domingo, 16 de dezembro de 2018

Novo tratamento da esclerose aguarda aprovação

Em Portugal, cerca de 20% dos doentes com Esclerose Múltipla (EM) não têm medicação específica. Mas um novo medicamento, aprovado este ano pela Comissão Europeia pode ser uma esperança para os doentes. "O Ocrelizumab é o primeiro medicamento para as formas progressivas da doença. Esperamos que seja aprovado brevemente em Portugal", revela ao CM Carlos Capela, neurologista no Hospital dos Capuchos, em Lisboa. 
Este é um tratamento inovador para a EM primária progressiva que, segundo o neurologista, leva desde do início a um aumento gradual da incapacidade, atingindo entre 10 e 20% dos doentes. Para a forma inflamatória do tipo surto-remissão, que afeta a maioria dos doentes (mais de 80%), o médico afirma que já existem pelo menos 12 medicamentos para atrasar o tempo entre surtos e a fase degenerativa da Esclerose Múltipla. 

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), há mais de oito mil pessoas com a doença em Portugal. Sem cura, esta é uma doença inflamatória. "‘Esclerose’ significa uma cicatriz no sistema nervoso central, que resulta da inflamação, e ‘múltipla’ porque atinge vários locais do sistema nervoso central", explica Carlos Capela. 

Conselho da semana 
Apesar dos sintomas poderem ser confundidos com outras doenças, existem sinais de alerta. A fadiga e a perda de memória são sintomas ‘invisíveis’, aos quais deve prestar especial atenção. "Quanto mais precoce o diagnóstico, mais rápido será o tratamento e melhor o prognóstico", salienta o neurologista Carlos Capela. O tabaco é um fator de risco a ter em conta e, assim, este é mais um motivo para deixar de fumar. 

"Este ano fiz um triatlo olímpico" 
Aos 26 anos, Cátia Gonçalves sentiu os primeiros sintomas e passadas quatro semanas chegou o diagnóstico de Esclerose Múltipla. "Ia andar de bicicleta e sempre que baixava a cabeça sentia uma pequena vibração, como se fosse um telemóvel a vibrar", recorda. Antes do diagnóstico, a técnica de informática nunca tinha ouvido falar da doença. "Fui logo ao tablet ver o que era", diz. "Embora me tenham aconselhado a fazer yoga ou pilates, apostei no desporto e este ano fiz um triatlo olímpico no evento Challenge Lisboa", conta uma das coordenadoras do projeto EM’Força - Corremos com a EM. 

Carlos Capela, neurologista no Hosp. dos Capuchos 
"Fatores de risco genético" 
CM: De que forma se pode diagnosticar a Esclerose Múltipla (EM)? 
Carlos Capela – Quando o paciente tem os sintomas, recorremos a meios complementares de diagnóstico, como a ressonância magnética, a análise do líquido cefalorraquidiano (punção lombar) e aos testes dos potenciais evocados que medem as vias sensitivas, auditivas e visuais. 

– O que pode originar a doença? - A comunidade médica defende que a causa é multifatorial. Existem fatores de risco genético e ambientais, como por exemplo infeções causadas por vírus na fase adulta, níveis baixos de vitamina D e o tabagismo, que potenciam a probabilidade de desenvolver a doença. 

Os sintomas de uma doença com ‘mil caras’ 
Segundo o médico neurologista Carlos Capela, "a Esclerose Múltipla (EM) tem um largo espetro de sintomas e sinais". "Cada caso é um caso: dependendo do local das lesões inflamatórias no sistema nervoso central, vamos ter uma clínica diferente", explica. Causada por uma resposta incorreta do sistema imunitário, que ataca o sistema nervoso central, a EM pode levar a "alterações da sensibilidade, bem como visuais e motoras, no equilíbrio e coordenação, no controlo dos esfíncteres e na função sexual". Há ainda sintomas ‘não visíveis’ como a fadiga e a perda de memória. 

Alexandre Guedes da Silva, da direção da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, diz que é a doença das ‘mil caras’, "que se confunde com muitas outras", afirma. Alexandre teve os primeiros sintomas aos 26 anos: foram confundidos com lesões desportivas. "Só fui diagnosticado à terceira, com 45 anos", recorda. Para Carlos Capela, o cenário é agora mais positivo. "Nos últimos dez anos, assistimos a uma grande evolução no diagnóstico e na terapêutica", diz.

Fonte: CM

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