Lançado há três meses, e acarinhado pelo Conservatório de Música de Coimbra, projecto “Olhar a Música” é já um êxito no desenvolvimento pessoal de crianças com Trissomia21 e outras NEE.
A aula já vai no fim. Ao final de mais de 45 minutos de música e com a hora do almoço a aproximar-se, os pés começam a querer ficar irrequietos. Afinal, são crianças. Mas a professora Ana Paula Silva chama os pequenos à atenção: «um verdadeiro músico, não se comporta assim». Depressa, a concentração regressa, os pés voltam ao lugar e, à primeira, o “Dó/Sol/Dó” do xilofone coincide com o “Dó/Sol/Dó” do piano, no ensaio para a Dança do Pião que, um dia destes, será apresentada aos pais.
É assim todos os sábados no Conservatório de Música de Coimbra. Durante cerca de 45 minutos, os sons, o xilofone, o tambor, o piano, os movimentos, o ritmo, a pulsação e o tempo são instrumentos para «fazer mais feliz» dezena e meia de crianças diferentes, «especiais», que participam no projecto “Olhar a Música” que pretende integrar meninos e meninas com Trissomia21 ou qualquer outra necessidade educativa especial (NEE), através da música.
O desafio foi lançado pela Associação Olhar21, de Coimbra, e a direcção do Conservatório de Música de Coimbra abraçou-o com todo o carinho, tendo como parceira a Escola EB 2,3 Alice Gouveia, que já vinha desenvolvendo trabalho com os seus alunos neste sentido. Depressa, mais propriamente, em três meses, o “Olhar a Música” transformou-se num verdadeiro êxito, para alegria de todos os parceiros e, especialmente, para as crianças.
«São todos muito diferentes entre si mas têm tido grandes progressos. Há um mês, o que fizemos aqui hoje, seria completamente impossível», garante a professora Ana Paula Silva, sem conseguir esconder o orgulho nos seus “meninos” - a quem faz questão de abraçar e acarinhar no final de cada aula – e nos avanços que a música e o trabalho que vem fazendo com eles, já produziram em cada um. «É uma coisa impressionante», reforça, emocionada.
Poder mágico
Os estímulos são dados à medida das capacidades de cada um, até porque a turma inclui meninos sem qualquer deficiência. Ninguém terá de acabar este projecto a ser um exímio executante de um instrumento. O objectivo final é «que cada um seja mais feliz», resume Paulo Lucas, psicólogo, músico amador e voluntário neste projecto (assim como no que desenvolve com a professora Ana Paula Silva na Escola Alice Gouveia), convicto de que, «com este método» serão capazes de ajudar crianças “diferentes” «a alcançarem a sua “Gestalt”, a sua harmonia, a sua realização humana», integrados num mundo de “iguais”.
É impossível encontrar melhor veículo do que a música para alcançar este objectivo. «A música tem um poder quase mágico, entra por eles dentro, mesmo que eles não queiram, tem uma influência directa sobre eles, sobre os seus comportamentos», sublinha Ana Paula Silva, confiante de que, cada 45 minutos semanais de trabalho com esta dezena e meia de crianças, no âmbito do “Olhar a Música”, são um caminho para que estas apreendam mensagens tão importantes para o seu desenvolvimento como a do compromisso, a do empenho na tarefa e a do encorajamento.
Por isso, todos os sábados, durante 45 minutos, as conquistas são presenteadas com grandes salvas de palmas, que só podem arrancar sorrisos e as regras vivem lado a lado com as palavras de incentivo. «Foi verdadeiramente fantástico, Carolina!». «Foi “optimíssimo”, uma palavra que nem existe, Daniel!», incentiva a professora Ana Paula Silva.
O êxito do “Olhar a Música” “obrigou” já a que outra professora viesse a integrar a equipa para trabalhar directamente com crianças com outro tipo de necessidades, como autistas ou portadores de Síndrome de X Frágil. O trabalho está ainda muito no início, mas Eurídice Rocha acredita que concretizará o sonho de «pô-los a ler música, a marcar a pulsação». Para já, fala na experiência humana pessoal e essa «não pode ser mais positiva», remata.
Fonte: Diário de Coimbra
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