Santuário de Fátima organiza férias para mães e pais de filhos deficientes
Eulália tem 45 anos e desde que teve Alice, aos 26, não sabe o que é ter férias. A filha, com deficiência profunda, ocupa-lhe grande parte dos dias. Ainda mais desde que teve de deixar de trabalhar para tratar da jovem de 19 anos, pois os seus pais "já não conseguiam". Por isso, aproveitou uma iniciativa do Santuário de Fátima, que organiza "férias para mães de pessoas com deficiência", para descansar. "São as nossas primeiras férias", diz.
O objectivo da iniciativa é dar férias aos pais e aos filhos durante uma semana, recorrendo a voluntários para tratar das crianças. Assim, os progenitores podem entregar os filhos e dedicar-se por uns dias a eles próprios, ou acompanhar as crianças nesta semana de férias, contando, para isso, com a ajuda dos voluntários.
"Nunca tive oportunidade de pensar um bocadinho em mim", reconhece Eulália, que a meio da semana salienta a troca de experiências com outras mães como uma das principais vantagens da iniciativa. Por isso, diz, volta para casa "mais aliviada, pelo menos".
O mesmo acha Joaquina Barroso, que veio de Fafe com o filho José Ricardo, de 11 anos. "Conhecemos outras mães, trocamos ideias. Às vezes achamos que estamos mal e não temos ideia do que os outros passam", diz. É que, apesar de José ter autismo, consegue ser "mais ou menos autónomo", ao contrário de muitas das outras crianças presentes. E Joaquina sabe que conta com a ajuda dos dois filhos mais velhos para tomar conta da criança.
A semana de férias começou na segunda-feira e quinta foi dia de visitar a praia das Rocas, em Castanheira de Pêra. E a tradição, forjada ao longo das cinco edições da iniciativa, manda que toda a gente - os 15 voluntários, as oito crianças sozinhas e as dez que estão com os pais - experimente a piscina de ondas. Quando toca a sirene, que antecipa a chegada das primeiras ondas, a excitação é audível.
Flávia, ainda de cabelo molhado, conta como ofereceu menos resistência a este "baptismo" do que a mãe, Ermelinda. Chegaram há três dias, mas a semana tem sido "tão boa" que Ermelinda até se esqueceu do tempo. Em casa, no bairro social de Guimarães, a rotina é marcada pelas viagens casa-hospital, hospital-casa. "Aqui todos os dias temos actividades."
A semana é passada na casa dos Silenciosos Operários da Cruz, perto de Fátima, e é tudo organizado e pago pelo Santuário, explica a irmã Patrícia. "O essencial é mudarem de ambiente. Isso ajuda muito. E tentamos criar um ambiente de alegria e festa com coisas simples", explica. Tão simples como uma viagem à praia e um almoço de sandes e iogurtes à sombra da camioneta. Tornado um acontecimento pela boa disposição com que se distribui a comida e o afecto.
Apesar dos sacrifícios que estes casos exigem, e se traduzem em mais tempo e cuidados, para a irmã Patrícia "o amor que estes pais têm pelos filhos é tão grande e tão forte que faz com que a carga não seja assim tão pesada". E muitos só não vêm passar estes dias com eles porque "têm de trabalhar", explica.
Ermelinda aproveitou a oportunidade de vir com a filha, que, apesar dos problemas de saúde - que a "tornam num fardo pesadinho", diz com um sorriso -, é a coisa mais preciosa que tem. "Foi um sonho ser mãe e continua a ser", afirma.
"É uma experiência única, completamente especial", resume José Maria, que veio com a mulher e o filho João Miguel, que tem trissomia 21. Além desta semana, dedicada a pais com crianças até aos 20 anos, há outras duas para aqueles com filhos entre os 21 e 40 anos.
Fonte: DN
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