No Vida Mais Livre, desta vez escrevi sobre amizade. Veja:
Antes do meu acidente, tinha alguns amigos. Saiamos, tínhamos aventuras juntos, socializávamos, partilhávamos bons e maus momentos, viajávamos...
Após ter ficado na cadeira de rodas, tudo mudou. Pouco a pouco foram desaparecendo. Aceitar e entender essa mudança foi difícil. Tentava ligar e cobrar a velha amizade, mas só ouvia promessas e pedidos de desculpa. Conversa era a de sempre. Nada mudou, a amizade persiste, não sais do meu pensamento, estás no meu coração, mas tenho falta de tempo. A partir de agora isso não vai mais acontecer. Mas tudo voltava ao de sempre. Um ou dois telefonemas ao ano e ponto final.
Chorei, questionei-me, culpei-me e sofri muito. Nunca consegui entender porque estas pessoas com quem tantas coisas partilhei, que tantas provas de amizade me deram, e cumplicidades mantivemos, de repente só porque fui parar em uma cadeira de rodas, e quando mais precisei delas, desapareceram. Foram todos. Não sobrou nenhum.
Noto que isto se passa com a maioria das pessoas na minha situação. Ditos amigos desaparecem todos ou poucos ficam. Sinceramente não consigo entender este procedimento. Dizem-me que é porque não eram nossos amigos a sério. Que amigos não agem assim. Eu não sei o que pensar. Sei que assim não procederia. Mas talvez o fato de darmos trabalho, ficarmos limitados e não termos a mesma mobilidade e possibilidade de deslocamento, pese na decisão de nos abandonarem, e se for assim, não os recrimino. Deveriam era em respeito a nossa velha amizade, explicar-nos que não querem mais um amigo nestas circunstâncias. Assim ficaríamos resolvidos e nada mais esperaríamos.
Com alguns, ainda continuo a troca de telefonemas e e-mails uma ou duas vezes ao ano. Até uma visita anual, outros nem isso. Desculpa continua a ser a falta de tempo. Mas segundo eles, amizade continua intacta. Costumo dizer que tempo todos arranjamos. É uma questão de prioridades. Neste momento convivo bem com esta realidade. Se aparecem são bem-vindos, se não vêm, nada de dramas.
Em compensação após o acidente novas amizades surgiram. E essas costumo dizer que são das boas e sinceras. Aos atuais, muito obrigado por me aceitarem como sou, aos do passado obrigado pelos belos momentos passados juntos. Afinal, ninguém é de ninguém.
Amigo, sei tão bem o que é isso, pois também passei pelo mesmo...acho que todos passámos...mas onde se fecha uma porta, abre-se uma janela. Ficámos a saber com quem contar de facto...
ResponderEliminarMas no inicio dói muito...
ResponderEliminarÉ verdade, Manuela! Todos passamos por isso.
Fica bem
Amigo Eduardo,
ResponderEliminarNa tetraplegia como no cancro.
Partilho integralmente tudo o que refere.
Acrescentaria somente, no meu caso, que a revolta que senti me fez enfrentar esses pretensos "amigos". Não consegui ficar calado nem quieto! Tive de transmitir-lhes frontalmente a "repulsa" que inicialmente passei a sentir e deixar de recordar essa gente, sem dor... para quem não "presta" não podemos deixar-nos magoar.
Um Abraço.
Alberto
Amigo Jorge, sabes que sou das tuas "amizades" recentes e sabes que mais..."Há males que vem por bem!!".
ResponderEliminarNem sempre os amigos que estão fisicamente presentes, são os mais sinceros e verdadeiros.
Às vezes basta-nos uma palavra dita no momento certo e o dia ganha uma nova Luz...
Acredita nos afectos das pessoas que te rodeiam, porque eu tb sinto que às vezes o tempo voa, mas nas verdadeiras Amizades "não há longe nem distância" :)
Um forte abraço de Luz e Amor
Isa
Viva Eduardo,
ResponderEliminarÉ realmente muito interessante e uma questão de estudo o fenómeno social em torno da afectividade no antes e após aquisição de deficiência. A amizade faz parte do peso da balança que permite também o equilíbrio afectivo bem como a manutenção de níveis de auto-estima que são proporcionados pela partilha, pela aceitação, pelo diálogo, pela preocupação pelo outro...é que um amigo às vezes faz toda a diferença para a solidão...e quem não gostaria de manter os amigos pela vida fora, mesmo com "acidentes" de percurso?! Todos, não é?
Enfim…, penso uma forma excelente de se encarar a saudade dos amigos "ausentes" é compararmo-nos a um autocarro em que cada amigo entra já com um destino traçado e sai para continuar o seu próprio caminho, mas que entretanto no percurso que tivemos em conjunto partilhamos algo, recebemos e demos em troca e isso não se esquece...entretanto à mais paragens e entram mais amigos como tu dizes!
Abraço amigo!
Sininho
Alberto, porque será que agem assim? Até hoje não consegui entender.
ResponderEliminarBoa a sua maneira de resolver situação enfrentando-os.
Fique bem
Isa, dou muita importância ao estar em pessoa. Quando gosto das pessoas gosto de as sentir, cheirar, abraçar...
ResponderEliminarFica bem
Sininho, não me refiro a esses amigos. Refiro-me àqueles que estão de tal maneira dentro de nós, e que jamais esperaria que apanhassem o "autocarro" e me deixassem só.
ResponderEliminarBonito teu ponto de vista.
Fica bem
Olá Eduardo!!!
ResponderEliminarEstou entrando neste mundo virtual dos mal acabados, como diz nosso amigo Jairo, há pouco tempo. Confesso que só tem me ajudado...e muito.
Vejo que o que está acontecendo comigo passa à ser normal neste nosso mundo.
Faz 4 anos que soube de um tumor intramedular na cervical e neste ano os sintomas tem se agravado muito. Estou ficando à cada dia mais tetra.
E alem dos amigos, nossos amores tbem nos abandonam, deixando um vazio enorme no coração.
Forte abraço
Sandra, bem-vinda ao TETRAPLÉGICOS. Aqui nunca será ignorada.
ResponderEliminarInfelizmente é normal, realmente sermos deixados pelos ditos amigos.
Nos amores também acontece com muita frequência. Principalmente o homem. Mulher costuma ficar com o companheiro.
Fique bem e disponha