Paula Cristina Vítor, viúva há 15 anos, cuida sozinha de uma filha deficiente física e mental. Já passou por várias adversidades. Ontem, sexta-feira, surgiu mais uma: um corte de 150 euros no Rendimento Social de Inserção (RSI). “Já não tenho forças para mais”, chora.
Muitas centenas de pessoas receberam, esta semana, cartas da Segurança Social a pôr em prática as novas regras de apoios sociais, em vigor desde o início do mês. A afluência aos serviços aumentou nos últimos dias, com críticas, reclamações e pedidos de esclarecimentos. Ontem, na Segurança Social de Vila Nova de Gaia, a lista de espera, logo de manhã, era de mais de 100 pessoas.
Paula Cristina Vítor será, por isso, um rosto entre muitos. Com a agravante de ter em casa uma filha com Síndrome de Angelman. Uma deficiência motora e psíquica que a prende, há 19 anos, a uma cadeira de rodas. Não pode estar sozinha, brinca com coisas de bebé, morde-se nas mãos e grita a toda a hora. Vivem numa habitação social em Ramalde, no Porto.
Paula tem 41 anos, mas parece ter mais. Em Maio passado, a médica de família diagnosticou-lhe uma “grande debilidade física”, incapacidade para tratar da filha e pedia apoio domiciliário urgente para aquela família. Nada. E ontem recebeu mais uma rasteira:o fim do apoio extraordinário, que servia para as fraldas de Mariana (menos 95 euros) e uma redução de 45 euros no apoio social.
Paula tem de gerir, agora, um orçamento de 600 euros que inclui, para além do RSI, pensão de sobrevivência (pela viuvez) e abono de família. O cheque é magro e tem de esticar todos os meses para os encargos normais (renda, luz, água), mais a alimentação especial da filha – como os iogurtes de farmácia a três euros cada embalagem de quatro– para as fraldas e medicamentos. “Nunca falho, mas não sei como vou fazer agora”, soluça, misturando o desespero com a revolta.
Só a mensalidade de Mariana na APPACDM (Associação de Pais e Amigos de Cidadãos Deficientes Mentais) custa 80 euros. “Só frequenta as aulas porque não tenho dinheiro para as actividades”, revela a mãe, que trabalhou como doméstica vários anos. A debilidade física e o grau de dependência da filha impediram-na de continuar. “Dêem-me alternativas porque não consigo fazer melhor”, suplica
Fonte: JN
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