Acabar com palavras como “diferença” e “inclusão”, quando se fala de dança ou de um espectáculo feito por pessoas com necessidades especiais, é o propósito do primeiro Encludança - Encontro Inclusivo de Arte promovido pela Associação dos Amigos da Arte Inclusiva de Dança - Dançando com a Diferença (AAAIDD).
Em entrevista cedida ao JM, o director desta companhia regional revelou que este encontro surge no âmbito do processo de internacionalização do grupo Dançando com a Diferença e também na necessidade sentida em abordar questões que se prendem com a condição a utilização de termos que limitam o que é, afinal, um artista ou bailarino.
Por exemplo, como passou a enunciar, no Brasil utilizam o termo “dança inclusiva” e na Inglaterra usam o nome “dança integrada”. A este respeito, Henrique Amoedo diz que, cada vez mais, os grupos que trabalham nesta área questionam o porquê desta separação. «Porque não chamar apenas dança contemporânea e ponto final?», interrogou, anunciando, ainda sobre esta questão, que no final do mês de Setembro irá participar num evento no Brasil, promovido pela Universidade Federal da Bahía, que irá abordar exactamente este problema.
Além disso, no encontro que a partir de segunda-feira terá lugar na Madeira, será criado um documento sobre o que é a dança inclusiva hoje e até onde ela pretende chegar. No fundo, «é uma carta de intenções», justificou Henrique Amoedo, feita pelos oradores convidados e que são Pedro Machado, Carla Vendramin (Inglaterra), Rosangela Barnabé, Renata Carvalho, Flávia Cintra (Brasil) e Gabriela Martin León (Espanha).
Dez anos serviram para mudar mentalidades
Nestes últimos dez anos, passados à frente de uma companhia de dança inclusiva, Henrique Amoedo confessa assistiu a uma mudança gradual das mentalidades. «No início, quando cheguei a Portugal, as pessoas diziam-me que a minha ideia não fazia muito sentido, mas, hoje em dia, já existem por todo o Portugal muitos grupos do género», argumenta.
A partilhar desta opinião está Gabriela Martin Léon, uma das oradoras convidadas a participar no Encludança que, para além de especialista em estudos comparativos entre primatas e humanos com problemas comportamentais e sociais, bailarina e coreógrafa, é também presidente da Fundação Psico Ballet Maite León.
Também em Espanha as mentalidades eram, até há relativamente pouco tempo, mais fechadas do que são actualmente. Hoje em dia, revelou, «já existe uma grande aceitação e integração na sociedade das pessoas com deficiência, ao contrário do que acontecia, por exemplo, há 20 anos, altura em que as pessoas escondiam em casa os seus familiares com deficiência». A mudança, conta, «deve-se à criação de várias associações e companhias que trabalham exclusivamente com pessoas com necessidades especiais».
Uma delas é a fundação que preside desde a morte da sua mãe, Maite Léon. Criada há 24 anos, esta instituição trabalha com centenas de crianças, jovens e adultos com incapacidade motora ou intelectual e desenvolve com elas actividades ligadas ao teatro, música e dança.
«Hoje em dia, em Espanha as pessoas com necessidades especiais já trabalham, andam autónomas nas ruas e expressam o seu talento sem a vergonha que outrora existia», frisou, revelando que um dos seus grandes propósitos e que também é partilhado pelos responsáveis de outras companhias semelhantes é «conseguir que um dia estes bailarinos e artistas sejam colocados no mesmo patamar dos outros que não têm problemas físicos e que possam viver exclusivamente da vida artística».
O Encludança não é, ele todo, aberto ao público em geral. De acordo com Henrique Amoedo há um primeiro momento «mais restrito» onde será discutido, por profissionais, o conceito de Dança Inclusiva e a sua perspectiva na contemporaneidade, e um segundo que engloba três espectáculos, quatro depoimentos, quatro workshops e uma conferência podem ser seguidos pelo público em geral.
O responsável disse que para os workshops já não há mais vagas e que estão abertas as inscrições gratuitas (no site www.aaaidd.com) para os depoimentos, mesa redonda e para a conferência da jornalista e activista brasileira Flávia Cintra.
Os espectáculos — que acontecerão sempre às 21h no Centro das Artes Casa das Mudas, na Calheta — vão apresentar as coreografias “Beautiful People” da AAAIDD (dia 27); “Utopia” e “Afectos” (dia 30) pelos grupos Dançando com a Diferença Sénior e Giro (Brasil) e, por fim, (dia 31) as performances “Caminhante” do CAO’s, “Gosmose” do Grupo Dançando com a Diferença (em conjunto com o grupo júnior e os brasileiros Giro) e “Sem medo” dos In Verso Dance, também do Brasil.
Os bilhetes para estes espectáculos custam dez euros para o público em geral, havendo um bilhete único de 25 euros que permitirá entrada para os três dias. As crianças (dos 5 até os 12 anos) e Seniores (a partir dos 65 anos) pagam apenas cinco euros.
Fonte: Jornal da Madeira
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