ouro e duas pratas de Berlim): “Quero muito que as pessoas percebam que, mesmo tendo uma deficiência, mais ou menos severa, conseguem sair de casa, conseguem ter amigos, conseguem integrar-se perfeitamente. Quero inspirar as pessoas a saírem de casa e praticarem desporto. Nem todos têm condições para serem atletas de alta competição, mas serem só atletas já será bom.
Fonte: Público
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