terça-feira, 6 de outubro de 2015

O inesperado deputado bloquista que leva a causa dos deficientes a São Bento

Reivindicação de que o Estado assegure apoios adequados às pessoas com deficiência e que lhes forneça condições para serem autónomas, em lugar de optar em muitos casos pela sua institucionalização, são algumas das causas com que Jorge Falcato chega ao Parlamento.

Quinto nome da lista por Lisboa do Bloco de Esquerda, faz parte daqueles que figuravam em posições, à partida, pouco elegíveis, mas que acabaram eleitos graças ao grande aumento dos votos do partido.

Eleito como independente, Falcato tem 61 anos e trabalha para a autarquia da capital como arquiteto, atividade que tenciona suspender para se dedicar em exclusivo ao Parlamento.

Natural de Lisboa, é oriundo de uma família de Estremoz, de onde diz ter recebido a sua influência política de esquerda. Antes do 25 de Abril integrou as lutas do movimento estudantil na Faculdade de Belas Artes.
ALVEJADO PELA POLÍCIA EM 1978

Mas seria já no Portugal democrático que Jorge Falcato acabaria por ficar paraplégico, em 1978, ao ser alvejado pela polícia durante um protesto contra uma manifestação da direita pelo 10 de Junho, o “Dia da Raça”. “Tinha havido confrontos, mas na altura a situação estava mais calma e já estava a ir-me embora quando comecei a ouvir tiros e voltei para trás para ver o que se passava”, recorda ao Expresso. Acabou por ser alvejado com um tiro de G3, assim como um outro estudante que faleceu.

A redução da sua mobilidade acabaria por contribuir para que o seu empenhamento político se virasse para a reivindicação dos direitos de todos aqueles com problemas semelhantes. Primeiro nos anos 1980, na UDP, partido que ajudara a formar, e, mais recentemente, nos (D)Eficientes Indignados, grupo que ganhou destaque com ações como a vigília em frente ao Parlamento, em 2012, que conseguiu que o Governo recuasse no corte de verbas para apoio a pessoas com deficiência. No ano seguinte, alargaria o seu ativismo político com a adesão ao movimento “Que Se Lixe a Troika”.

O bloquista considera que o Estado português “delega nas famílias a sua obrigação de apoiar estas pessoas”, o que diz provocar o empobrecimento e muitas vezes a desagregação destas famílias. Refere exemplos como o daqueles que têm filhos pequenos deficientes, em que um dos pais tem de abdicar do seu trabalho para poder dar a assistência adequada à criança.
A HIPÓTESE DAS PESSOAS TOMAREM “O SEU DESTINO EM MÃOS”

Recorda que em Portugal uma pessoa com deficiência recebe 200 euros mensais de subsídio, mas só nos casos de não ser casado com alguém que tenha mais de 250 euros de rendimento.

As suas criticas à política que tem sido seguida nesta área estendem-se também à tendência para se optar pela institucionalização dessas pessoas, em lugar de lhes serem concedidos apoios para que possam ter uma vida mais autónoma. “O Estado paga 990 euros aos lares (por cada pessoa internada), enquanto o subsídio de assistência a uma terceira pessoa (que lhe preste assistência) é de apenas 80 euros”, refere, criticando uma opção de que “nem do ponto de vista económico faz sentido”.

“O que defendemos é dar a hipótese à pessoa com deficiência de tomar o seu destino em mãos e fazer a sua vida, em lugar de ser retirada da sua casa e da sua rede social e metida numa lar onde muitas vezes nem sequer o canal de televisão pode escolher”.

Fonte: Expresso

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