segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Primeiro espaço de apoio ao luto em Portugal abriu portas em Aveiro


É uma vivência quase certa para todas as pessoas, mas ainda sem resposta ao nível do sistema de protecção social do Estado. O luto não é uma patologia, mas é uma vivência dura e longa, que pode deixar marcas indeléveis se não for devidamente ultrapassada. O aconselhamento e apoio podem ser cruciais na recuperação e superação do luto, ainda que muitas pessoas possam demonstrar alguma resistência em pedir ajuda.

Esse apoio passa, agora, a estar mais próximo dos cidadãos, uma vez que Portugal já conta com um "Espaço do Luto", tal como acontece noutros países. Funciona em Aveiro, mas poderá alargar-se a outras cidades do país. Uma aposta dos fundadores da Apelo (Associação Portuguesa de Apoio à Pessoa em Luto), que está já a apoiar 30 pessoas em processo de luto. Neste espaço, "as pessoas podem sentir-se tranquilas e respeitadas para partilhar emoções que decorrem das perdas emocionais profundas", atesta José Eduardo Rebelo, um dos coordenadores.

No conceito de perdas emocionais e de luto não entra apenas a morte de familiares. "A separação, divórcio, um aborto, ou quando têm um filho deficiente, ou também quando se é sujeito a uma amputação também são situações em que as pessoas sofrem transtornos emocionais muito grandes", especifica o também fundador da Apelo, autor de vários livros sobre o luto e professor universitário.

Maria de Fátima Albuquerque, também professora universitária e fundadora da associação, e Lúcia Ferreira, enfermeira e psicóloga, completam a equipa que atesta o funcionamento em permanência deste primeiro "Espaço do Luto" - está aberto de segunda-feira a sábado, entre as 16h00 e as 18h00.

O apoio clínico, segundo afiança José Eduardo Rebelo, "não é resposta a um processo de luto". "Porque o luto não é uma doença, aquilo que se sente não é uma depressão e não adianta tomar antidepressivos. É uma vivência, um processo que a pessoa está a viver e que tem várias fases", adverte. Desde "a chamada fase de choque, quando recebemos a notícia da perda, em que há uma negação", até à "fase de desencontro, em que se anda em busca da pessoa perdida", passando pelo "reconhecimento do luto, em que há uma desorganização emocional", até à última fase, "a aceitação da perda, em que começa a ser feita a reorganização emocional", especificou.

Todo este processo leva tempo, avisa Rebelo, explicando que o caminho até à recuperação pode ser encurtado com o devido apoio e aconselhamento. "Com apoio também se pode evitar, por exemplo, que haja tantas separações de casais na morte de um filho. O luto por um filho é o mais complicado e a grande maioria dos casais acaba por não resistir", argumenta o também fundador da Sociedade Portuguesa de Estudo e Intervenção no Luto (SEIL), que está já a desenvolver estudos na área do luto.

Ainda que o primeiro "Espaço do Luto" esteja a funcionar há poucos dias (na Rua de Cândido dos Reis, 27 B, em Aveiro), os coordenadores pensam replicar o projecto noutras cidades, até porque a Apelo tem já representações em vários pontos do país.

Este primeiro espaço não contou com qualquer tipo de apoio financeiro, na certeza de que "só quem puder é que paga as consultas de apoio e aconselhamento", garante José Eduardo Rebelo. Público

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