Teodoro Cabral Vieira, 11 anos, deficiente motor. tinha quatro meses quando os médicos descobriram que não seria uma criança normal. Provavelmente, muito tarde para o elevado grau de deficiência que tem.
Vive numa casa cedida à família, através de apoios da União Europeia, na zona do bairro dos pescadores, em Rabo de Peixe. É filho de Durvalina, doméstica, e do pescador Agostinho Andrade Vieira. Tem três irmãos, um dos quais, Agostinho, apesar de ser seu gémeo, tem uma estrututra física que duplica a do Teodoro.
A mãe, Durvalina, ainda se recorda do primeiro dia em que o levou para a escola num "carro de bébé". Nos primeiros anos foi ela que o transportou ao colo entre casa e o estabelecimento de ensino. Era ela que lhe ponha a comida na boca, à hora do almoço, na cantina da escola e era também ela que o levava a braços de regresso a casa. Foi assim durante alguns anos até que a Segurança a Social começou a disponibilizar um táxi para efectuar este serviço.
Teodoro está hoje enquadrado numa turma normal. Frequenta o quarto ano na Escola Doutora Luísa Constantino e tem aulas de apoio, com professores especializados, na escola D. Paula João Tavares, as duas em Rabo de Peixe. E são as auxiliares dos dois estabelecimentos de ensino que o apoiam na circulação no estabelecimento de ensino e no almoço na cantina.
Em casa e nas duas escolas a criança continua a circular num "carro de bébé", de dimensões um pouco maiores, - oferecida pelo Hospital do Divino Espírito Santo - mas sem as condições exigidas para uma criança com o grau de deficiência que tem.
Os Lions de Rabo de Peixe souberam, casualmente, da situação em que vive o Teodoro por indicação de uma das suas professoras e os seus responsáveis desenvolveram, desde logo, esforços para desencadearem uma campanha solidária de apoio à compra de uma cadeira de rodas que, segundo os médicos, tem de ter características específicas que vão ao encontro das necessidades de uma criança com o grau de deficiência do Teodoro. Mediante uma consulta ao mercado, apurou-se que esta cadeira está orçada em 3.107 euros.
A primeira porta a que foram bater foi à Segurança Social que disponibilizou mil euros para a compra da cadeira. É uma verba insuficiente para uma família que está a atravessar sérias dificuldades económicas.
O rendimento da pesca de Agostinho Vieira "tem dado para quase nada. Para agravar a situação, a família viu reduzido o Rendimento de Inserção Social de 500 para pouco mais de 150 euros e ocorreram também cortes no abono de família para as três crianças.´
Pelo que diz a Durvalina, "o dinheiro que a família recebe (salário do marido, apoio social e abono) não dá para pagar água, luz e renda e, ao mesmo tempo, alimentar os filhos". A família teve apoios do Banco Alimentar contra a Fome, mas já nem géneros tem.
Maria Vieira, madrinha do Teodoro, confirma que "não pode ver os sobrinhos a passar fome. Ainda ontem vim trazer-lhes pão com manteiga", refere.
A casa onde a criança vive não tem as mínimas condições para ser habitação de uma criança deficiente. Até a única casa de banho está no primeiro andar. Chegaram a desencadear o processo para a Câmara Municipal da Ribeira Grande apoiar a construção de uma casa de banho no rés-do-chão mas, a determinada altura, quando a autarquia descobriu que a família já há alguns meses não lhe pagava a renda de 35 euros por mês, decidiu parar com o processo. "Uma coisa não tem a ver com a outra. Não podemos pagar a renda e o Teodoro é que sofre...", refere Durvalina.
Nota-se uma certa revolta na família do Teodoro. O governo, diz Durvalina, "tanto dá como tira". E a Maria Vieira explica: "Incentivaram os casais jovens a terem filhos prometendo uma série de apoios e agora cortam em tudo e deixam-nos os filhos sem termos como os sustentar".
Há também a noção na família de que a Segurança Social deveria disponibilizar mais apoios a crianças deficientes. "Ajudam tanto as crianças deficientes aí para fora, mas o meu sobrinho nunca teve nada...", afirma Maria Vieira indignada.
Questiona também se o governo açoriano "tem consciência do que está a fazer, reduzindo rendimentos mínimos e tirando aqui cinco, ali sete euros nos abonos que tanta falta fazem às famílias e não representam nada para eles. Que buraco ´este que querem tapar?...", questiona a senhora.
Teodoro é uma jóia de rapaz. Tem um sorriso angélico. A sua única linguagem é gestual. É quase por intuição com base nas expressões do rosto e dos olhos que a família percebe se está contente, triste, envergonhado, calmo ou nervoso. Conhece todos, sorri mas, não fala e não consegue escrever. Quando tem fome aponta com o dedo para a boca. Os seus olhos brilham de uma forma diferente.
A nossa despedida não é fácil. Que pode promoter um repórter a estas pessoas que já foram bater a várias portas para adquirirem uma cadeira de rodas para o Teodoro e, até agora, nada conseguiram?
Ele mora na Rua de São Paulo, número 12, em Rabo de Peixe. PCD
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