Rugby Adaptado está a dar os primeiros passos em Portugal
Luís Vaz tem 23 anos, é natural de Macedo de Cavaleiros, e reside em Coimbra onde é estudante universitário, na Escola Superior Agrária de Coimbra.
Em 2007, na sequência de um incidente relacionado com praxes académicas ficou com tetraplegia (lesão nas vértebras C6/C7).
Fez a Reabilitação no Centro Rovisco Pais, na Tocha (Cantanhede), onde também recebeu todo o apoio para dinamizar a iniciativa de desenvolver a modalidade de rugby em cadeira de rodas em Portugal. Está em curso o processo de criação de uma equipa que Portugal possa ser representado a nível interncional nesta modalidade.
Associação Salvador (AS): Como surgiu a ideia de organizar uma equipa de rugby adaptado em Portugal?
Luís Vaz (LV): Sempre pratiquei desporto, e depois do acidente, comecei a procurar um desporto que se adaptasse à minha nova condição. Tentei o basquete e o ténis, em que infelizmente, devido à pouca destreza de mãos, não consegui obter satisfação. Então, e como já tinha conhecimento do rugby adaptado, através do filme “Murderball - Paixão e Gloria”, e sabia que era um desporto sem nenhuma expressão em Portugal, comecei a informar-me sobre a modalidade, contactei as entidades soberanas no desporto adaptado, como o Comité Paraolímpico, a Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes e a Associação Nacional de Desporto para Deficientes Motores, para saber o que fazer e o apoio que poderia esperar da parte deles e contactei também pessoas com o meu nível de lesão, tentando encontrar interessados, para dar mais força a este projecto. Durante este processo, tive contacto com o "Projecto Bicas no Rovisco Pais - Desporto Adaptado", que acolheu ideia dando-nos um grande impulso.
AS: Porquê praticar rugby e não outra modalidade?
LV: O rugby adaptado é o único desporto colectivo para pessoas com deficiência nos membros superiores, como tetraplégicos, amputados, etc., pessoas que têm pouca ou nenhuma destreza de mãos, logo têm acesso vedado ao basquete, andebol e ténis em cadeira de rodas. Apesar de não ser ainda conhecida em Portugal, existe desde 1979 e é uma modalidade paraolímpica. A nível internacional é das modalidades adaptadas com mais sucesso, sendo praticada em 24 países e está em desenvolvimento em mais 8, nos quais se inclui Portugal. É por isso uma modalidade com tudo para crescer.
cadeirarugby.jpgAS: Quais os recursos que necessitam?
LV: Para esta modalidade, em termos materiais há “apenas” necessidade de cadeiras especiais e uma bola de voleibol. Sendo o grande entrave, que é comum a quase todos os desportos adaptados, as cadeiras especiais, mais resistentes e aerodinâmicas, material que é bastante caro. Neste momento a falta destas cadeiras é o único impedimento ao arranque a 100% da equipa, pois já temos garantido treinador, staff técnico e local para treinos e jogos.
AS: Que tipos de apoios financeiros têm até ao momento?
LV: A nível financeiro, de momento ainda não temos nenhum apoio garantido, estando a decorrer negociações para um possível patrocínio.
AS: Que tipo de apoios institucionais têm até ao momento?
LV: A nível institucional, temos o apoio a 100% do Centro de Medicina e Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais, que disponibilizou espaço para treinos, um formador, treinador e equipa técnica, bem como o apoio das Secretarias de Estado do Desporto e da Reabilitação, do Comité Paraolimpico, da FPDD e da ANDDEMOT. Já foi demonstrada também, por parte da Federação Portuguesa de Rugby, vontade de apoiar o nosso projecto.
AS: Quantas pessoas estão envolvidas no projecto?
LV: Neste momento o projecto conta com oito atletas e um staff de 4 pessoas, ligadas ao Rovisco Pais, estando o projecto aberto a todos os interessados, tanto atletas como possíveis treinadores e árbitros, dado que as futuras formações vão no sentido, não só de formar atletas como técnicos, juízes e classificadores desportivos.
AS: Quais são os objectivos que pretendem alcançar em 2010?
LV: Para 2010 a nossa meta é ter a equipa formada, com todas as condições físicas (cadeiras, equipamento, etc.) e a formação básica completa. Estando assim a treinar regularmente para poder começar a competir em torneios internacionais. É também um desejo nosso, que outros, em Portugal, sigam o nosso exemplo e que possamos ter mais equipas, a médio prazo, abrindo portas a uma competição interna.
AS: Qual a importância do desporto para a integração social das pessoas que têm algum tipo de deficiência?
LV: Para além de todos os benefícios conhecidos do desporto, a nível de saúde, condição física e bem-estar psicológico, para as pessoas com deficiência, o desporto tem um papel muito maior. O contacto com o desporto adaptado, principalmente quando ainda no centro de reabilitação, numa fase de recuperação tanto física como psicológica, é muito importante, pois mostra que afinal ainda podemos fazer algo, que não estamos inválidos. É o ponto de partida para uma maior aceitação da realidade e no caso de um desporto colectivo, “obriga-nos” a conviver com outras pessoas, outras experiências, o que ajuda muito a enfrentar a sociedade e o mundo do trabalho, nesta nova condição.
Fonte: Associação Salvador
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