Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) demonstrou que os pacientes com doenças neuromusculares podem viajar de avião sem precisar de oxigénio suplementar desde que correctamente ventilados.
A demonstração foi feita em dois voos do Porto para Barcelona de dois pacientes com doença neuromuscular que “receberam ar por meio de ventilação não-invasiva contínua, através de uma peça bucal ou de uma máscara nasal, durante todo o voo”.
“Até agora nunca se tinha monitorizado a respiração durante o vôo em doentes com insuficiência respiratória de origem neuromuscular, pelo que poder-se-ia pensar que seria necessário oxigénio suplementar também neste contexto”, afirma o autor do estudo, João Carlos Winck. No entanto, a equipa de investigação do Serviço de Pneumologia da FMUP concluiu que “apenas a ventilação nasal e não o oxigénio pode normalizar a hipoventilação”.
Os dois doentes submetidos a este teste, uma mulher de 36 anos com miopatia mitocondrial e um homem tetraplégico de 50 anos, revelaram durante os voos “perfis de saturação de oxigénio iguais aos de indivíduos saudáveis”, não apresentando qualquer desconforto respiratório.
“A viagem foi cuidadosamente preparada por uma equipa (um médico, um enfermeiro e um fisioterapeuta), tendo sido autorizada pela companhia aérea a utilização de monitores, ventiladores, bem como um kit de suporte avançado de vida”, salienta a FMUP. O estudo foi publicado na “segunda revista científica mais importante na área da medicina respiratória em todo o mundo, a ‘Thorax’”, refere a mesma fonte.
Contactado pela agência Lusa, João Carlos Winck realçou que este estudo “foi uma estreia mundial”, pelo que as companhias aéreas terão agora menos argumentos para “banir” dos seus voos os doentes neuromusculares.
“As companhias aéreas vão ter de se confrontar com estas pessoas, que têm direito de viajar de avião”, frisou o investigador, notando que foram utilizados nestas experiências equipamentos médicos que “a legislação já autoriza”.
João Carlos Winck recomendou que os fabricantes de aviões passem a colocar tomadas de electricidade também nas áreas reservadas à classe económica/turística, para que os doentes neuromusculares não precisem de levar no avião muitas baterias para recarregar os ventiladores.
Fonte: O Mirante
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