domingo, 10 de abril de 2011

Humanização dos serviços de saúde deve passar a ser indicador de qualidade

A Associação Portuguesa de Humanização na Saúde defende que a humanização pode e deve ser medida, lembrando que também a dor passou, recentemente, a ser considerada como um sinal vital, que é mensurado.

Nos cuidados intensivos do Egas Moniz, em Lisboa, há seis meses que mais de 100 doentes já receberam um acompanhamento diferente enquanto estão internados.

Nesta unidade, os rigorosos tratamentos são acompanhados por música ou filmes ao gosto dos doentes. “Não podemos excluir a humanização do ato médico”, afirma Isabel Rio Carvalho, médica e presidente da Associação.

Fotografias da família, imagens de Cristo ou as músicas favoritas são um complemento aos tratamentos invasivos a que os doentes são sujeitos. “O que queremos é que o doente não perca as suas referências, os seus projetos. Quero que seja reconhecido nele o indivíduo, a pessoa que é”, explica Isabel Rio.

Refletir a cidadania do doente é um dos pilares deste projeto, que a Associação gostaria de ver espelhado noutras unidades de saúde. Porque nos últimos anos, o “boom” de tecnologia fez passar o doente para segundo plano: “As pessoas estão muito mais preocupadas com a tecnologia e deixaram de ter tempo para perceber que dentro do doente está uma pessoa”.

A debilidade dos idosos, a população mais comum nos cuidados intensivos, é ainda mais marcada. Entram fragilizados, em situação crítica e sem noção do que lhes está a acontecer. É aqui que o acompanhamento familiar ganha importância. Colocar as pessoas de referência para o doente mais tempo junto dele torna-se fundamental.

No Egas Moniz, o horário das visitas foi alargado em mais meia hora e a família é ainda bem-vinda no momento das refeições ou da higiene. Abrir as portas de uma unidade de cuidados intensivos pode ter ainda outra vantagem: diminuir o risco de erro nos profissionais. “Quando nos expomos há uma contenção de atitudes e uma maior atenção e cuidado. Isso significa que há seguramente uma diminuição do erro”, indica Isabel Rio.

Para a médica, esta humanização dos cuidados deve ser incorporada na formação dos profissionais, nomeadamente nas faculdades: “tal como se ensina a colocar um cateter central”. “Temos que resgatar a humanização para a classe médica”, argumenta, consciente de que alguns clínicos encaram a medicina como um ato autocrático ou paternalista.

Rodeados de pessoas em estado crítico, os profissionais dos cuidados intensivos do Egas Moniz “estão muito próximos da morte” e percebem que a humanização dos doentes com curto tempo de vida “é fundamental”. Além de filmes, música e fotografias da família, o projeto passa também pela facilitação da comunicação: há telefones portáteis para os contactos familiares e computadores com acesso à Internet.

Para os doentes que têm dificuldades em falar há quadros magnéticos onde podem escrever o que querem transmitir durante os períodos de visitas ou aos profissionais de saúde. Isabel Rio de Carvalho acredita que, mesmo sendo subjetiva, a humanização pode ser medida: “A felicidade é subjetiva e é das coisas mais importantes da nossa vida”.


Fonte: Noticias Sapo

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